A casa em que tudo começou fica a duas quadras."
Foi uma das primeiras coisas que ouvi quando cheguei ao estádio Olímpico, em Goiânia — onde a seleção joga no domingo (27). Enviado para cobrir a Copa América, tinha estudado sobre a história: o maior acidente radiológico do mundo acontecera ali, em 1987.
Naquela ocasião, o gramado do Olímpico servira como abrigo. Era um acampamento para as vítimas primárias da abertura da cápsula contendo 19,26 gramas de césio-137, substância radioativa.
A passos apertados, saí do estádio rumo ao (mal)dito terreno. O local fica em um bairro residencial. Pessoas circulam pelas ruas e, muitas vezes, nem sabem que foi ali que tudo ocorreu —constatei isso ao tentar me informar.
Quando cheguei, a primeira coisa que chamou atenção foi o concreto —você pode ver na foto acima. Vazio até hoje, o terreno da rua 57 não tem grama alta ou lixo, como seria comum a terrenos baldios, apenas uma imensidão concretada (até três metros para dentro do solo, como contaram depois). Tudo para evitar que a radiação se propague.
No muro ao fundo, um grafite conta a terrível história daquele lugar: um homem azul, cor do césio-137, eleva em sua mão uma pedra, representada por uma caveira cercada por raios —que você vê na foto abaixo. Naquele momento, há 34 anos, os catadores Roberto dos Santos Alves e Wagner Mota Pereira ainda não sabiam o mal que estavam libertando da pesada peça de chumbo que tinham encontrado.