"Esse campeonato foi um assombro... uma coisa, assim, horrorosa de se ver. A forma como foi conduzida a competição, como foi feita, porque foi feita. Não é o ideal", diz Euller, pensativo, ao conceder entrevista ao UOL Esporte. "Mas tivemos que passar por tudo isso, a equipe dentro de campo foi provando o seu valor e o título veio com a imensa satisfação".
O assombro ao qual o ex-atacante se refere é a Copa João Havelange, uma edição alternativa do Campeonato Brasileiro, única e esdrúxula, que deu seu pontapé inicial há 20 anos, no dia 29 de julho de 2000. Um timaço do Vasco da Gama que, além de Euller, tinha também Romário e dois Juninhos —o Paulista e o Pernambucano—, levantou a taça, mas a caminhada rumo ao título virou apenas uma das várias histórias que cercaram a polêmica competição.
Duas décadas depois, a João Havelange sobrevive ao tempo, imponente como um farol, um brilhante lembrete dos limites da falta de organização do futebol brasileiro, e um testamento sobre o quão insólitas podem ser as soluções criadas para enfrentá-la. Um feito que, desde então, não foi igualado, ainda que o Brasileirão tenha tido outros momentos de turbulência nos anos que se seguiram.
Considerado por muitos o maior tapetão já costurado e puxado pela Confederação Brasileira de Futebol e seus filiados, o torneio reuniu 116 clubes de várias divisões, divididos em quatro módulos, com grandes diferenças de regras e formatos entre cada um deles. Se por um lado consagrou o Vasco cheio de estrelas, a disputa foi palco de trajetórias de contos de fadas de equipes menos tradicionais e adicionou várias novas páginas ao folclore do futebol brasileiro.