Para facilitar a leitura dessa reportagem, a partir daqui os clubes que disputam a Série A do Brasileirão masculino serão chamados de times de camisa. É assim que as jogadoras se referem aos clubes celebrados e que agora chegam ao futebol feminino. Como a obrigatoriedade de criação de times femininos vale a partir de janeiro, os times de camisa têm pouco mais de um mês para se enquadrar nas novas regras. Era de se esperar que os clubes estivessem prontos, os locais de treinamento e mando de jogos definidos e os elencos montados. Nada disso.
Os times podem até ter camisa, mas não têm planejamento. A maioria deixou para última hora. Usando aqueles já classificados para a Copa Libertadores de 2019 como exemplo, dois deles ainda não sabem nem mesmo que modelo de projeto vão seguir. O UOL Esporte apurou que Palmeiras e Cruzeiro ainda estão fazendo reuniões para definir se farão parcerias com um time feminino já existente ou se montarão uma estrutura própria.
O Flamengo, semifinalista do Brasileirão feminino de 2018, por exemplo, tem parceria com a Marinha. Internacional e Grêmio montaram equipes próprias, que já disputaram a Série A2 do Brasileirão deste ano. Já o São Paulo está criando um time próprio - a peneira de 450 meninas mostrada no início dessa reportagem é o ponto inicial do projeto tricolor. Na última temporada, por exemplo, o prazo de entrega de documentos e planejamento dos clubes junto à CBF se encerrou em outubro do ano anterior. Até agora, nem sinal do licenciamento para 2019. Ou seja, os clubes ainda não obtiveram a licença para disputar oficialmente o campeonato.
Rosane, atacante do Santos, revela que até o momento a maioria das atletas não sente movimentação maior do mercado. Não aumentaram nem as propostas, nem as sondagens. A falta de organização vai ter consequências. Com muitos clubes procurando jogadoras ao mesmo tempo, há expectativa de inflacionar o mercado.
Nem todos acreditam que os clubes farão contratações. Thaís Picarte é goleira do Santos e projeta que muitas equipes apostarão em parcerias. A atleta avalia que será um movimento inicial e de pouca duração – para o bem. Argumenta que se um time de camisa começar a tomar vários 7 a 1, incluindo em clássicos, haverá tanta pressão da torcida que não haverá jeito que não investir. "Ficará muito difícil que o futebol feminino não cresça".
Para engrenagem funcionar, porém, é necessário que CBF e Conmebol não aliviem nas punições. Até a exclusão de competições estão previstas nas regras. "Se não punir, desanda", resume Rosane. À reportagem, porém, a CBF não confirmou como será a fiscalização e quais serão as punições para quem não cumprir essa regra.