É um processo muito difícil."
É um dia de cada vez, tem dia em que eu estou bem, tem dia que não. Tem dia que nem dá vontade de levantar. Aí eu vejo o Lorenzo pequeno, que depende de mim para tudo e falo: 'é por ele'. Você deixou um pedacinho seu aqui para mim e eu vou ter que zelar por ele até o dia em que Deus me levar também.
Eu ainda faço tratamento por causa do acidente. É difícil, sabe? É uma dor assim que eu carrego todos os dias. É uma dor na alma que dói fisicamente. Sinto dor física. Quando a gente chora, dói, fica aquele espaço, aquele gelo no coração, no peito. Ela fica ali. Tem dia que ela dói mais, tem dia que ela dói menos. Mas continua ali. Acho que vai ser até o fim, vai sempre estar aqui, mas um dia vai parar de doer tanto.
Eu tento sempre chorar escondido do Lorenzo para ele não ver. Já chorei muito, mas ainda tem dia que a gente fica mais para baixo e não dá para segurar. Algumas situações doem mais. Uma festinha na escola ou algo que eu tenha que resolver. Se você estivesse aqui, seria tudo diferente. Você estaria aqui, no lugar de pai que é seu lugar e sempre vai ser.
Agora, no fim de ano, mesmo já fazendo dois anos que você se foi, fica ainda mais difícil. O Natal e o Ano novo não têm mais graça. Não tem mais sentido. A gente comemora o nascimento de Jesus, um ano novo que vai começar. Mas era justamente nessa época que ficávamos mais juntos. Agora, falta um pedaço.
Ainda parece um pesadelo."
É uma coisa inexplicável. É coisa de filme. Até hoje eu tenho esse sentimento, parece que eu estou vivendo uma história, um sonho, um pesadelo e que eu vou acordar a qualquer momento. Por que não pode ser verdade tudo o que aconteceu.
Quando aconteceu tudo, dava vontade de ir junto, sabe?"
Não sei te explicar, é um sentimento que... meu Deus. É uma coisa muito difícil, da maneira que foi, o por que foi. A gente quer ir embora junto porque sente que não vai aguentar o que vai vir pela frente.
Quando eu voltei para cá nos primeiros dias e estava tudo acontecendo, um monte de coisas para resolver, eu ligava a TV e só se falava disso. Eu nunca pensei em tirar a minha vida, mas eu falava: 'meu Deus, por que você não me leva junto?'.
É um sentimento, como posso dizer, de injustiça. Todos vocês estavam ali dentro a trabalho, felizes, todo mundo realizando sonhos, muitos de vocês estavam começando agora, construindo uma vida.