O Anderson me irritou, mas ganhou a luta nos pontos. Ainda assim, a repercussão foi muito ruim para ele e muito boa para mim. Depois de tomar um atraso nos dois primeiros rounds e meio, acertei um soco, mudei o panorama e fiz o melhor lutador de todos os tempos ficar rodando no octógono.
Falo isso porque tem uma história antes daquela luta, que aconteceu em 2010, e que as pessoas não sabem.
Estamos em 2004 e o Vitor Belfort já era uma estrela internacional. Ele muda para São Paulo e precisa de sparrings de várias modalidades. Especialista que sou em jiu-jitsu, comecei a treinar com o Vitor no chão. O Anderson era o sparring em pé.
Um dia, botaram um treino que tinha o Anderson, o Vitor, eu e o Lucas Lima. Sabe quem é o Lucas Lima? O marido da Sandy. Ele é faixa preta, moleque gente finíssima. Treinava sem quimono porque tinha medo de machucar o dedo e complicar a carreira.
O dono do chão
Uma vez, o Vitor não quis treinar em pé com o Anderson e falou: "Lucas, vem comigo. Anderson, vai com Demian". Primeiro treinamos boxe. Só valia jab com a mão da frente. Era o forte do Anderson e eu não tinha noção de boxe. Tomei tanto jab...
Acaba este treino e vamos fazer chão. Lembro de ser tão fácil, mas tão fácil, que eu montava nele e nem batia. Estava muito desnivelado. Voltando para 2010, eu acreditava que podia ganhar. Sabia até o caminho.
Minha preparação priorizou o boxe. Fiz um camp em Salvador com o técnico do Minotauro. Foi um erro estratégico. Eu fui lutar no campo do inimigo, onde o Anderson era forte. No meio da luta, mudei de tática. Dei a testa e resolvi jogar cortando. Balança o tronco para um lado, balança para o outro lado, que nem o Tyson.
Pedagogia do sofrimento
A partir deste momento, ele entendeu que podia me acertar, mas se errasse eu estaria dentro dele e colocaria para baixo. O Anderson sabia que cair no chão seria o fim. Ele começou a fugir. Me provocava, mas não ia para cima. A torcida ficou louca, vaiou muito.
É difícil para quem é de fora entender. A pessoa, quando briga, é movida por uma emoção que é raiva. Mas quando você luta, é outra coisa. O lutador é movido por vontade de ganhar e por não querer perder.
A novidade desta vez foi este medo de perder, algo que nunca vivi no meio da luta antes. Era uma vulnerabilidade que eu não conhecia. Ao mesmo tempo, eu reverti o quadro. Aprendi uma lição. Mesmo quando você está vulnerável, tem a capacidade de dar a volta por cima. Senti isso na pele.