Ser mãe foi um presente que Deus me deu, mas passar por uma gravidez foi difícil. Não só porque nunca mais fui convocada para a seleção brasileira de handebol, mesmo após duas Olimpíadas e quatro Mundiais. Ou porque acabei demitida do meu clube — para depois ser recontratada após a gravidez ganhando expressivamente menos. Também teve o espelho: quando eu me olhava por ele, não me reconhecia.
Nunca cumpri o perfil da mãe padrão idealizada pela sociedade. Eu, Samira Rocha, aquariana, sou também gay e mãe solo. Minha filha, Aya, nasceu em Recife, Pernambuco, e há um ano e cinco meses fez meu mundo girar de cabeça para baixo. Com ela, minha vida ficou melhor e reascendi, dentro de mim, a chama que nos lembra de ter sempre pensamentos positivos.
Para trazê-la ao mundo, lidei com transformações no meu corpo e com preconceitos. Desde a infância, nunca gostei de coisas de "menina", vestidos e bonecas. Meu corpo e minha mente sempre se sentiram mais confortáveis em roupas largas. Me sinto melhor vestida como menino, o que nunca impediu, nem colocou em dúvida dentro de mim o meu mais genuíno desejo de gerar um filho ou uma filha.
Na gravidez, não há como fugir do aumento do seio, das curvas femininas. Foi difícil lidar com essas transformações, com os olhares tortos. Só a força materna de uma mulher para suportar o preconceito da sociedade e do esporte ao paralisar uma carreira vitoriosa e, sozinha, decidir iniciar uma família feliz composta por uma mãe e uma filha.