Uma largada diferente

F1 agora chega ao Brasil pela Band. E temporada vê mudança histórica de regras e chance de adeus de Hamilton

Julianne Cerasoli Colaboração para o UOL, em Sakhir (Bahrein) Clive Mason - Formula 1/Formula 1 via Getty Images

Novo começo para a F1 no Brasil

Uma prova depois de se tornar o primeiro campeão de 1980 pela equipe Williams, Alan Jones venceu o GP dos Estados Unidos, com o argentino Carlos Reutemann em segundo e o francês Didier Pironi em terceiro. Os brasileiros Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi tiveram quebras e abandonaram. Muita coisa mudou desde aquela prova no circuito de Watkins Glen, quando o Brasil viu pela última vez a Fórmula 1 ao vivo pela TV Bandeirantes. 40 anos depois, a emissora volta a ter os direitos de transmissão da categoria.

Com a promessa de mais prestígio para um esporte que vinha perdendo terreno na TV Globo nos últimos anos, principalmente sem um piloto brasileiro na categoria (Pietro Fittipaldi chegou a disputar duas corridas no ano passado, mas será reserva em 2021), a Band aposta ao mesmo tempo em retomar sua vocação nas coberturas esportivas e em profissionais especializados que migraram das manhãs de domingo da Globo.

A Fórmula 1 versão 2021 chega com mais novidades, não apenas na TV brasileira. As regras que podem mudar o cenário da categoria a médio prazo entram em vigor neste ano, o último desta geração de carros que ajudou Lewis Hamilton a destruir recordes. E o astro inglês também começa o campeonato, cuja primeira etapa é neste final de semana, no Bahrein, com contrato válido somente até dezembro. Será esta a "última dança" do ídolo?

Clive Mason - Formula 1/Formula 1 via Getty Images
Hazrin Yeob Men Shah/Icon SMI/Corbis/Icon Sportswire via Getty Images

Todos os GPs ao vivo e mais espaço na programação

A TV Globo marcou época com as transmissões da Fórmula 1, tendo mostrado ao Brasil seis títulos mundiais de pilotos brasileiros. Mas nos últimos anos a categoria foi perdendo espaço na programação. As provas que não eram realizadas pela manhã deixaram de ser transmitidas ao vivo na TV aberta, assim como as classificações aos sábados, que foram para o canal pago SporTV.

Na Band, a divisão entre TV aberta e fechada continua, com o BandSports transmitindo os treinos livres e a classificação (a não ser na etapa de abertura, que terá tratamento especial). Outra aposta é dar mais espaço à F1 nos telejornais e programas esportivos da emissora. Além disso, todas as 23 corridas, independentemente do horário, serão transmitidas pela emissora.

A equipe terá nomes conhecidos dos fãs de Fórmula 1: Sérgio Maurício será o narrador, com Reginaldo Leme e Felipe Giaffone nos comentários e Mariana Becker nas reportagens.

Rafael Cusato/Band
Foto oficial do time da Band para a F1 (da esquerda para a direita): Reginaldo Leme, Felipe Giaffone, Mariana Becker (na TV ao fundo), Max Wilson e o narrador Sérgio Maurício

"A Band está tratando a F1 como ela nunca foi tratada"

Tão logo a Band confirmou o contrato de dois anos com a F1, o nome de Sérgio Maurício começou a pipocar nas redes sociais. "Eu me senti como um gato peludo, fechando até o olho. Para onde ele vira, sente carinho. Foi assim que me senti", disse o narrador de 58 anos, que estava havia 29 na Globo, narrando a categoria por mais de uma década no SporTV.

O narrador acredita que a relação foi construída nos treinos livres, com os fãs mais ferrenhos, com a lembrança ficando, mesmo com o SporTV deixando de exibir a transmissão alternativa há dois anos. "O treino livre às vezes é muito tedioso e você fica naquele 'embromation society'. Ali a gente acabou fazendo ponte com o telespectador, e acho que foi por isso que não esqueceram de mim."

Sérgio Maurício começou no rádio aos 16 anos com o sonho de narrar F1 um dia, e a partir da corrida deste domingo se torna, oficialmente, a voz da categoria no país.

Estamos largando atrás da Globo: eles têm a pole position nas manhãs de domingo e estamos brigando por uma primeira fila. Mas não tenho dúvida de que vamos ter uma audiência maciça porque a Band está tratando a F1 como ela nunca foi tratada antes. Na Band, ela é cereja de um belo bolo de casamento

Sérgio Maurício, narrador da F1 na Band

F1 na Band terá rostos conhecidos

Zanone Fraissat - Folhapress

Reginaldo Leme

O jornalista de 76 anos - quase 50 deles dedicados à cobertura da categoria - tinha decidido deixar as transmissões ao vivo quando saiu da Globo, em 2019. Pouco depois, contudo, surgiu a oportunidade de voltar à TV comentando a Stock Car na Band. Meses depois, o inesperado acordo entre a emissora e a F1 devolveu o veterano a sua 'casa'.

Divulgação

Mariana Becker

Desde 2008, foi a repórter fixa na cobertura de F1 na Globo. Não é à toa que a Bandeirantes também contará com a jornalista, trazendo as informações ao vivo dos circuitos. Uma vantagem para o trabalho da gaúcha será a presença da Band nas entrevistas das quintas anteriores aos GPs, algo que não acontecia pelo menos nos últimos quatro anos de Globo.

Lars Baron/Getty Images

Streaming da F1 estreia no Brasil

A F1 não terá apenas uma casa nova em 2021 no Brasil. Isso porque o streaming da categoria, o F1TV Pro, foi liberado para o país no início do mês. A plataforma é assinada exclusivamente por meio do site ou aplicativo da categoria, ou seja, não é ligada a nenhum outro serviço.

Na F1TV Pro, é possível assistir a todas as sessões da F1, F2 e F3, com a opção de narração em português (a mesma da Band e da BandSports), com apenas som ambiente, ou outras línguas, havendo também a possibilidade de se conectar em um canal em que mensagens adicionais via rádio são transmitidas.

Também há a opção de escolher câmeras onboard de qualquer piloto, além do acesso a dados em tempo real, como a posição do piloto na pista, a tabela de tempos, com qual composto de pneu o piloto está, etc. Além disso, o aplicativo coloca à disposição corridas antigas e documentários, inicialmente sem a tradução para o português.

Desde que foi lançado, em 2018, o F1TV Pro recebeu críticas por problemas técnicos, mas a estabilidade do aplicativo melhorou desde então. Uma das críticas é a impossibilidade de usar o produto em Smart TVs, a não ser por meio de Chromecast. Há opções de assinatura mensal de R$ 28,90, ou anual, por R$ 279,90.

Novidades nas equipes

  • Fernando Alonso

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  • Carlos Sainz

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  • Sergio Perez

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  • Daniel Ricciardo

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  • Mick Schumacher

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  • Nikita Mazepin

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    Imagem: Joe Portlock/Getty Images
  • Yuki Tsunoda

    O mais rápido dos estreantes de 2021 é, ao mesmo tempo, o menos experiente. Correrá pela AlphaTauri

    Imagem: Divulgação/Site oficial da Alpha Tauri
  • Sebastian Vettel

    Na Aston Martin, o alemão poderá recomeçar em uma equipe que tem todos os ingredientes para crescer

    Imagem: Lars Baron/Getty Images
Javier Martnez dela Puente/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

Novas regras prometem agitar o grid

As grandes mudanças técnicas acontecem em 2022 na Fórmula 1, mas há duas novidades que já estão em vigor e que podem alterar a relação de forças do grid. Uma é o teto orçamentário de US$ 145 milhões por ano para uma temporada de 21 corridas (a cada GP adicionado, o valor aumenta em US$ 1.2 milhão).

Até o ano passado, pelo menos metade das equipes estavam operando acima disso (Mercedes, Ferrari e Red Bull ultrapassavam os US$ 400 milhões). A ideia é limitar os gastos de desenvolvimento do carro, tentando fazer com que o diferencial seja mais a capacidade dos engenheiros. Por conta disso, os salários dos pilotos e gastos com marketing, por exemplo, não entram na conta.

Paralelamente a isso, agora há uma regra que limita os testes aerodinâmicos dependendo da posição da equipe no campeonato. É como se a categoria passasse a adotar um sistema de draft de jogadores (nos esportes americanos, os atletas que chegam à liga, normalmente vindos do esporte universitário, passam por um processo de seleção em que os piores times da temporada anterior tem direito às primeiras escolhas), mas adaptada a seu tipo de competição.

Os cálculos são um pouco complicados, mas dá para ter uma ideia da diferença comparando a quantidade de horas disponíveis de túnel de vento para a campeã Mercedes (216) em comparação com a quinta colocada Aston Martin (234), de janeiro ao fim de junho de 2021. Não é algo que vai fazer diferença logo de cara, mas cujo efeito deve ficar cada vez mais representativo.

Peter Fox/Getty Images

Adeus aos carros e aos pneus

Estas duas regras que limitam os gastos e o desenvolvimento aerodinâmico estarão na cabeça dos engenheiros o tempo todo ao longo do ano. Isso porque 2021 não será uma temporada normal, em que se aposta em três ou quatro atualizações no decorrer do campeonato sabendo que muitas peças ou soluções vão poder ser usadas em 2022. Na verdade, esses limites financeiros e técnicos só aumentam a necessidade de deixar o carro de 2021 de lado e focar mais em 2022, então todos vão querer começar já bem para poder fazer isso.

Ano que vem tudo muda, inclusive os pneus, que serão de 18 polegadas no lugar dos atuais de 13. E os carros vão ter a volta do efeito-solo, abandonado desde os anos 1980. Basicamente, só o motor será o mesmo no ano que vem.

Então 2021 será a despedida de carros que arrasaram o livro de recordes, superando algumas marcas que eram imbatíveis desde 2004. É claro que a nova geração pode estabelecer novos limites a médio prazo, mas o foco com a mudança é permitir que os carros sigam um ao outro mais de perto, permitindo mais ultrapassagens.

Mercedes/Divulgação

'Last Dance' de Lewis Hamilton?

Essa tem tudo para ser uma das histórias do ano: o agora Sir Lewis Hamilton só assinou sua renovação com a Mercedes no começo de 2021. E, para surpresa de todos, por apenas um ano. Mesmo entre quem segue a carreira do britânico de perto existe a dúvida do que vai acontecer ao final desta temporada, especialmente se Hamilton conquistar o oitavo título, feito inédito em 70 anos de F1.

Desde o ano passado, o piloto de 36 anos vem dando sinais dúbios. Ora se diz empolgado e cita o trabalho voltado à promoção da diversidade que vem fazendo na Mercedes, citando a F1 como plataforma para que ele consiga fazer ainda mais. Ora reconhece que é difícil se manter em alto nível por muito mais tempo e diz que, dentro da pista, já conquistou o que almejava.

"Ainda amo o que eu faço. Estou em uma posição privilegiada em que não preciso me comprometer por muitos anos. Veremos como será este ano. A questão será mais se, quando eu coloco o capacete, ainda tenho um sorriso no rosto."

Como pano de fundo, além do aprofundamento das ações que a Mercedes já vem fazendo para tornar a equipe mais diversa etnicamente e em termos de gênero, também há a questão financeira: será discutido no ano se os salários dos pilotos entrarão no teto orçamentário, e isso poderia ser decisivo para o futuro de Hamilton.

Joe Portlock/Getty Images Joe Portlock/Getty Images

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