Era um sábado e o Santos jogaria no domingo, pelo Brasileirão. No meio da semana tinha sido eliminado da Copa do Brasil para o Ceará, mas o técnico Cuca, de 57 anos, sentia mais do que a pressão e o nervosismo de um momento de instabilidade do time naquele novembro. Era físico mesmo. Dor de cabeça, mal-estar, uma sensação de coração acelerado e o cansaço como se tivesse acabado de correr cem metros.
Depois de passar num hospital a 1,5 km do CT Rei Pelé, fazer exames e receber o diagnóstico positivo para covid-19, foi encaminhado a outro na capital paulista para ser internado. Uma precaução, dado o histórico de problemas cardíacos. O problema é que o quadro só fez piorar.
"Para os jogadores, a covid, graças a Deus, não deixa muitas consequências, porque eles são muito saudáveis. Já para a gente que é mais sedentário e com alguns problemas de saúde, como no meu caso, ela ataca. Atacou meu pulmão, peguei hepatite, fiquei seis dias no hospital, alguns com taquicardia, coração disparado, tomando muito remédio para controlar. Você vai piorando, vai piorando...".
Aí, no sexto dia de internação a doutora Fabiana pegou no meu braço e falou: 'você está mal, você está com pneumonia. Nós vamos te levar lá para a unidade crítica geral'. Eu perguntei: 'você está falando sério?'. Ela: 'sim'. E me levaram."
Cuca ficou quatro dias entre UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e semi-intensiva. Além da hepatite, sofreu com lesões pulmonares e enfraqueceu muito durante o tratamento. Mandou áudios praticamente sem voz pelo celular, o que fez família e amigos temerem pelo pior. Depois daquele jogo, no dia 8 de novembro do ano passado, empate por 1 a 1 com o Red Bull Bragantino, o Santos teve outro no sábado seguinte —vitória por 2 a 0 sobre o Internacional— que o treinador nem viu, sonolento por causa dos remédios.
A luta que ele travava era por muito mais que três pontos. Uma luta da qual seu sogro, Augusto, de 81 anos, e tantos outros não saíram vencedores.
Para muitas pessoas esse é o fim, acaba. Você vai enfraquecendo, entuba, medicam para você não ficar se batendo e acaba. É assim. É um sopro, é um sopro. Assim acabou para o Marcelo Veiga, para o meu sogro, para mais de 200 mil brasileiros. Você não fica dono de você, fica refém, fica pensando que não está com a família, com os filhos, tua mulher, tua mãe, tua neta. Naquela hora você pensa: 'será que eu podia ter feito alguma coisa de diferente?'."