Rosângela dos Santos era uma menina de personalidade forte quando chegou aos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Tinha muita velocidade e 17 anos. Fechou o revezamento 4x100 do Brasil em quarto lugar, perdendo por centímetros, talvez milímetros, a medalha para a equipe da Nigéria.
"Depois da corrida, quando a tristeza passou, nós comentamos entre nós que se a Rosângela tivesse colocado silicone nos seios a gente ganhava a medalha", relembra, bem-humorada, a velocista Rosemar Coelho, integrante daquela equipe ligeira.
O tempo passou. Yuliya Chermoshanskaya, integrante da equipe russa que ganhou o ouro naquele dia, caiu no doping. A medalha foi retirada das russas e, nove anos depois da competição, a equipe brasileira, com todos os prejuízos possíveis e imagináveis, herdou a medalha de bronze daquela corrida histórica disputada no marcante estádio Ninho de Pássaro.
Aquela foi a primeira vez que mulheres brasileiras ganharam uma medalha em provas de pista, as mais nobres do atletismo. Foi, também, a segunda medalha feminina da história da modalidade no país. As quatro vencedoras, Rosângela, Rosemar, Lucimar Moura e Thaíssa Presti, receberam a medalha no dia 29 de março de 2017. Uma delas, nem mesmo com o bronze no peito, se considera medalhista olímpica.
A história dessa equipe do revezamento 4x100m livre de 2008, que você vai ler agora, é provavelmente a mais revoltante das três medalhas que o Brasil já ganhou por causa de doping — as outras são o ouro de Rodrigo Pessoa no hipismo de Atenas-2004 e o bronze do 4x100 masculino de Pequim-2008.