UOL - A pandemia parou o futebol pela primeira vez em décadas. Será este o momento de repensar o esporte e o seu caminho a partir de agora?
Gianni Infantino - Neste momento, temos três coisas na nossa mente, por ordem de prioridade. Primeiro a saúde, em seguida, ajudar a comunidade futebolística nesta hora de necessidade e também pensar no futuro sobre a forma de sairmos juntos desta situação melhor do que antes. De uma forma estratégica e unida. Em harmonia e escutando as ideias de todos.
Não consigo dizer isto o suficiente. Nenhum jogo, nenhuma competição, nenhuma liga vale a pena arriscar uma única vida humana. Todos no mundo deveriam ter isto bem claro. Temos de aprender com isso. Seria mais do que irresponsável obrigar as competições a recomeçar, se as coisas não estiverem 100% seguras. Se tivermos de esperar um pouco mais, temos de fazer. É melhor esperar um pouco mais do que correr riscos.
Por isso, ouçamos o que as autoridades sanitárias têm a dizer. Ouçamos os peritos. Vamos trabalhar em estreita colaboração com eles e seguir sempre as suas orientações e conselhos. Depois disto, a nossa prioridade deverá ser, e estamos a trabalhar nisso, a forma de ajudar a comunidade futebolística nesta hora de necessidade, em que o impacto financeiro desta crise terá enormes repercussões.
E como terceira prioridade — como a vida desacelerou, como esta crise nos mostrou como somos frágeis — também podemos usar este momento para refletir e pensar no futuro. Sobre como podemos sair disto juntos melhor do que antes. De uma forma estratégica e unida. Em consulta, onde ouvimos as ideias de todos.
O que o sr. prevê para o mundo do futebol pós-pandemia? Menos torneios, calendário internacional diferente?
Por simples respeito pelas pessoas que sofrem, porque estão doentes ou porque perderam entes queridos ou porque enfrentam outros problemas tremendos, não devemos estar tentando recomeçar o futebol amanhã ou depois de amanhã ou concentrar a nossa atenção nos detalhes.
Isto não significa que não devamos pensar no futuro. É também nossa responsabilidade como administradores do futebol fazê-lo. Penso que vale a pena fazer uma análise estratégica e isto não só por causa da pandemia. Penso que já deveríamos ter feito este esforço coletivo antes mesmo. Mas agora talvez as pessoas estejam mais disponíveis para falar sobre o assunto.
Para o futuro, pouco antes de esta se tornar uma crise mundial, eu tinha exposto a minha visão para os próximos anos.
A primeira proposta que faço de 44 que existem é a seguinte: o calendário de jogos internacionais desempenha um papel central no crescimento sustentável do futebol em todas as regiões do mundo e a todos os níveis. Por esta razão, o sistema atual deveria, de uma vez por todas, ser discutido exaustivamente com todas as partes interessadas e revisto de acordo com as suas necessidades, num esforço coletivo para garantir uma abordagem verdadeiramente global.
Também afirmei recentemente no congresso da UEFA: "Temos de nos fazer muitas perguntas que talvez tenhamos evitado fazer no passado. Quantos jogos pode um jogador jogar num ano? Quantas competições temos? Quantas competições devemos ter? Que tipo de competições precisamos para o futuro? Jogamos demasiado ou não jogamos o suficiente, talvez, em algumas partes do mundo? E temos de compreender que o calendário de jogos internacional é um calendário de jogos global que tem de ter em conta muitas questões, como, evidentemente, o clima e a geografia".
Fiz estas perguntas. Não significa que eu tenha todas as respostas, mas acho que vale a pena pensar nisso. Não por causa do surto da doença Covid-19. Mas porque o devíamos estar a fazer de qualquer forma antes.