A dívida com a Caixa pela construção da Arena começou em R$ 400 milhões e subiu para R$ 700 milhões com os juros, pelos cálculos feitos pela antiga gestão em novembro. A estratégia da quitação se divide em duas partes. A primeira é o repasse dos R$ 300 milhões da venda dos naming rights do estádio para a Hypera Pharma, detentora da marca Neo Química. A segunda é usar uma carteira de títulos de dívidas da própria estatal, comprados com desconto.
Resumindo: o Corinthians pagaria um valor muito menor pelos papéis, mas os repassaria para a Caixa pelo valor "cheio", que é o que o banco deve, de fato, pelo FCVS. Com isso, as dívidas se "anulariam".
Como dito no começo do texto, a proposta prevê um deságio de 90%. Na prática, isso significa que o Corinthians quer pagar, pela carteira de títulos do FCVS, cerca de 10% do valor total da dívida, representando pouco mais de R$ 70 milhões — podendo chegar a R$ 90 milhões com juros.
Esses títulos foram, inicialmente, descritos como precatórios, mas são referentes ao FCVS, um fundo criado em 1967 pelo extinto BNH (Banco Nacional de Habitação) para ser uma espécie de garantia de pagamento para financiamentos habitacionais. O FCVS era "contratado" por quem adquiria um imóvel para arcar com diferenças residuais de correção e, assim, assumia o saldo devedor. Só que a conta não fechou e o fundo não conseguiu arcar com todos os contratos, o que gerou um direito de crédito a bancos e agentes. Quando o BNH foi incorporado pela Caixa, em 1986, a estatal herdou a dívida.
O que o Corinthians quer é comprar esses créditos para depois "barganhar" a sua própria dívida com a Caixa. Como os proprietários de tais créditos estão há anos sem receber, o valor de mercado do título cai. Por isso, credores da estatal venderiam esses papéis com desconto ao clube para receber pelo menos uma parte do dinheiro antes do esperado. É a mesma lógica da compra de precatórios —papéis do governo com admissão de dívidas que os credores levam décadas para receber.
Esses títulos seriam repassados integralmente ao banco em nova operação, permitindo a quitação.
Para realizar a compra, o clube provavelmente precisará fazer um novo empréstimo. Porém, nos cálculos da antiga gestão corintiana, ele seria muito menor do que a atual dívida com a Caixa, e sem os juros considerados altíssimos. Nesse cenário, a eventual venda de ações da Arena poderia ajudar no pagamento do empréstimo, e o clube ficaria livre para receber com 100% da bilheteria do estádio.
O UOL entrou em contato com a Caixa sobre a proposta do Corinthians para a quitação da dívida, mas a estatal preferiu não responder às dúvidas da reportagem por ainda estar analisando o caso. Em 30 de janeiro, disse que ainda estava fazendo a avaliação técnica da proposta.