Brasileirão, Libertadores, Recopa Sul-Americana, Supercopa do Brasil, Taça Guanabara e, agora, o Campeonato Carioca. Ao completar um ano de Rio de Janeiro, Jorge Jesus levou o Flamengo ao sexto título sob seu comando.
Acontece que o sexto troféu erguido, o do bicampeonato estadual, não apresentou aquele time avassalador de meses pré-pandemia. A equipe rubro-negra teve de suar bastante para superar o Fluminense após três confrontos equilibrados, com direito a um tropeço, na final da Taça Rio. Um sufoco inesperado para um clube que estava habituado a vencer, vencer e vencer, de forma absoluta, dentro e fora de campo.
O título carioca veio após uma série de batalhas de sua diretoria nos bastidores --acirrando para valer a rivalidade do Fla-Flu. A marcha de sua diretoria extrapolou inclusive as fronteiras do Rio e chegou inclusive aos corredores de Brasília.
Nesse movimento, a guerra atingiu também uma antiga parceira, a Globo. Aliado a um antagonista da emissora, o presidente Jair Bolsonaro, o Flamengo fez lobby por uma medida provisória que altera a dinâmica das transmissões de futebol e tira poder da TV que reina há décadas no futebol nacional. Transmissões no YouTube e disputas de liminares caminhavam lado a lado com a peleja em campo.
Nos bastidores do futebol Carioca, ao menos a diretoria costurou uma aliança com o rival Vasco para enfrentar "inimigos" que insistiam em adiar a desejada retomada dos jogos em meio à pandemia do novo coronavírus. Batalha vencida, as partidas voltaram.
Mas não é que houvessem cessado os desafios. Outros capítulos da série iniciada em Brasília e envolvendo as transmissões na televisão se desenrolavam. Sua FlaTV, canal do time no YouTube, compartilhou a finalíssima contra o Fluminense com o SBT, e o jogo rendeu ótima audiência para o canal de Silvio Santos, e na FlaTV. Para o futuro, no entanto, dúvidas. A polêmica MP ainda não tem data para ser votada. Mesmo se for aprovada, a Globo tenta na Justiça anular seus efeitos sobre contratos vigentes.
O que deixa o torcedor flamenguista mais inquieto, de todo modo, não são essas disputas de bastidores. No fim, o que conta mais é o campo, acompanhando com apreensão a novela estrelada por Jorge Jesus. Responsável direto pelo brilho no trabalho no último ano, o técnico português agora virou sinônimo de incerteza na Gávea.
Fortemente assediado pelo Benfica, o treinador se calou e não revela a ninguém o que pensa para seu futuro. Após erguer o Carioca, clima no Flamengo poderia ser de absoluta festa por mais um título. Que tenham celebrado num Maracanã vazio, acaba sendo uma imagem simbólica, porém. Era como se o Flamengo estivesse sozinho em sua briga, agora tendo de enfrentar essa disputa sobre a qual não tem controle: é o "Mister"quem dá as cartas. Uma nova realidade a quem se acostumou a taças e tranquilidade dentro de fora de campo.