UOL: Foram injustas suas saídas da seleção em 2010 e em 2017?
Dunga: Cara, justo ou injusto, é difícil de se falar. O presidente sempre recebe uma pressão desgraçada, terrível. Mas é normal. No Brasil, quando se perde, se troca o treinador. Em 2010, tínhamos feito um ótimo trabalho, um baita jogo ali contra a Holanda. Mas era assim o sistema. Já em 2014, fizeram um planejamento onde os jogadores que fossem disputar as Olimpíadas não poderiam disputar a Copa América em 2016. E a forma com a gente saiu da Copa América foi absurda. Não tinha VAR, o cara fez o gol com a mão e o juiz (Andrés Cunha) ficou mais de 10 minutos com o jogo parado, sem tomar uma decisão.
Quem foi melhor: Dunga jogador ou Dunga treinador?
Pelos resultados, pela conquista da Copa do Mundo, eu acho que já mata qualquer dúvida. Agora, se tu pegares meus números como treinador, sendo que eu nunca tinha treinado ninguém, você vai ver que foram muito bons. Melhor do que muitos que passaram pela seleção brasileira e que tiveram uma experiência fantástica. Não fui tão mal.
Com você jogando, a seleção brasileira perderia de 7 a 1?
Difícil responder. Seria injusto falar algo de um cara que foi vitorioso ao extremo, que é o Felipão, que eu tenho uma grande admiração por ele. Mas é aquela velha história que acontece no futebol brasileiro. A gente tem sempre que crucificar um. Foram feitas as críticas de que o futebol brasileiro estava atrasado, que o treinador brasileiro estava defasado. Mas eu pergunto: dos 11 jogadores, quantos atuavam no Brasil? Então, como é que estávamos atrasados taticamente, pô. Assim como eu sofri em 1990, quando foi colocado tudo em cima de mim e do Lazaroni, agora não é justo jogar tudo em cima do Felipão. O cara é campeão do mundo e foi campeão por onde passou. Mas o futebol é apaixonante por isso. Tem coisas que não têm explicação. Acontece.
Eu estava no jogo, comentado para a TV Al Jazeera. Eu não estava acreditando. Pensei: "O Brasil levou o segundo gol, mas vai lá e daqui a pouco diminui e tenta empatar". Mas as coisas não aconteceram. No futebol brasileiro, todo mundo só pensa em atacar. Mas tem que aprender a defender também. Tem duas formas de jogar: uma com a bola e outra sem a bola. Acho que ainda estamos perdendo tempo em falar apenas de esquemas táticos, 4-4-2, 3-5-2, em números. Mas ninguém fala mesmo de futebol, que é o drible, o passe, o cabeceio, o chute, o desarme e o posicionamento. Mas só falamos em números.
Como é sua relação com a CBF hoje?
Agora distanciou um pouco, mas tenho uma relação de respeito. É normal. Devo tudo ao futebol e agradeço as pessoas que me deram oportunidades na seleção. Não tenho muito o que falar. O que achei que estavam erradas eu falei na época, fui sincero e abri meu coração. Às vezes acho que falei até demais. E até onde pude, eu conseguir mudar. Não sou desses que sai atirando depois que sai do lugar.
Pretende voltar para a seleção brasileira?
Acho difícil. Meu tempo já passou. Comecei na seleção brasileira com 15 anos e fiquei até pouco tempo atrás. É um bom tempo (risos).
Você assiste jogos da seleção brasileira?
Eu fico muito nervoso vendo o jogo de fora, mas eu assisto de vez em quando, sim. Sempre que posso. Fico agitado, tenso, e torço muito pelo Brasil. Quanto mais ganhamos, melhor para todos nós aqui.