Tem Copinha, sim

Palmeiras goleia Santos na final, ganha título inédito e coroa seu prestigiado projeto de base

Diego Iwata Lima Do UOL, em São Paulo Marcello Zambrana/AGIF

A Copa São Paulo é o carimbo que as categorias de base do Palmeiras ainda não tinham. Agora têm.

Jogando em um Allianz Parque cheio em horário matutino, a equipe da casa goleou o Santos por 4 a 0, um massacre, e conquistou um título inédito para coroar seu projeto com a garotada. Ao mesmo tempo, riscou um item precioso na lista de provocações dos rivais —e não é que eles lamentaram?

A Copinha é uma competição inchada, há equipes com nível técnico baixo, campos esburacados, estádios avariados e inseguros e muita chuva. Mas o torneio também é, de longe, o de maior tradição e visibilidade no Brasil. Algo que tem inegável peso para atletas que precisam, mais do que tudo, se apresentar.

Vencer a Copinha é ganhar a "Copa do Mundo" da categoria, como definiu o lateral alviverde Gustavo Garcia. E o Palmeiras, sem dúvida, o melhor departamento de base do Brasil nos últimos sete anos, demorou 53 edições para levantar o troféu.

Ao fazê-lo, enterrou um histórico de decepções e derrotas, ao mesmo tempo em que fez reverência a revelações importantes mas esporádicas, como Marcos, Vagner Love e Gabriel Jesus.

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Um coletivo de estrelas

O técnico Paulo Victor Gomes retornou ao Palmeiras em outubro, vindo da seleção brasileira medalha de ouro na Olimpíada de Tóquio —ele foi auxiliar do treinador André Jardine. Antes da equipe nacional, havia comandado o Palmeiras sub-17 entre 2016 e 2017.

Coube a ele dosar os minutos e administrar um time cheio de nomes promissores. A tarefa foi bem executada. A ponto de a estrela da companhia ser um garoto de 15 anos que jogou menos da metade dos minutos da equipe.

Endrick pode ter mais destaque, mas não está sozinho neste time. Garcia, Vanderlan, Fabinho, Bicalho, Giovanni, Kevin, Gabriel Silva e Vitinho, entre outros, estão prontos para tentar cavar uma vaga no elenco de Abel Ferreira, que até já escalou uma boa parte deles.

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF

Da Disneylândia para Guayaquil?

Ao seu modo às vezes ríspido, Abel Ferreira descartou qualquer hipótese de Endrick disputar o Mundial de Clubes em fevereiro. Em vez de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, sugeriu que o Palmeiras desse a ele e à sua família uma passagem os Estados Unidos para que ele pudesse curtir a Disneylândia.

O fato é que se uma excursão para o Oriente Médio está descartada para o próximo mês, o resto do ano ainda é um livro aberto para o fenômeno palmeirense.

A ponto de se imaginar se o destino do jogador em outubro não será Guayaquil, onde acontecerá a final da edição deste ano da Libertadores. Um time que faz duas finais pode muito bem vir a fazer uma terceira. E, até lá, Endrick vai ter provavelmente desfrutado de alguns minutos com a equipe de Dudu, Veiga e Gustavo Gómez, sem contar a convivência diária com essa turma toda nos treinamentos.

Em julho, o camisa 9 campeão da Copinha completa 16 anos e pode assinar contrato profissional, ficando liberado para o Campeonato Brasileiro e, por consequência, para a Libertadores.

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Paulo Nobre dita a mudança

Paulo Nobre encontrou terra quase arrasada em todo o clube no ano de 2013 quando chegou à presidência alviverde. As categorias de base não eram exceção. Embora alguns bons nomes pipocassem, o trabalho era errático. Como sempre fora: o Palmeiras carregava a tradição de comprador de jogadores, não de revelador.

Em 2014, com o diretor Erasmo Damiani e o técnico Narciso, uma semifinal na Copinha traça o caminho para a virada de 2015, quando João Paulo Sampaio chega para capitanear o departamento na vaga de Damiani, que foi para a CBF.

"O Paulo [Nobre] queria que o Palmeiras voltasse a ser respeitado no profissional, e que a base começasse ali a ser preparada para dar a sustentação no futuro", relembrou-se Sampaio, em entrevista ao UOL Esporte.

Ali começou a rota que chega agora ao seu momento mais midiático, mas não necessariamente o maior.

Desde 2015, o Palmeiras conquistou mais de 100 títulos somadas todas as categorias, incluindo o bicampeonato Mundial Sub-17 (2018-2019), Copa do Brasil (2019) e Campeonato Brasileiro (2018) Sub-20 e o inédito pentacampeonato Paulista Sub-20 (2017 a 2021).

E, agora, uma Copa São Paulo.

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF
Marcello Zambrana/AGIF

Era alívio ter Palmeiras no grupo: duas finais em 34 anos

Houve uma época em que os adversários comemoravam quando tinham o Palmeiras no seu grupo nos campeonatos de base.

É um a menos."
João Paulo Sampaio, ex-jogador do Vitória nos anos 90, hoje diretor da base palmeirense, diz como os rivais pensavam

O Palmeiras fez duas finais da competição. Em 1970, na segunda edição, quando, além do Alviverde, apenas Corinthians, Santos e Juventus participaram do torneio, o Alviverde de Veludo, Cajú, Daércio e Luiz Carlos perdeu para o Corinthians de Wladimir e Gatãozinho: 4 a 2.

Na segunda decisão, em 2003, o time de Deola, Alceu, Edmilson e Vagner Love perdeu nos pênaltis para o Santo André do atacante Nunes que, ao imitar um porco de modo provocativo, ao fim do jogo, quase incitou uma tragédia: torcedores do Palmeiras tentaram invadir o campo estourando um portão no Pacaembu.

Juca Varella/Folhapress
Vagner Love foi lançado pelo Palmeiras na Copinha de 2003 e logo assumiria protagonismo no profissional

Revelações mesmo sem título

Muito embora a conquista só tenha vindo em 2022, o Palmeiras teve sua parcela de boas revelações na competição.

A mais recente, antes dessa safra de Endrick, Giovani, Garcia e Gabriel Silva, havia sido o atacante Gabriel Jesus. O jogador do Manchester City e da seleção chegou à semifinal da edição de 2015. Fez um gol na derrota por 2 a 1 ante o Botafogo-SP, que viria ser vice contra o Corinthians do goleiro Caíque

O interminável Vagner Love, que assinou, neste ano, contrato para defender o Midtjylland (DIN), foi o artilheiro do Palmeiras em 2003 e depois explodiu com a camisa do time — mas também com a do CSKA (RUS), do Flamengo e do Corinthians. Pelo rubro-negro, fez o gol que selou a queda do Palmeiras para a Série B do Brasileiro, em 2012.

No time derrotado pelo Fla de Love, estava em campo o atacante Vinícius, que no ano seguinte, faria uma aparição relâmpago de volta à base.

Com dez jogos e 12 gols pelos profissionais do Palmeiras, numa estratégia kamikaze pelo título, o jogador de 19 anos foi convocado pelo técnico Narciso para a Copinha de 2013 ao lado do meia Bruno Dybal e do zagueiro Luiz Gustavo, que também haviam participado da campanha da queda no profissional na temporada anterior.

O time de Narciso, pai do zagueiro campeão de 2022 Ruan, parou na semifinal, derrotado pelo futuro campeão Santos, por 3 a 2. Vinicius Silvestre, hoje goleiro reserva do profissional, era o camisa 1 daquela equipe.

O goleiro Marcos (1993) e o volante Amaral (1993) também apareceram na Copinha. O goleiro ainda demoraria seis anos para se firmar como titular no Palmeiras. Já Amaral conquistou um lugar na equipe que tiraria o Palmeiras da fila sem títulos no profissional, com o técnico Vanderlei Luxemburgo, naquele mesmo ano.

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF

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