Vovô Nenê

Cheio de gás aos 41 anos, Nenê é exemplo para molecada e defende Diniz na seleção

Bruno Braz e Marinho Saldanha Do UOL, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre Fernando Alves/Divulgação

Poucos jogadores chegam aos 41 anos atuando em alto nível. Nenê chegou. Mas para isso precisou abrir mão de muitas coisas, tomar cuidados que vão além do campo e dos momentos em que está em atividade. Se tornar 'vovô' e exemplo para a molecada teve seu preço.

Mas isso não quer dizer que o experiente armador tenha deixado de viver as coisas boas que o futebol lhe ofereceu. Ele se sentiu em um cenário de filme quando morou em Mônaco, subiu ao palco com Snoop Dogg, foi vizinho de celebridades como Galvão Bueno e Felipe Massa e até teve uma treta com um antagonista potente em Paris: Ibrahimovic.

Nenê viveu. Hoje já perto da hora de pendurar as chuteiras, ele tenta recolocar o Juventude na Série A do Brasileiro. Então quem sabe adiar a parada... Mesmo que já tenha preparado caminho para atuar no Vasco — clube com o qual possui ligação muito forte — agora fora das quatro linhas.

Quem já viveu tanto no futebol tem autoridade para opinar. Para ele, não é o momento do Brasil apostar em um técnico estrangeiro na seleção: o nome dele para comandar a amarelinha é Fernando Diniz.

Fernando Alves/Divulgação Fernando Alves/Divulgação
Arquivo Pessoal

Futsal, Jundiaí, Palmeiras, mundo

Nenê teve origem no futsal, onde ganhou o apelido que o acompanha até hoje. Jogava com os mais velhos e se acostumou a pedir faltas a cada drible encerrado com jogada mais dura. O 'choro' pela falta lhe batizou para a vida.

Dali pro Etti Jundiaí foi um passo. E logo na estreia dois gols marcados mesmo entrando no segundo tempo, com apenas 18 anos. Em seguida veio o Palmeiras, e ainda muito jovem viveu uma temporada complicada em que o time acabou rebaixado. Nenê ganhou maturidade e lições, chegou à seleção e não reclama do que lhe fez crescer.

"Não foi só difícil, foi um momento para mim de muito aprendizado, de sonho realizado. Quando você é jogador de futebol, você é menino, a primeira realização seria você se tornar profissional, porque realmente é uma coisa muito difícil, depois jogar num time grande, depois, quem sabe, uma seleção, e depois ir para a Europa. Aconteceu exatamente como eu estava sonhando, por um clube grande, o Luxemburgo, que me contratou naquela época, eu fui muito feliz em ter participado daquele grupo com Marcos, Arce, Zinho, tantos jogadores consagrados com quem eu aprendi muito", contou.

"O grupo era muito bom. Até hoje não entendemos como não deu certo, porque não tinha nenhum tipo de problema, nenhum tipo de coisa, assim, além do normal. Acabei sendo convocado para a seleção pré-olímpica quando eu estava lá. Não foi só um momento difícil, realmente foi difícil no final, mas durante o ano eu tive momentos muito felizes e de sonho realizado, e de um aprendizado muito grande, por estar ainda muito cedo na minha carreira e já ter participado de um grupo tão experiente", completou.

Carreira de sucesso

  • Times

    Paulista, Palmeiras, Santos, Mallorca (ESP), Alavés (ESP), Celta de Vigo (ESP), Mônaco (FRA), Espanyol (ESP), PSG (FRA), Al-Gharafa (QAT), West Ham (ING), Vasco, São Paulo, Fluminense e Juventude.

    Imagem: Daniel RAMALHO/VASCO
  • Principais feitos

    Campeão Francês (PSG), Campeão Carioca (Vasco), Vice brasileiro e da Libertadores (Santos), melhor jogador da França (2010/2011), artilheiro do Francês (2011/2012) e artilheiro da Copa do Brasil (2020).

    Imagem: Reprodução/Instagram

Nenê revela segredo da longevidade

Meia Nenê conta como se preparou para jogar em alto nível aos 41 anos

Heber Gomes/AGIF

Retorno programado

Antes de deixar o Vasco rumo ao Juventude, Nenê deixou engatilhado com o Cruz-maltino um acordo para assumir uma função executiva no clube após se aposentar. O meia tem feito cursos da CBF não só para treinador como também para executivo, além de um da Uefa de transição, que aponta as principais valências do aluno.

Até o momento, Nenê está mais propenso a assumir um cargo que esteja mais próximo do campo. Como costuma dizer, ele está 60% para Maurício Barbieri (treinador) e 40% para Paulo Bracks (diretor-executivo).

"Acho que vai continuar nessa porcentagem. Vou querer ficar mais perto do campo, do grupo. Acho que precisa de uma pessoa mais experiente, que passou por aquele espaço. Não só uma pessoa que está ali para comandar, ou que não teve essa experiência como jogador. Isso daí é uma coisa que acredito que possa ajudar muito. Então, minha ideia é mais para o campo, mais do lado do treinador do que na gestão", disse.

Nenê vai voltar ao Vasco quando se aposentar

Meia conta que irá exercer função fora de campo no Vasco após aposentadoria

Reprodução

Snoop Dogg, Galvão, treta com Ibra e 'filme' em Mônaco

Sua passagem pelo Mônaco, entre 2007 e 2010, foi sem dúvida a mais glamourosa da carreira. Conhecido por seu estilo luxuoso, o principado francês é um balneário para estrelas mundiais da TV e da música, algo que fez com que Nenê se sentisse "num filme".

"Parece que você está num filme. Você vê o filme do James Bond, aquele no Cassino de Monte Carlo, e parece que a gente está lá. Você fica deslumbrado com tudo bonitinho, no lugar, não tem sujeira na rua, artista para todo lado... Você está num restaurante jantando e, daqui a pouco, está do seu lado o Bono Vox [vocalista da banda inglesa U2], o Jay-Z [rapper americano]... E é tipo assim, normal [risos]", relembrou.

Por lá, Nenê também construiu uma grande amizade com o locutor Galvão Bueno:

"O Galvão era meu vizinho, o Felipe Massa [ex-piloto] também. A gente morava no mesmo condomínio, levava a molecada para jogar bola. Eu ia assistir à corrida do Felipe em vários circuitos.

Já quando foi jogador do PSG, Nenê subiu ao palco com ninguém menos do que o rapper Snoop Dogg.

"Foi em Paris, eu dei uma camisa do PSG para ele de presente, e ele pediu para eu subir no palco com ele. Em Paris sempre tinha show de vários artistas mundiais, e acabávamos sendo convidados", disse.

Também no PSG, Nenê conviveu com o polêmico atacante Ibrahimovic. Na época, jornais franceses relataram que Ibra solicitou a camisa 10 que o meia usava, e que também ocorreu uma "treta" entre os dois em um treino. O brasileiro negou a primeira situação, mas confirmou a segunda:

"Sou muito competitivo e ele também. Era num joguinho de cinco contra cinco e tal, acabamos disputando uma bola ali, uma coisa mais quente, mas foi só do momento, normal, nada demais. Ficamos na boa depois disso. Nunca tive problema com ele, nem ele comigo, nunca falamos de uma maneira desrespeitosa. Às vezes acontece até com um amigo, com a família, ou na pelada, que a gente briga, discute. Foi mais ali do momento do treino".

Nenê foi vizinho de Galvão, é parceiro de Neymar e viveu 'em filme'

Jogador conta sobre suas passagens por Mônaco, Paris e as amizades na bola

Nenê teve treta com Ibrahimovic na França

Nenê conta como foi a treta que teve com Zlatan Ibrahimovic, no PSG

Reprodução/Instagram

Tropa do Vovô

Mesmo já com 41 anos, Nenê segue gostando de conviver com os mais jovens do elenco. No Vasco, tal hábito fez render a expressão "Tropa do Vovô", criada pelos próprios jogadores e adotada pelo meia.

O atacante Gabriel Pec, de 22 anos, era seu fã quando criança e inclusive tem uma foto bem pequeno ao lado de Nenê, quando o jovem ainda era das primeiras categorias de base do clube.

"É uma coisa importante para mim, porque eu estou sendo um espelho para eles. Tem jogadores com a idade dos meus filhos. O futebol é muito louco por causa disso", disse Nenê, reforçando a importância de ser um exemplo aos mais novos:

"Não só falando, mas no dia a dia também, vendo meus atos, se eu treino de verdade, se eu estou no jogo, se eu estou concentrado, se eu estou agindo conforme o que eu estou falando. Essas coisas fazem com que eles se sintam realmente confiantes em acreditar no que eu estou falando. É um legado que eu prezo muito".

Vovô Nenê é espelho para jogadores mais jovens

Aos 41 anos, Nenê conta como é ser exemplo para jogadores mais jovens

Mailson Santana/Fluminense FC

Diniz na seleção

Com tanta experiência no futebol, Nenê se sente confortável para opinar sobre qualquer assunto. Até mesmo os mais polêmicos.

Ao contrário de muita gente do mundo do futebol, ele não acredita que seja o momento da CBF escolher um treinador estrangeiro para comandar a seleção.

"Eu acho que não tem muita diferença [entre treinadores brasileiros e estrangeiros]. O brasileiro está muito qualificado, realmente tendo os mesmos tipos de cursos que um treinador de fora. Acho que vai da pessoa querer aprender mais", disparou.

E na hora de escolher quem ele gostaria de ver comandando a seleção, Nenê também não se omite. Para ele, o melhor candidato é Fernando Diniz, com quem já trabalhou diversas vezes.

"O Diniz é um cara que estudou aqui e estudou fora, fez o curso da Uefa como todos os outros treinadores da Europa. Eu acho ele um cara sensacional, seria de uma perda muito grande para o Fluminense, mas eu iria de Diniz [na seleção]. Ele tem de ser o primeiro nome, o plano A, na minha opinião. E o Diniz realmente se encaixaria muito bem na seleção. É um cara ofensivo, entendido, inteligente, que tem uma gestão excepcional com os jogadores. Eu acho que isso é primordial para o futebol", acrescentou.

Nenê defende Fernando Diniz na seleção

Meia ex-Vasco, atualmente no Juventude, entende que a seleção brasileira deve ser treinada por um brasileiro

Fernando Alves/Juventude

Last Dance em Caxias do Sul

Nenê se prepara para sua última dança. O Juventude chegou em um momento em que a aposentadoria já era tema tratado abertamente pelo jogador. Mas a decisão já não é tão firme assim.

"Futebol é muito dinâmico, as coisas mudam muito rápido, vai depender muito de como estarei me sentindo... Eu não posso descartar de, sei lá, quem sabe jogar mais um ano. Se eu estiver realmente ajudando o clube, também é uma possibilidade", disse sorrindo quando questionado sobre a chance de seguir no Juventude caso consiga o acesso.

O time da serra gaúcha apareceu por intermédio do técnico Pintado, que conversou com Nenê e o convidou para mais um desafio, prontamente aceito. O treinador já não comanda a equipe, mas Nenê segue firme como capitão do Ju, lidando com a arrancada do time e o frio gaúcho.

"No começo foi complicado, teve uns dias que tava muito frio. Aqui é serra, né, está sempre passando nevoeiro. Teve uns dias que eu falei: Caraca, meu, parece que eu tô na Europa", sorriu.

Nos últimos dois jogos, Nenê marcou um gol e deu duas assistências. Ao todo são oito jogos, quatro gols e três assistências pelo Juventude. Quase uma participação em gol por jogo. Realmente está sobrando gás para o vovô Nenê.

Nenê vive último desafio da carreira no Juventude. Será que para?

Nenê vive última temporada da carreira no Juventude, mas deixa futuro em aberto e pode seguir jogando

Topo