FUTEBOL À CANETA

Há quarenta anos, o jornalismo esportivo perdia
Nelson Rodrigues, dono da realeza de Pelé

Ana Flávia Oliveira e Talyta Vespa

Seleção de brasilidades

Em uma época em que a seleção brasileira era majoritariamente formada por atletas que atuavam em clubes nacionais, a identificação da torcida era maior. E Nelson caminhava do macro ao micro, entre times e a própria seleção.

O Brasil não era a seleção, e Nelson bem sabia disso. Não existiria seleção sem os talentos regionais, sem os craques de cada time. Como bom observador, ele desenvolvia com maestria o papel de cada um no sucesso do Brasil.

Quarenta anos após sua partida, o Brasil vive uma escassez de craques em atividade dentro dos clubes brasileiros. Antes mesmo de criarem uma conexão firme com a torcida, jovens talentos despontam na Europa. Ruy Castro concorda que existe menos apego do torcedor à seleção brasileira pela pouca identificação com os próprios jogadores.

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Em 1964, ano do tetracampeonato brasileiro do Santos, Nelson Rodrigues escreveu "O mais carioca dos times". Na crônica traça um paralelo entre o time de Pelé, Pepe e Coutinho e o peso do Maracanã para o futebol brasileiro. Para Nelson, o estádio carioca era a casa do futebol. O Santos, à época, o protagonista dele. O jornalista não se importou ao cravar: o Santos é o melhor time do mundo.

"Até a Vila Belmiro soa como um exílio porque o Santos nasceu no lugar errado. Sua verdadeira casa é o Maracanã. Ah, se ele conseguisse naturalizar-se carioca - seria uma equipe imbatível e eterna".

Nelson misturava a realidade com a literatura fantasiosa. Era difícil de separar o fato do floreio. A alguns ídolos, ele entregava novos rostos - que poderiam soar muito mais interessantes aos olhos de quem vê e torce. Eram os jornalistas que pincelavam a personalidade dos atletas antes de a internet chegar para cumprir o papel.

"Cronistas como Nelson e seu irmão Mário Filho criaram verdadeiras lendas em torno de certos jogadores. O Garrincha da lenda, por exemplo, não era o da vida real. O da lenda era muito mais feliz", diz Ruy.

Reportagem - Ana Flávia Oliveira e Talyta Vespa

Narração - Ana Flávia Oliveira

Edição - Pedro Ivo Almeida

Design - Marcos de Lima

Motion design - Santhiago Botture