Corpo de Atleta

Sete modalidades, um fotógrafo e diversas histórias para contar

Beatriz Cesarini e Paulo Favero Do UOL, em São Paulo Marcelo Maragni

Não há como negar: o corpo é a principal ferramenta dos atletas de todas as modalidades olímpicas. Músculos, pele e ossos são esculpidos para que os competidores consigam chegar à excelência do alto rendimento. O nadador ganha mais volume nas costas, o escalador desenvolve uma força absurda no antebraço, o skatista tem as canelas marcadas pelas pancadas.

O UOL convidou sete competidores de diversas modalidades para participar da série Corpo de Atleta e mostrar os reflexos físicos que as particularidades do esporte trazem a cada um. Essas transformações nem sempre eram aceitas em um primeiro momento, mas eles passaram a entender a importância para a vida deles.

O fotógrafo Marcelo Maragni, especialista em imagens de ação, foi o responsável por encarar o desafio de capturar essas características nos atletas. Durante semanas, ele visitou os competidores para mostrar qual o efeito da rotina de alimentação regrada, disciplina e treinos intensos.

"Foi um convite muito especial, não só fotografar esses atletas incríveis e olhar com mais atenção os detalhes físicos, mas também ouvir mais sobre suas vidas foi uma experiência enriquecedora. Me chamou a atenção como o corpo humano é capaz de se moldar conforme a forma que é usado", disse.

Me chamou a atenção como o corpo humano é capaz de se moldar conforme a forma que é usado.

Marcelo Maragni, Fotógrafo da série Corpo de Atleta

Ensaios fotográficos

Com a missão de retratar os esportistas para a série Corpo de Atleta, Maragni se juntou à reportagem do UOL para fazer os ensaios fotográficos. O principal desafio era como retratar as características principais de cada um.

"Foi um trabalho tranquilo, mas o ponto principal foi entender logo o que cada atleta/modalidade tinha de diferente e iluminar da melhor maneira para realçar os diferentes volumes", explica.

Maragni ficou muito famoso pela foto que fez do surfista Italo Ferreira, ao retratar o campeão olímpico diante de um eclipse solar no Rio Grande do Norte. Desta vez, o trabalho era ir até o atleta fazer as imagens. "Basicamente eu usei uma lente 24-70mm 2.8 e duas lentes fixas 35mm 1.4 e 85mm 1.4. Na maioria das vezes, além da câmera Nikon Z8 usei um flash de estúdio", revela.

A seguir, você acompanha um spoiler do resultado desse trabalho com os atletas Willian Lima (judô), Aimê Louise (natação), Samuel Silva (escalada), Chico Barretto (ginástica artística), Nicole Cintra (levantamento de peso), Vitoria Rosa (atletismo) e Letícia Bufoni (skate). Nos próximos dias, cada ensaio será publicado separadamente.

Judô

Os anos de prática deixaram o corpo de Willian Lima cheio de marcas, tanto na orelha quanto na cabeça e mãos. "É de tanto bater ou apanhar. Isso mostra que é fruto de um esforço, do trabalho. A gente vê as modificações nos atletas que se dedicam muito", diz, orgulhoso.

Visitamos o judoca após um treino no Clube Pinheiros. No intervalo entre as atividades, ele recebia aulas com o ginasta Chico Barretto para adquirir mais flexibilidade. Com o título mundial júnior no currículo, agora ele parte para um grande desafio nas Olimpíadas em Paris.

Aos 24 anos, ele disputará a categoria até 66 kg e espera que todo o trabalho que fez em seu corpo durante esses anos tenha resultado. "Eu falo que são minhas marcas de guerra. No começo estranhei um pouco, vi meus dedos ficando tortos, minha orelha de outra forma, mas é isso que eu sou", avisa.

Natação

Muitos apontam a natação como um esporte completo. Movimenta todas as partes do corpo, ajuda na respiração e é feito em um ambiente de pouco impacto para os joelhos, por exemplo. Mas em linhas gerais, atletas costumam ter ombros mais largos. Aimê Louise é um exemplo disso.

Aos 22 anos, a nadadora da Unisanta treina desde os 9 anos e se tornou especialista nas provas de velocidade. "Eu gosto de como meu corpo ficou, acho bem bonito", diz a nadadora, que não conseguiu a classificação para os Jogos Olímpicos.

Assim como outras modalidades, o ritmo de treino é puxado, com treinos físicos, fisioterapia, boa alimentação e atividades seis vezes por semana na piscina. "Cada esporte tem um trabalho específico e uma musculatura que se desenvolve mais. Até mesmo na natação percebemos essas diferenças de acordo com o tipo de prova", conta.

Escalada

Para subir uma parede se agarrando em pequenos relevos, é preciso ter muita força nas mãos — inclusive dedos, na perna, mas sua musculatura não pode ser pesada a ponto de dificultar sua mobilidade. É a famosa relação peso x potência que o escalador Samuel Silva, o Samuca, conhece tão bem.

As fotos na Fábrica Escalada, um ginásio de Boulder em São Paulo, impressionaram pela força que ele consegue colocar nas extremidades das mãos e se elevar na parede.
Imagina levantar o peso do próprio corpo colocando apenas dois dedos em pequenas agarras na parede? É isso que ele faz parecer fácil.

"A primeira impressão é que usamos só a força, mas a escalada é bem cardiovascular também. A gente tenta manter uma porcentagem de gordura sempre bem baixa. Se compararmos com outros esportes, nós somos bem magros, pois é preciso ter o mínimo de peso possível para levar a gente pra cima", conta.

Ginástica artística

No visual, o corpo de muitos ginastas aparentam ter músculos em todos os lugares. Pode-se até usar como modelo para aula de anatomia. E isso é fruto de um trabalho de anos em aparelhos específicos da modalidade que vão moldando os braços, as pernas e o abdômen.

Aos 34 anos, Chico Barretto mostrou no Clube Pinheiros como as argolas, o cavalo com alça ou as barras paralelas obrigaram a ter um corpo musculoso, porém flexível, como ele mesmo diz. "Existem músculos que só aparecem na ginástica, não dá para chegar neles em uma academia", conta.

Claro que não é uma regra geral, pois tem atletas da modalidade que são bem menos musculosos ou magros. "Dentro da ginástica a gente tem de entender que tem as especificidades. O meu corpo hoje é mais tonificado, porém tem alguns atletas da ginástica que não são assim", afirma Chico.

Levantamento de peso

A academia de crossfit em Itapecerica da Serra abriu mais cedo justamente para que Nicole Cintra pudesse fazer o ensaio para o UOL. Lá no local onde treina todos os dias, ela contou como acabou perdendo o prazer de competir no levantamento de peso e trocou as barras pelos estudos no curso de veterinária.

Mas antes de obter grandes resultados internacionais na modalidade, Nicole precisou lidar com a aceitação de seu corpo. "Eu fazia levantamento de peso e as meninas da escola não praticavam nenhuma atividade. Estava toda estruturadinha e o pessoal julgava muito, falava que era corpo de homem. Me incomodava, mas trabalhei isso na minha cabeça desde criança", diz.

Nicole é super forte, mas revela que já foi mais forte ainda, quando treinava e conseguia levantar muito peso. Ao mesmo tempo foi gostando mais do seu corpo e vendo que os músculos na região lombar e nas coxas era parte daquilo que amava fazer.

Atletismo

Na pista azul do NAR, as fotos de Vitória Rosa ganharam um brilho diferente. Acostumada a posar como modelo, ela demonstrou uma desenvoltura em mostrar seu corpo e falar dele que nem sempre foi assim. A velocista carioca revela que levou um tempo a aceitar as mudanças que o esporte lhe pedia.

"Eu ficava me colocando naquele lugar, pensando como seria se eu fosse musculosa. 'Se eu colocar uma blusa de alça, como é que vai ser a reação visual das pessoas e será que eu também vou ficar confortável dentro daquela roupa'. Ficava pensando essas coisas", explica.

Mas foi assistindo aos vídeos de velocistas estrangeiros e com apoio do técnico Katsuhico Nakaya que ela entendeu que, se quisesse ser campeã no atletismo, precisaria desenvolver uma musculatura forte nos membros inferiores. E foi assim que se tornou recordista sul-americana nos 200m rasos.

Skate

"Se você passar a mão aqui na minha canela, vai sentir várias imperfeições". A frase de Leticia Bufoni, uma das maiores skatistas da história, mostra como é o efeito da modalidade nas pernas dos atletas. O impacto das quedas e raladas é evidente e as cicatrizes mostram o quanto já precisou levantar do chão.

Em sua casa no Guarujá, a atleta recebeu o UOL e falou sobre sua trajetória e explicou como prepara o corpo para o esporte. "Eu sempre me cuidei muito. Treino em academia e me mantenho muito bem. Acho que isso me ajudou muito. Porque eu tenho vários amigos skatistas que se quebraram inúmeras vezes", diz.

Agora a atleta concilia a vida de skatista com a de piloto de carros - disputa a Porsche Cup. Mas foi em cima do skate que aprendeu a ter flexibilidade nos pés e tornozelos, além de um "core" reforçado para aguentar os saltos da modalidade.

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