Quando o inverno de 2005 chegou, a família de Alline Calandrini — recém chegada ao Rio de Janeiro, vinda do calor de Macapá — queria conhecer o frio. Por isso, o destino escolhido para as férias de julho foi a região serrana de Teresópolis. Malas abarrotadas de casacos e cachecóis no carro e pé na estrada. Mal sabiam que o descanso de meio de ano mudaria a vida deles para sempre.
Após uma hora e meia de viagem e prestes a chegar no hotel, o irmão de Alline pediu para o pai Gastão estacionar o carro. Ele avistou um grupo de meninas jogando futebol em um grande gramado no horizonte da estrada: era a seleção brasileira feminina treinando na Granja Comary.
"Como assim? Existe um time de mulheres jogando futebol?", disse Alline.
"É a chance da Alline. Vamos para lá agora", pediu o irmão.
Esperançoso e ainda sem saber o que era aquele lugar, Gastão mudou o rumo do trajeto e partiu para o portão da Granja Comary. Todos foram barrados em um primeiro momento. Inconformado, o pai de Alline contou uma história um tanto quanto exagerada: falou que ele e a família viajaram de Macapá em busca daquele local por uma oportunidade para a filha que sonhava em viver como jogadora de futebol.
"Após muita insistência do meu pai, os treinadores da seleção feminina vieram conversar conosco e me convidaram para participar de uma atividade no dia seguinte. Enfim fomos para o hotel cheios de empolgação. Quando amanheceu, voltamos para a Granja. Claramente, eu não encostei na bola, mas foi aí que começou a minha história no futebol feminino".