Uma história de amor

'Por tudo que já passei aqui, para mim, é impossível não amar o Palmeiras', afirma Dudu à torcida

Por Dudu Em depoimento a Diego Iwata Lima, do UOL Andre Penner - Pool/Getty Images

OIha, eu me tornei palmeirense com o tempo. Meus filhos convivem no clube, jogam futsal no Palmeiras, estão sempre por lá, e eu também, sempre que posso, vou ver os treinos. Acho que são coisas assim que criam um amor. Eu tenho uma paixão muito grande pelo clube. Por tudo que já passei aqui, para mim, é impossível não amar o Palmeiras.

Onde quer que eu esteja, o torcedor me trata bem, trata meus filhos bem, demonstra carinho. Eu fico muito feliz, porque isso é fruto de um trabalho também, de uma dedicação. Eles sabem que podem contar comigo sempre, que eu vou estar ali para defender a camisa do Palmeiras muito bem, vestir a camisa para representar eles bem dentro de campo.

Quando eu saí do Palmeiras [em 2020], eu já pensava que um dia iria voltar. Eu fiquei muito triste por ter que sair naquele momento. Contente, também, porque eu ia viver uma nova experiência, ficar em um país diferente, ter tranquilidade para treinar para jogar.

Porque naquela época, estava tudo muito confuso para mim, todos sabem. São coisas já resolvidas, que a gente deixou para trás. Mas aquele tempo no Qatar foi um período importante. Eu precisava de um amadurecimento, de um descanso. No Qatar, a gente joga e treina muito pouco. E eu precisava mesmo descansar.

Dudu foi inocentado em janeiro de 2021 em um inquérito que investigava suposta agressão do jogador a sua ex-mulher. O caso inicialmente ganhou grande repercussão, e o jogador foi emprestado pelo Palmeiras ao Al Duhail, do Qatar.

Andre Penner - Pool/Getty Images
David Ramos - FIFA/FIFA via Getty Images

5 milhões ou nada

Eu tive certeza que voltaria quando saiu a lista da Champions League lá da Ásia, e eu não estava. O clube queria negociar com o Palmeiras o que devia, querendo pagar parcelada a dívida de 5 milhões de euros. O presidente me chamou na sala dele e perguntou se eu não poderia falar com o Palmeiras para pedir um prazo, para facilitar o pagamento. E eu falei para ele que não.

Eu disse: "Presidente, não tenho como falar isso. Tenho contrato com o Palmeiras ainda. Se falo isso, o pessoal vai achar um desrespeito. Vocês têm a dívida e vocês têm que honrar essa dívida. Se você não for cumprir, eu vou ter que voltar".

Só que eu já estava conversando com o Maurício [Galiotte]. Conversava com ele sempre. Porque o Maurício já tinha falado para mim que se eles não pagassem os 5 milhões [à vista], eu ia voltar. Ele me disse que queria mais é que eles não pagassem, para eu voltar. Naquela hora, na minha cabeça já estava o sentimento de voltar e defender o Palmeiras, como sempre fiz.

O Mauricio reafirmou para mim: "Nosso desejo aqui é que você volte. O Abel já quer que você volte", ele me disse. Então, combinamos de esperar cumprir o tempo determinado que eles tinham para fazer o pagamento. E se eles não fizessem, no outro dia, eu estava de volta. Porque só eu sei qual é o carinho e o amor que tenho pelo clube.

Ettore Chiereguini/Ettore Chiereguini/AGIF

Primeiro enquadrar, depois reconquistar o espaço

Quando voltei, o clube que encontrei só tinha um ou dois jogadores diferentes, eu acho. E tinha a comissão técnica, é claro. Mas o restante era praticamente a mesma coisa. Estava todo o time ali. Sem contar o pessoal que trabalha na no CT. Então, praticamente, só a comissão técnica era nova.

Mesmo assim, era eu que tinha que que me enquadrar no estilo de jogo deles. Sempre quem chega é que tem que se encaixar no estilo daquelas pessoas que já estão. Ainda mais quando esse estilo trouxe vitórias.

Eu sabia que eu ia reconquistar meu espaço. Pois a gente sabe da confiança que a gente tem no Palmeiras. Da diretoria, torcida, de todos aqueles que trabalham no clube.

Era só uma questão de tempo mesmo para eu me adaptar ao estilo de jogo da comissão técnica para voltar a jogar.

Ettore Chiereguini/AGIF Ettore Chiereguini/AGIF

Era quase tudo a mesma coisa, mas com um detalhe

Eu me lembro de quando conheci o Abel, a gente se cumprimentou, ele me deu boas-vindas. Ele não é muito de ficar falando com os jogadores, não tem tanto contato, e eu achei isso um pouco diferente. Porque a gente está acostumado com treinadores aqui no Brasil, que conversam muito com os jogadores. E ele não é tanto assim. Acho que é o estilo dele, da cultura deles. O europeu é mais fechado.

No início, eu fiz muito trabalho físico com o grupo, porque eu vinha de muito tempo sem jogar. Depois quando me enquadrei bastante assim no grupo, passei a ter mais contato com ele. Isso também foi bem tranquilo. O Abel é um cara legal, um cara bacana, que tem nos ajudado muito. E espero que a gente possa continuar o ajudando também.

Porque no Brasil, os treinadores dependem demais dos jogadores porque tudo é resultado. Então se o time está bem, se o time está ganhando, o treinador vai ter muito tempo no clube. Se não, ele mesmo sabe que vai ser trocado. E a gente está muito feliz com o trabalho que ele vem fazendo. Que a gente vem fazendo com ele.

Cesar Greco/Palmeiras

Quando tudo ficou completo

Quando a final da Libertadores com o Flamengo acaba, e eu começo a chorar, minha sensação é de dever cumprido. Porque eu estou aqui desde de 2015. E a gente sempre sonhou com essa conquista. Sempre desejou essa conquista.

Então, a gente chega no final do ano passado, no dia 27 de novembro, com esse título em cima de um grande rival. Em cima de uma rivalidade que cresceu muito nesse tempo que eu estou aqui no Palmeiras. E não tem como não se emocionar com aquilo tudo.

O Deyverson chuta a bola, e ela pega no Diego Alves e sobe. Quando ela entra no gol, a sensação maior foi de alívio. De ter conseguido aquilo que a gente sempre sonhou. Era a segunda Libertadores consecutiva do clube, mas eu não estava na primeira, no dia da conquista do Maracanã.

Então, para mim, aquilo ali no Uruguai foi a realização de um sonho. Uma redenção de um desejo que eu tinha, de conquistar a Libertadores, de fazer história com essa camisa

Diego Padgurschi /Folhapress

Tudo que foi conversado numa tarde de sexta-feira se cumpriu

O Alexandre Mattos e o Paulo Nobre foram muito sinceros comigo quando me contrataram. Eles falaram de tudo que o Palmeiras vinha, da briga contra o rebaixamento do ano anterior. Mas me disseram que, em 2015, as coisas iam ser diferentes. Que a gente ia ter um time competitivo e que ia depender só dos jogadores para a gente reerguer o clube, passar confiança para o torcedor.

Eu acho que esse foi o significado maior da minha vinda para o Palmeiras. Ganhar a disputa para me contratar com o São Paulo e o Corinthians resgatou a confiança do torcedor no clube. E eu pude também corresponder às expectativas. Pude ajudar bastante o Palmeiras, e o Palmeiras me ajudou muito. Porque meu início não foi muito legal. A gente perdeu o Paulista, eu perdi um pênalti, fui expulso.

Mas eu sempre confiei no projeto, e tudo aquilo que a gente conversou numa tarde de sexta-feira se cumpriu. Eu cheguei à seleção e virei um grande jogador aqui no Palmeiras. Conquistei o carinho do torcedor, das pessoas que trabalham no clube. Então, eu fico muito feliz por ter conquistado um pouquinho de espaço na história do clube.

A gente sabe que não representa só o Palmeiras quando entra em campo. Representamos 16, 17 milhões de pessoas. A torcida olha para mim e vê isso em mim, que eu faço tudo representar o torcedor bem dentro de campo.

Tudo que faço para o Palmeiras é especial para mim, todo jogo, todo campeonato. Escrever essa carta, por exemplo, é especial, porque eu estou com a camisa do Palmeiras.

É só vivendo dentro do Palmeiras que a gente percebe como o Palmeiras é espetacular. É um clube que transborda amor, transborda vontade de ganhar, de crescer. Do porteiro que recebe a gente quando a gente chega até a presidente. A gente tem essa ambição de sempre vencer, de sempre estar no topo.

Dentro do clube os funcionários se ajudam, os jogadores se ajudam. É por causa de coisas assim que a gente acredita que é sim possível conquistarmos o Mundial. Estamos confiantes e sabemos que é difícil. Sabemos que a gente vai ter grandes adversários pela frente. Que teremos uma semifinal muito difícil contra o Al Ahly. A gente sabe da dificuldade que a gente vai ter nessa semifinal.

Mas, assim como a gente, tem muito torcedor que acredita no título. Como tem aqueles que acham que não temos chance. E eu gostaria muito de pedir àqueles que não acreditam que não nos atrapalhem. Porque eu tenho certeza que quem não acredita não pode ser torcedor do Palmeiras de verdade.

Porque o palmeirense sempre acredita.

Miguel Schincariol/Getty Images Miguel Schincariol/Getty Images

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