FUTEBOL À CANETA

Há quarenta anos, o jornalismo esportivo perdia
Nelson Rodrigues, dono da realeza de Pelé

Ana Flávia Oliveira e Talyta Vespa

Modéstia à parte

Dono da alcunha "complexo de vira-lata", o escritor criticava a modéstia em excesso de jogadores, imprensa e torcedores brasileiros. O termo atemporal se consagrou junto à obra do artista e continua atualíssimo até os dias de hoje.

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Foi Nelson quem criou o atualíssimo termo "complexo de vira-latas" em crônica de mesmo nome, publicada no Manchete Esportiva em 1958. Ele se referia ao futebol e à pouca valorização dos próprios jogadores em relação às suas performances. O termo se fincou como uma realidade no Brasil e ultrapassou as barreiras do futebol. Calhou para o comportamento brasileiro de modo geral.

Pelé sempre volta à pauta de Nelson, junto às críticas estrangeiras a respeito do divino. Em 1966, na narrativa de "Somos burros, burríssimos", publicada no jornal O Globo, o escritor reagiu a mais uma blasfêmia: "Não chegam aos pés de Pelé".


Nelson Rodrigues vivia, trabalhava, torcia e escrevia com paixão. Lhe sobrava paixão! O futebol, que não deve ser vivido nem apreciado sem paixão, lhe tirava do prumo.


"A paixão era uma constante em tudo naquele tempo. O Nelson dizia que "sem paixão não se chupa nem um chica-bon" - Ruy Castro


E era fora do prumo que o jornalista desenvolvia suas melhores narrativas, as que arrebataram e continuam arrebatando os que amam e os que odeiam. Há quarenta anos, o Brasil perdia a figura que revolucionou o jornalismo esportivo com literatura em um legado que nunca morrerá.

Reportagem - Ana Flávia Oliveira e Talyta Vespa

Narração - Ana Flávia Oliveira

Edição - Pedro Ivo Almeida

Design - Marcos de Lima

Motion design - Santhiago Botture