Dois meses depois de ver o filho morrer na sua frente, após se jogar do sexto andar do prédio onde morava, o jornalista Chico Lang saiu de casa para resgatá-lo de uma caverna, onde ele era mantido como refém por seres extraterrestres.
Para salvar Paulo, Chico precisava ir a uma conferência em um hotel no bairro da Liberdade, no centro de São Paulo, onde aprenderia como combater os seres que produzem a matéria escura, a misteriosa substância que compõe a maior parte do universo. Eram esses seres que mantinham cativos Paulo e os dez jogadores do Flamengo que haviam morrido em um incêndio no Ninho do Urubu naquela mesma semana.
Era fevereiro de 2019, e Chico Lang estava convencido de que a morte era uma invenção dos extraterrestres.
Foi até o hotel da conferência dirigindo o carro Peugeot que ele havia comprado uma semana antes por R$ 20 mil, um dinheiro que ele não tinha em conta — mas conseguira um empréstimo a ser pago nos anos seguintes. Quando Chico chegou ao hotel, o recepcionista logo reconheceu o homem que está há mais de 30 anos fazendo comentários sobre futebol na televisão. O que o funcionário não entendeu foi aquela história de extraterrestres, sequestro, matéria escura.
A equipe do hotel telefonou à TV Gazeta, onde Chico Lang trabalha desde 1990. O produtor Primo Ribeiro foi resgatá-lo. Ao entrar no prédio de nove andares na Av. Paulista, Chico ainda não tinha percebido que algo muito errado estava acontecendo dentro de sua mente. O médico da emissora achou melhor interná-lo. No hospital Nove de Julho, os médicos perceberam que o jornalista de 67 anos estava vivendo um surto psicótico, desencadeado, entre outras coisas, pelo suicídio do filho de 23 anos. Chico ficou na UTI durante cinco dias e logo em seguida passou outros quinze no hospital psiquiátrico Santa Mônica.
Ele precisou juntar os fios soltos de sanidade para se recuperar do maior golpe que a vida lhe pregara até então. A perda de um filho talvez seja a maior dor que qualquer pessoa pode sentir. Mas Chico precisava de todas as forças para elaborar e aceitar aquela dor. Porque nos meses seguintes haveria outras.