Cano e a fonte da juventude

Aos 35, atacante conta que trabalhar com Diniz o rejuvenesce a cada temporada: "Jogando como se tivesse 28"

Luiza Sá Do UOL, no Rio de Janeiro UOL

O rejuvenescimento

Germán Cano tem 35 anos e corpinho de 28. Isso não é um elogio, mas o que os números mostram no GPS que rastreia todos os passos do atleta em campo e nos treinos. "Isso me surpreende também".

O resultado desse trabalho no dia a dia se transforma em bola nas redes adversárias. Na temporada passada, Cano marcou 44 vezes. Foi o ano com mais gols em sua carreira. Em 2023, sua média é de um gol a cada 119 minutos -ele só foi mais eficiente uma vez em sua carreira, na temporada de 2019, em que fez 41 gols em 49 partidas (dados do Goal.com).

Para Cano, esse rejuvenescimento em campo tem uma origem clara: a contratação de uma pessoa para ajudar no cotidiano de sua casa em relação à alimentação e descanso.

"Isso foi fundamental. Todos sabemos que aqui no Brasil se joga a cada três ou quatro dias durante o ano inteiro. Na Colômbia e no México, não. Então, tive de fazer essa mudança para poder aguentar toda a temporada, porque são muitas partidas. Então, eu acho que isso foi algo positivo para poder me desenvolver melhor como jogador."

Esse cuidado fora de campo ajudou o atleta a estar bem fisicamente, ao mesmo tempo que tecnicamente ele se manteve em alta. "A dedicação é a mesma de antes. Sempre treinei da mesma maneira, em tudo. Sempre fui dedicado, responsável, sempre, em todas as equipes que joguei. É ter compromisso, atitude e vontade, para poder fazer o melhor pelo time", diz.

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Hoje eu tenho 35 anos, mas estou jogando como um jogador de 28 ou 29 anos. O GPS marca isso. Isso me surpreende também. Porque, na verdade, eu nunca treinei dessa forma, como o Fernando treina, e também nunca joguei como estou jogando agora. Então, acho que todo esforço tem seu prêmio. E qual é o meu prêmio? Fazer os gols."

Cano, atacante do Fluminense

Assista à entrevista de Cano

Jorge Rodrigues/AGIF Jorge Rodrigues/AGIF

"Nunca trabalhei com alguém como Diniz"

Quando começa a falar de Fernando Diniz, o semblante de Cano até muda. Ele foi comandado pelo treinador no Vasco e agora no Fluminense, onde mantém a fase artilheira. Para além da relação entre "professor" e "aluno", formou-se uma amizade e uma admiração que ultrapassa as quatro linhas do campo.

"Cada vez que ele fala antes das partidas, é como uma aula. São orientações do que temos de fazer dentro de campo. Acho que para ele vale mais do que qualquer campeonato", conta Cano, que reforça que quase sempre as análises do treinador se confirmam depois.

O atacante diz que Diniz é um técnico diferente dos outros e que logo de cara, quando se conheceram, rolou uma química. Essa parceria vem dando frutos, antes no Vasco e agora no Flu. São muitos gols e vitórias graças ao faro artilheiro de Cano. "Espero poder seguir aprendendo com ele", elogia o atacante.

O que mais encanta o jogador no trabalho de Diniz é o trato com todos os atletas. E até por ter essa boa relação, as palavras do técnico soam como lei. "Ele sempre diz que o próximo jogo é o da final, e sempre é o melhor. Então eu acho que a partir daí nós temos que fazer o nosso trabalho e dar o máximo. Com suas ideias, com seus pensamentos, o time tem de demonstrar a si mesmo que é capaz."

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Carreira no exterior

Aos 9 anos, Cano deu seus primeiros chutes na bola no Lanús, da Argentina, após ser observado por um olheiro em times do bairro. "Tive muitas pedras no caminho, que eu superei e tirei da frente. E, bom, graças a Deus, tudo deu certo para que eu pudesse ser um jogador", disse o atleta.

Ele fez sua estreia profissional no próprio Lanús em 13 de fevereiro de 2008. Não se firmou na equipe e foi sendo emprestado até ser vendido para o Independiente Medellín, da Colômbia. Foi lá que Cano começou a consolidar sua carreira: fez 54 gols em 99 partidas pelo time colombiano e chamou atenção do Pachuca, do México.

Em território mexicano, não foi tão brilhante. Passou pelo León e voltou ao Pachuca até ser recontratado pelo Independiente, onde se consolidou como ídolo. Neste momento, o futebol brasileiro o percebeu. "Joguei na Argentina, na Colômbia e no México. Todas as equipes são diferentes, os processos são diferentes. No México, tive muitos treinadores, na Colômbia, me adaptei muito bem ao sistema, porque cada um tem o seu lado positivo e o seu lado negativo."

Para Cano, jogar no Brasil era um desafio importante. "Os brasileiros vivem o futebol com muita paixão. Na verdade, na Argentina também são muito apaixonados. Os dois países têm jogadores muito técnicos e dinâmicos. Somos muito parecidos, então acho que isso torna tudo muito mais lindo", disse.

Cano chegou ao país para jogar no Vasco. Deixou a Colina com 43 gols em 101 partidas. No Flu, a média é superior (ele marca a cada 122 minutos no Flu, enquanto fazia um gol a cada 201 minutos pelo Vasco).

Eu tive de sair do meu país, ir para a Colômbia, ao México, voltar para a Colômbia, vir para cá. Então, a partir dos 29, 30 anos, minha vida, futebolisticamente, mudou. Estou muito feliz por tudo o que está acontecendo".

Thiago Ribeiro/AGIF

O segredo do Fluminense

O Fluminense se tornou uma potência atual graças à criação de uma "grande família", segundo Cano. Ele destaca a importância do presidente Mário Bittencourt e do corpo técnico na construção desse ambiente positivo. "Cada dia que passa, o processo continua sendo muito bom", afirma o atleta.

Cano compara sua experiência em outros clubes, de México e Colômbia, e destaca que no Fluminense encontrou seu lugar ideal para se desenvolver como jogador e profissional. Ele destaca a facilidade de se encaixar na equipe que mistura jogadores experientes com garotos. Para ele, jogar com Paulo Henrique Ganso, 33, e André, 22, é o segredo do sucesso do time.

Por tudo isso, ele se mostra otimista para que o Flu conquiste o grande objetivo da temporada: a Libertadores, algo inédito na história do clube. "Para nós seria algo máximo", diz. Ele destaca que a equipe está pronta para os desafios. "No final do ano, as coisas vão acontecer sozinhas e vamos dar o máximo para poder ganhar a Libertadores", continua.

Estamos felizes por tudo que está acontecendo. Isso faz com que, hoje em dia, o time seja reconhecido não só aqui na América do Sul, mas mundialmente. Sentimos que a cada dia o time joga melhor e a cada dia nos desenvolvemos melhor dentro de campo".

Cano, sobre o bom momento do Fluminense

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"Nunca vou ser técnico"

Apesar de estar em alta e sem perspectiva de parar de jogar, Cano já começa a pensar no que fará depois que pendurar as chuteiras. Ele afirmou que não tem vontade de voltar a atuar na Argentina, já que praticamente toda a sua carreira foi feita fora do país. "Não sei se amanhã eu gostaria de voltar, porque já tenho uma família, meu filho está bem aqui, então, a verdade é que voltar à Argentina está muito longe", disse o atleta.

Questionado sobre seus planos para o futuro, Cano revelou que pretende ficar no Brasil depois de se aposentar. "Estou estudando gestão e direção esportiva na Conmebol. E, na verdade, é algo que me interessa. Não sei se amanhã também vou trabalhar com isso, mas me ajuda a manter a cabeça ocupada com outras coisas", disse.

O jogador ainda afirmou que não pretende ser técnico, mas sim seguir carreira como dirigente ou jornalista esportivo. De qualquer forma, ele desconversa sobre sua aposentadoria. "Meta? Nunca me coloco. Sempre tento que a vida me surpreenda e aproveito cada dia", disse.

Cano afirmou que gostaria de jogar até os 40 anos, mas que isso vai depender de muitas coisas e de como se sentir no dia a dia. "Estou bem fisicamente e acho que isso é muito importante", completou.

Cano fala sobre suas aventuras na Copa do Qatar

Reprodução

Depois de ir para a Copa do Qatar passei a entender um pouco mais do sofrimento da minha esposa e, obviamente, dos torcedores. Fiquei emocionado vendo a seleção e vibrando. Minhas mãos suavam e eu ficava nervoso. Pela primeira vez comprei uma camisa como torcedor e até coloquei o nome de Messi nas costas. Foi lindo".

Cano, sobre sua ida à Copa como torcedor

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