O cartola que brigou com Pablo Escobar
Eurico Miranda morreu ontem e deixou uma vasta história de ligação com o Vasco, com o futebol brasileiro e até mundial. Se alguém acompanhava o esporte, tinha uma opinião sobre esse personagem de personalidade marcante. Uns amavam, outros adoravam odiá-lo. Sempre polêmico, o todo-poderoso colecionou brigas e desafetos. Sempre apoiado na missão de defender seu clube, não tinha limites - brigou com CBF, Conmebol, rivais e imprensa.
O cartola cruzmaltino mediu forças até mesmo com Pablo Escobar. A figura do homem de charuto na mão com um olhar de desdém não temia nem o poderoso traficante colombiano.
Em 1990, o Atlético Nacional (COL) era o atual campeão da Copa Libertadores e encarava o Vasco em Medellín. Era o jogo de volta das quartas de final do torneio continental. "Já no aquecimento em campo deu para sentir a pressão, com policiais com cachorros ao nosso lado", lembra o ex-lateral Luiz Carlos Winck, que jogou naquela noite. "Não houve um lance capital com influência do árbitro, mas ele estava alterado, vinha para cima da gente sempre. Dava para perceber a pressão pelo resultado favorável ao Nacional", completou, recordando a derrota por 2 a 0.
O lateral pode ter sido intimidado. Eurico, não. Já polêmico, o cartola pressionou a Conmebol e disse que Escobar teria comprado a partida. A entidade, então, foi ouvir o árbitro uruguaio Daniel Cordelino. O juiz admitiu ter sofrido as já conhecidas ameaças do clube de Pablo Escobar antes de a bola rolar. A partida foi remarcada.
O dirigente brasileiro com ar mafioso começava a mostrar seu poder de confronto fora do país. O Vasco não venceu. Acabou eliminado em nova derrota, agora por 1 a 0. Mas o episódio mostrava o tamanho das brigas que o cartola estava disposto a comprar. E era prova pesada de que não seria fácil superá-lo nos bastidores.