Os tênis brancos já absorveram a cor alaranjada do saibro. Deslizam, derrapam e sustentam um corpo de costas arqueadas e braços compridos, embebido em suor. "Venho aqui só para me estressar" é o desabafo que sucede o saque errado. E é da boca para fora. A quadra de tênis, na verdade, é seu oásis. Seu templo de meditação. Sua terapia para fugir do estresse de um trabalho intenso, aos 46 anos de idade.
Do outro lado da quadra, o adversário tem apenas 21 anos e se chama Felipe. É o melhor jogador de tênis do clube. Tem até patrocínio para disputar campeonatos. E corre muito. Mas há coisas que só se resolvem com a experiência. Foi assim que um voleio desmontou qualquer chance de Felipe reagir. A bola, cheia de curva, matou o garoto, que caminhou incrédulo para conferir se a marca na quadra terrosa indicava, de fato, um ponto sofrido.
"Achou que não ia, né? Não adianta olhar, não, foi dentro!". Rogério grita e sorri de euforia, feito um menino. Era óbvio que o tênis não o estressava. O problema era perder. O joelho esquerdo, calejado, doía mais. A quadra ficava maior. Felipe, mais rápido. Depois do ponto de classe, tudo se inverteu. Rogério tem certeza que conseguiu desestabilizar o rival.
A vitória por 6-4, em pouco mais de uma hora de jogo, o deixou sem fôlego. Foram necessários alguns minutos para reajustar a respiração pesada. A garrafa de água pareceu sumir em um gole. O adversário derrotado chegou para comentar os lances da partida, a primeira entre eles. A partir de agora, eles serão parceiros em um torneio de duplas. É preciso deixar tudo ajustado.
Outros colegas de clube trocavam ideias regadas a drinks. Atrasaram a volta para casa, a contragosto das esposas, para ver a improvável vitória de Rogério, aplaudidíssimo. Pouco depois, Rogério recebe uma nova ovação. Um grupo na calçada, do lado de fora do clube, estica o pescoço para encontrá-lo pela grade e ganha a noite de sexta-feira com fotos e autógrafos.
O tenista amador é uma divindade em Fortaleza.