Em 2018, um torneio de skate realizado em Itajaí (SC) virou assunto nacional. Enquanto o campeão masculino ganhou R$ 18 mil, a vencedora do feminino levou R$ 5 mil. A discrepância gerou críticas que extrapolaram a bolha da modalidade.
Os organizadores argumentaram que a premiação refletia uma "realidade" discrepante: 23 homens se inscreveram no torneio, 22 deles profissionais, enquanto o feminino tinha apenas dez atletas, a maioria amadoras —e metade dessas mulheres não tinha nível técnico para um evento daquele porte.
Na arquibancada, em meio a um público essencialmente masculino, Maitê Demantova, então com sete anos, tinha seu primeiro contato com o skate. Ali ela viu, de perto, Yndiara Asp, Dora Varella e Isadora Pacheco, que viriam a defender o Brasil no skate park em Tóquio-2020. "Estavam as meninas ali e eu pensei: eu também posso chegar no nível delas", conta.
A estrutura do evento foi desmontada, mas Maitê continuou indo diariamente à pista recém-inaugurada. Aprendeu a andar, depois a dropar e passou a arriscar manobras. Treinava todos os dias por várias horas. Tinha encontrado sua tribo.
Maitê tem hoje 11 anos e foi uma das 30 meninas a participar da etapa de São Paulo da nova Liga Amadora de Bowl (LAB). Antes de ser possível medir o impacto gerado pela participalção de Rayssa Leal nas Olimpíadas de Tóquio, outros fatores já mudaram a realidade do skate feminino da água para o vinho. Ou para suco de uva, já que (quase) todo mundo aqui é menor de idade.