Pode bater!

Zé Elias aguentou pancadas no futebol e na vida: morte trágica do mentor, injeções para jogar e mês na prisão

Bruno Freitas e Felipe Pereira do UOL, em São Paulo Lucas Lima/UOL

José Elias Moedim Júnior tinha fama de "rei do carrinho", daquele volante que chegava duro. Mas é crueldade reduzir sua reputação como jogador somente a isso. O garoto que virou titular do Corinthians aos 16 anos deu suas pancadas por aí, é verdade. Mas também suportou muita coisa para construir uma carreira de respeito.

Não foi fácil encarar uma maratona de ônibus para treinar no campo e no futsal na adolescência, nem mesmo a rotina de injeções para aguentar jogar no fim da carreira. Também não foi simples lidar com a intimidação de marmanjos duas vezes mais velhos no começo, nem ficar de fora da Copa de 1998, no auge da forma.

A resiliência de Zé Elias foi testada particularmente em momentos como a morte do mentor Mário Sérgio, uma das vítimas do desastre aéreo da Chapecoense em 2016. O "Zé da Fiel" também aguentou firme o mês de prisão por pensão alimentícia.

Em entrevista ao UOL, Zé Elias relembra esses e outros episódios da carreira, como a bronca de Ricardo Teixeira na Olimpíada de 1996, a vida na Inter "galáctica" de Ronaldo e o dia em que exagerou na piada na ESPN e temeu perder o emprego.

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A relação com Mário Sérgio

Evelson de Freitas/Folha Imagem

Quase desistiu do futebol na adolescência

"Aconteceu de repente, porque em 15 dias eu iria parar de jogar campo. Eu jogava futsal e tinha um certo destaque. Ganhava bolsa de estudo da escola para estudar. Comecei a treinar de manhã, de tarde e de noite. Tive que parar os estudos para poder jogar futebol de campo e futsal, para poder ajudar na minha casa com o dinheiro que ganhava."

A partir de 1992 Zé Elias começou a treinar no júnior do Corinthians, mesmo com idade de juvenil, conciliando com as atividades no futsal em São Caetano. Era uma rotina massacrante, saindo de casa às 6h e voltando além de meia-noite.

"Eu fiz isso durante quase oito meses. Na semana que o Corinthians ia jogar contra o Palmeiras, no Paulista de 93, na primeira final, eu falei para a minha mãe: 'vou parar de jogar campo'. Eu não estava mais suportando. Ela falou: 'faz o seguinte, vai até o final do ano e aí você vê o que vai fazer'."

No dia seguinte Zé Elias foi comunicado que deveria se apresentar no profissional, seria inscrito no Brasileiro junto com outros quatro garotos.

"Me apresentei. Aí comecei a treinar, deu 20 minutos, o Mário Sérgio falou: 'pega o colete do Embu do time titular'. Eu estava marcando o Válber. A primeira bola eu roubei, sofri uma falta. Durante o treinamento, dei uma assistência e o Rivaldo fez o gol. Acabou o treino, o Mário Sérgio falou assim: 'te cuida, garoto, que com 16 anos pra mim já é homem. A partir de amanhã você vai treinar com a gente'. Chegou na quinta, ele falou: 'você vai jogar no sábado'. Eu falei: 'tá bom'."

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O "Zé da Fiel"

Os meus 18 anos aqui no Pacaembu é a coisa mais marcante pra mim. Dezoito anos, aqui, contra o Criciúma, 40 mil pessoas cantando parabéns. Acho que é um presente que poucas pessoas recebem ao longo da vida e eu tive esse privilégio. Foi aqui, 25 de setembro de 1994, contra o Criciúma, 3 a 2

Zé Elias, sobre o aniversário dentro de campo

Hoje não jogo bola, não suporto bola, não chego perto de bola, mas eu moro próximo ao Pacaembu. Então, eu vinha quase todos os dias andar com os meus filhos aqui. Caminhava com eles. Era um coisa legal porque eu passava com eles aqui e falava: "o papai jogou aqui. Fiz 18 anos dentro do Pacaembu"

Zé Elias, sobre a vida atual de ex-jogador

Antonio Gaudério/Folhapress

Sacrifícios e rotina antes dos 16

6h - Acordar, fazer o próprio café, subir a pé a Rua Iracema Ubirajara Celeste, em Guarulhos, pegar o ônibus para treinar no Corinthians de manhã.

Após o almoço - Segunda sessão de treinos no campo.

Fim de tarde e noite - Pegar o metrô, depois o trem, para ir treinar futsal em São Caetano. Depois voltar para casa de ônibus, refazendo o trajeto da manhã.

"Acho que ali moldou a minha personalidade. Ali moldou aquilo que eu recebo e que eu colho até hoje por conta daquilo que eu aprendi, a dar valor em tudo.

Eu vivia à base de Moranguete. Sabe o que é Moranguete? É um chocolate imitação do Sensação (da Nestlé). Tem muito no trem. Era R$ 1. Comia aquilo ali das 18h até as 19h, que era o período que eu chegava pra treinar salão. Comia uma coxinha e um refrigerante, que era o que a GM (seu time no futsal) dava para a gente. Era isso."

Lucas Lima Lucas Lima
Paulo Giandalia/Folhapress

Viola, o "guarda-costas" no time

Ser um jogador de time profissional no auge da adolescência envolvia certas particularidades. Uma delas, enfrentar intimidações dentro de campo, que partiam de adversários bem mais velhos... às vezes com o dobro de sua idade.

Mas Zé Elias tinha o respaldo de companheiros mais experientes.

"Eu contava com os caras do time. O Viola era um cara. Pelo fato de eu concentrar no quarto com ele. Lembro de um jogo no Rio contra o Flamengo, eu cortei o Rogério Lourenço, que era o zagueiro, e foi falta. O Rogério veio e falou assim: 'vou te matar, moleque. Vai ver. Levanta que eu vou te matar'. O Viola foi para cima dele. 'Deixa o moleque jogar, rapaz. Quer matar, quer arrumar confusão, vem pra cima de mim'.".

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Não conseguia mais andar

A parte final de carreira de Zé Elias foi marcada por uma rotina de dores. Jogando no exterior, o brasileiro precisou se habituar com injeções para aguentar treinar.

"Eu estava no Olympiacos. Tive um problema de pubalgia [inflamação em articulação próxima à virilha]. É uma das piores lesões que se tem no futebol. Fazia tratamento e tomava injeção antes do treino. Acabava, tomava injeção de relaxante muscular e anti-inflamatório para poder voltar para casa, não conseguia andar de tanta dor."

Teve um dia, mesma coisa, tomei injeção, aí eu não conseguia caminhar. Eu saí para o treino, a bola lá, eu parei e comecei a chorar."

"Falei para o auxiliar: 'eu não consigo mais andar'. No dia seguinte, eu me apresento para fazer o tratamento e o diretor me chama: 'você tá afastado. Não pode usar as dependências do clube. Porque o clube entende que você não tem nada'.

Tinha o fisioterapeuta, o médico, o treinador e o auxiliar. Eu xinguei de tudo quanto é nome que vocês possam imaginar. Falei: 'vocês não estão sendo homens comigo de assumir a responsabilidade. Você, doutor, me deu injeção ontem. Você, fisioterapeuta, me fez o tratamento ontem. Você, auxiliar técnico, viu que eu não consigo treinar faz três meses por causa da dor. Se querem me mandar embora, falem: não queremos mais que você fique aqui."

Foram 20 anos, todo dia treinando. Se não treinando, jogando. Tem uma hora que o teu corpo já não aguenta mais. Tenho problema nos rins de tanto anti-inflamatório que tomei. Se tomar muito remédio, meu rim começa a dar problema. Hoje só vou tomar remédio se estiver muito ruim. É uma injeção de Diprospan que vai ficar 15 dias no meu organismo que vai me aliviar as dores que tenho na coluna

Zé Elias, ex-jogador da seleção e atual comentarista da ESPN

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Acidente com avião da delegação do Corinthians

Após um jogo da Libertadores no Equador, em 1996, a delegação corintiana passou por um susto daqueles. O avião que traria o time de volta ao Brasil derrapou na pista do aeroporto de Quito e literalmente atravessou um dos muros de proteção.

"A gente já ficou com medo, porque o avião... você batia no avião assim, saía pó das poltronas. Um avião velho. Na hora de vir embora, Quito é cercado de montanhas, então você já tem que sair no máximo. Você entra na pista e já tem que estar com a turbina na porrada para poder pegar força e subir.

Na primeira tentativa, na hora que ele entrou, acelerou, a gente percebeu que o avião não estava indo. O comandante falou: "foi cancelado, vamos voltar". A gente já achou estranho. Ficou um clima: 'vamos morrer'. O Edmundo falando: 'quatro horas que tô aqui, já deveria estar em São Paulo.

Na que ele entrou na pista de novo, levantou voo, levantou um pouco e caiu de novo. Foi para o chão, tentou parar. Eu lembro que eu estava na poltrona, olhando aquela fumaça do freio queimando borracha, aí acabou a pista. O avião começou a bater, bater, e aí parou.

Eu falei: 'vai explodir'.

No que ele parou, só vi o Bernardo passando assim. O Bernardo passou, o Cris, que era zagueiro, tava dando soco para máscara cair e aquele desespero. A moça da frente dizia: 'vem, vem pra cá'. E a de trás falando: 'corre que o avião vai explodir'. Porque uma asa estava vazando querosene e a outra pegou fogo. Saí correndo, pulei o escorregador, mas eu pulei fora do escorregador. Então derrubei o seu Mário Travaglini (diretor na época), que depois teve duas fraturas de vértebras.

Na hora do acidente, estava todo mundo chorando e eu rindo. No meu estado de nervos, fiquei rindo. Quando eu tive que refazer a mala para viajar de novo naquela semana, falei: 'não subo em avião'."

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Distância dos filhos mais velhos

Zé Elias hoje costuma reunir os quatro filhos em casa. Mas nem sempre foi assim. O convívio atravessou um momento de ruptura em razão do penoso processo de divórcio de sua primeira esposa. A disputa afastou o antigo volante dos dois filhos mais velhos: Júlia, 17, e Pedro, 16.

"Eu perdi muitas coisas dos meus filhos, não por vontade minha, já expliquei isso para eles. Sabem o motivo. Foram cinco pedidos de prisão em sete anos. Fiquei muito tempo sem vê-los porque, se fosse buscá-los, provavelmente teria sido preso".

Indiretamente, a morte do "mentor" Mário Sérgio ajudou Zé Elias a se reaproximar dos filhos do primeiro casamento, graças a um telefonema de Júlia, que queria saber como o pai estava após o falecimento do amigo.

"Fiquei apreensivo, achei que tivesse acontecido alguma coisa com eles. Como eu tinha perdido um pouco o contato, você não sabe o que acontece. Aí na hora que ela me ligou e falou, aí eu caí. Depois que desliguei comecei a chorar. Me emocionei porque, depois de tanto tempo, ela ainda sabia quem eu sou como pai, por isso que me ligou. A ligação dela foi um presente. Saber que, enquanto eu estive presente ao lado dela e do meu filho, deixei memórias dentro do coraçãozinho deles."

Prisão por pensão alimentícia

Na Inter "galáctica"

Stu Forster /Allsport/Getty Images

O professor Simeone

Pra mim, foi fantástico, em termos de aprendizado. Jogar ao lado do Simeone era incrível. Começava o jogo, cinco minutos ele fazia: "Zé, vem um pouquinho mais pra cá. Eu vou jogar um pouquinho mais pra frente. Fecha um pouco isso aqui. Quando você pegar na bola, você distribui mais o jogo". Então minha evolução como jogador foi fundamental por conta de caras como ele

Enrico Liverani/AP Photo

Parceiro Ronaldo

Sete de setembro de 93. Eu estreei pelo Corinthians e ele, pelo Cruzeiro. Depois nos encontramos na seleção, em 94, na minha primeira convocação, após a Copa. Depois nós fomos nas Olimpíadas. Eu e ele entramos no jogo contra o Japão e ganhamos a posição. Um ano depois estava chegando na Inter. Eu até brincava: "pô, eu não posso ir pra lugar nenhum que você vem. Quero comissão"

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Matthew Ashton/EMPICS via Getty Images

Brigou com Pagliuca por causa do irmão goleiro

Gianluca Pagliuca, goleiro da Itália na Copa de 1994, ousou criticar o irmão de Zé Elias na frente do brasileiro, seu companheiro no Bologna.

"Eu não assisto (aos jogos do irmão Rubinho). Fico nervoso. Assisti uma vez só e era final do Campeonato Mundial Sub-17, que ele já tinha conquistado o título, e eu briguei com o Pagliuca.

Foi uma reprise e aí eles iam para final. O Pagliuca tinha chegado, depois do almoço tem o costume de tomar café. Eu falei: 'o meu irmão tá jogando'. Ele falou: 'quem que é?'. Eu falei: 'o goleiro'.

Foi para os pênaltis. Acho que no primeiro pênalti ele não pegou, aí ele falou: 'devagar'. Eu falei: 'devagar é você, vai tomar no...'. Comecei a falar um monte besteira, ele ficou me olhando assim. Aí eu falei: 'desculpa, desculpa, desculpa'."

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Fora da Copa de 1998

Eu estava no carro porque fico nervoso. Nesse aspecto, sou egoísta. Tento resolver meus problemas comigo mesmo. Fiquei chateado na hora, tentei entender. Uma semana depois já tinha digerido o fato de não ter ido

Sobre o dia da convocação

Fiquei bem chateado, porque fui avaliado por dois jogos. Acho que contra Marrocos e contra Argentina. Contra Marrocos, de fato, eu não joguei bem. Depois você tem que entender, não adianta ficar chorando, lamentando

Sobre o momento na seleção

Você entende que faz parte de processo de seleção numa Copa do Mundo. Ele escolheu. Recentemente eu mandei uma mensagem para o Zagallo, agradecendo por toda oportunidade que ele me deu na seleção

Sobre o técnico de 1998

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem

Atlanta-96: a bronca de Ricardo Teixeira

Zé Elias integrou uma das seleções olímpicas mais fortes da história, ao lado de Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos e outros craques. Mas o sonho do ouro parou na semifinal, diante da "zebra" Nigéria, de Kanu. A frustração acabou rendendo uma bronca do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, antes do jogo que valia o bronze, contra Portugal.

"O Ricardo Teixeira não convivia com a gente todos os dias. A gente ficou muito isolado.

No dia que perdemos para a Nigéria, ele não apareceu. No jogo contra Portugal, o Zagallo deu a preleção e ele (Teixeira) falou: 'agora eu preciso falar com vocês'. Todo mundo já ficou assim. Ele falou assim: 'olha, vou dizer para vocês o seguinte, é obrigação ganhar a medalha. Não me importa como. Vocês têm a obrigação de ganhar'. E aí nós metemos 5 a 1 em Portugal. Foi o único dia que eu vi que ele estava mais sério, de exigir as coisas.

Mas nunca maltratou, pelo menos na frente, nunca maltratou nenhum jogador. Eu acho que ele estava correto. Era uma obrigação nossa mesmo ganhar medalha pelo time que a gente tinha."

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Bastidores do sequestro da mãe de Robinho

Zé Elias está intimamente ligado ao Corinthians. Mas talvez seu título mais relevante no país tenha sido o Brasileiro de 2004, por outro time alvinegro, o Santos. Naquela temporada, o volante testemunhou de perto o drama de Robinho, que passou boa parte das rodadas decisivas sem jogar, até a mãe ser libertada de um sequestro.

"A gente estava na concentração, de repente, começou um: 'sequestraram a mãe do Robinho, sequestraram a mãe do Robinho'. Todo mundo ficou meio preocupado. A gente chamava ele de Neguinho. 'Cadê o Neguinho? Como é que tá o Neguinho?'. Ele já tinha sido levado embora da concentração.

O Vanderlei (Luxemburgo) chamou a gente e falou: "a partir de hoje, nós vamos jogar pelo Robinho. Ele conta com a gente, nós somos a família dele.

Em todo período que a mãe dele esteve sequestrada, nunca vi o Robinho não sorrir, não brincar, chegar ao treinamento cabisbaixo, chorando ou preocupado. Nunca. Todos os dias, profissional ao extremo.

E quando a gente recebeu a notícia de que a mãe dele tinha sido libertada, para a gente, dentro do vestiário: 'agora tá na hora de ganhar o título'."

Bronca na ESPN após imitação

Virando comentarista

Já no fim da trajetória nos campos, o volante começou a procurar um horizonte além do futebol. O que fazer? Permanecer ligado ao meio do futebol foi a decisão.

"Eu comecei a pensar nisso na Grécia, de 2002 para 2003. Falei: 'poxa, preciso começar a direcionar o que eu quero, o que eu vou fazer após parar de jogar'. Aí eu comecei observando os comentaristas italianos, a forma de comentar.

Fui começando a me preparar. Escutava muito rádio, Paulo Roberto Martins na Rádio Globo, Milton Neves na Jovem Pan, Cláudio Zaidan na Bandeirantes. Escutar esses caras para moldar uma linha de raciocínio, para que eu pudesse fazer minhas críticas, elogios, sempre dentro do limite do jogador de futebol e do ser humano.

Mas eu não pedi vaga. Isso veio através dos contatos, das amizades que você faz.

E aí chega nas rádios, nas pessoas responsáveis. 'Pô, você quer? Vem fazer um teste?'. A minha primeira Copa foi em 2006. Trabalhei como comentarista, mesmo ainda jogador, na Rádio Record, com a equipe do Paulo Roberto Morsa. Depois continuei jogando, aí fiz uma outra experiência, num período na Rádio Globo".

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