UOL - Como foi o comunicado para ser demitido? Houve justificativa?
Walter Feldman - Participei da coletiva da seleção olímpica ao lado do Coronel, conversamos um pouco. Aí, no começo da tarde, estava recebendo as tarefas da diretoria de RH, já numa linha de substituir o (Marco) Dalpozzo nessa área. Eu ia acumular (as funções de secretário-geral e diretor de RH), talvez temporariamente. Na diretoria que ficou, talvez eu fosse a pessoa mais próxima dessa questão relacionada ao pessoal e um pouco por essa visão humanista. Já tinha conversado com Gilnei (Botrel, diretor financeiro) e o Dalpozzo para receber tudo e dar continuidade. Estava falando sobre isso com o pessoal do RH quando fui chamado pelo Carlô (Carlos Eugênio Lopes, vice-presidente jurídico). Ele foi à minha sala, pedi para ele esperar um pouco. Fui à sala dele e ele me disse: "Eu recebi a tarefa, dada pelo presidente. Em reunião com os vices, decidiram pela sua exoneração". "Qual o motivo?" "Nenhum motivo. Pediram para te comunicar, está aqui a carta". "Mas eles não quiseram falar?". "Tá, vamos ver o que a gente deve fazer agora".
E como foi a reação do Coronel Nunes?
Fui lá na presidência me despedir deles. Entrei na sala da presidência, cumprimentei o Nunes. Só falei "até logo". Cumprimentei o Giba. Nunes estava sentado. Diria que fez uma pequena flexão para cima, com sua cabeça. E me cumprimentou. Não falou nenhuma palavra. Fui na outra sala, que tem o jardim, onde estavam os vices. Nenhum comentário. Disse até logo. Saí, falei com os diretores nas suas salas. Reuni minha pequena equipe para comunicar. Esperei um pouco mais, fui ao RH e assinei os papéis.
A que atribui a sua demissão?
Nunca tinha sido exonerado. Nem pelo povo, porque saí da política por opção. Nunca tinha recebido o cartão vermelho, seja no setor privado ou público. O futebol é um palco de conflitos. Nesses seis anos e meio eu pude entender isso. Conflitos no dia a dia. São mais constantes do que a própria política. A política tem uma necessidade da síntese. Em algum momento, as forças da política se unem para algum objetivo possível. No futebol, sempre tem o derrotado e o vitorioso. Isso no campo, na bola. Na administração, vivemos nos últimos anos, depois do Fifagate, um processo extraordinário de transformação do futebol, particularmente na gestão. A CBF foi protagonista importante. Pudemos participar dessa mudança. Fizemos uma grande transformação. Mas sempre há as forças que jogam para o modelo anterior. Outras que jogam para um modelo muito avançado. E aqueles que entendem que é um processo permanente de mudança, de requalificação, de criação de novos métodos. Foi como a CBF atuou nesse último período, até os problemas que começaram ocorrer com o Rogério. Ele foi instrumento de transformação para uma CBF muito mais moderna, mais ágil, equilibrada.
Atribui sua saída a uma pessoa específica?
Não. Claramente a minha saída aconteceu por conta dos vices, com o presidente Nunes. Não de todos. Eu sei de dois ou três que não participaram. O Sarney, por exemplo, o Marcus Vicente... Talvez outro também, mas claramente Gustavo Feijó e Ednaldo Rodrigues tiveram papel importante. São dois que discordam muito do modelo. Os clubes nunca tiveram presença na CBF. Eu, desde que entrei, eu fui o responsável por fazer a ponte, interlocução, de forma cuidadosa. Mas não dava para negar o novo protagonismo dos clubes, com comissão nacional, conselhos técnicos muito determinantes sobre a fórmula de competição. A presença dos clubes na CBF foi muito forte nos últimos anos. O tempo todo sempre sintonizando com as federações, o que é o correto. O clube é diretamente filiado à federação. Mas ele, por ser agente eleitoral, tem uma relação também muito frequente com a CBF. É um ponto central.