Prazer, Filipe Luís

Técnico foi solução caseira do Flamengo para salvar ano e levantar a taça

Luiza Sá Do UOL, em Belo Horizonte Wagner Meier/Getty Images

Quando assumiu o Flamengo, Filipe Luís não queria comparações. Nem sequer que a história de idolatria como jogador entrasse na equação sobre o caminho que iria trilhar como treinador. Anos antes de assumir a função, ele avisou que seria um comandante resultadista. A obsessão por vencer moldou os métodos, ideias e forma de jogo. O time do ex-lateral não tem medo de correr riscos. O Flamengo de Filipe Luís mostrou as caras. E deu certo com a conquista do título da Copa do Brasil em cima do Atlético-MG, após duas vitórias, 3 a 1 na ida e 1 a 0 neste domingo (10).

Foi o sonho de jogar no rubro-negro que fez Filipe Luís, ainda criança, correr atrás da bola. O avô levava a sério. Foi dele que nasceu o amor pelas cores que o neto foi representar anos depois. Multicampeão como atleta, ele pendurou as chuteiras no fim do ano passado quando viu que fisicamente não conseguiria mais disputar uma vaga no time. O Fla abriu as portas para a nova fase: o Filipe treinador.

A ideia de começar pela base era se testar. Entender se de fato teria aptidão para ser treinador. Os convites para virar auxiliar, especialmente com Jorge Jesus, e até coordenador na seleção brasileira não encheram os olhos. O pensamento era: começar pelos mais jovens, entender o trabalho e não errar quando a chance no profissional chegar. A ascensão meteórica fez com que 11 meses fossem suficientes para que ele vivesse todos os estágios. Dos primeiros treinos, aos primeiros títulos. Ele conseguiu não errar quando a oportunidade bateu à porta.

Quando projetou o futuro como treinador anos antes de se aposentar, Filipe Luís tinha dúvidas se seria capaz de ver um time fazendo o que queria e dando certo em campo. A resposta veio rápido, no orgulho de ver seus jogadores correndo por ele. A oratória e o poder de convencimento, que antes levantavam dúvidas nele mesmo, se mostraram mais do que eficientes no dia a dia. A kombi do Flamengo passou novamente e Filipe fez questão de colocar nela a taça da Copa do Brasil 2024.

Wagner Meier/Getty Images

A campanha

Terceira fase
Flamengo 1 x 0 Amazonas
Amazonas 0 x 1 Flamengo

Oitavas de final
Flamengo 2 x 0 Palmeiras
Palmeiras 1 x 0 Flamengo

Quartas de final
Flamengo 1 x 0 Bahia
Bahia 0 x 1 Flamengo

Semifinal
Flamengo 2 x 0 Corinthians
Corinthians 0 x 0 Flamengo

Final
Flamengo 3 x 1 Atlético-MG
Atlético-MG 0 x 1 Flamengo

A exigência aqui é máxima, tem que ganhar. Eu quero, como treinador, fazer uma nova história. Não quero que me comparem com nenhum outro treinador. Eu quero que todo mundo pense daqui para frente. Agora quero ver o novo Flamengo, que é o meu Flamengo, o Flamengo do Filipe Luís

Filipe Luís, técnico do Flamengo

Reconstrução

Foram nove jogos e 41 dias apenas, mas a resiliência de Filipe Luís no dia a dia ajudou a motivar os jogadores para a decisão. Após a eliminação na Libertadores, o ambiente com Tite ficou sério, desanimado. Sobrando pressão e faltando palavras. No único baque que teve até o momento, a derrota para o Fluminense no clássico, o atual treinador teve a pior noite de sono da vida. No dia seguinte, porém, chegou cedo ao Ninho do Urubu e manteve a mobilização pensando na semifinal contra o Corinthians. Em jogo de superação mental e física, o Fla saiu da Neo Química Arena classificado mesmo com um a menos.

Foi nessa partida que ele mostrou o lado Simeone. Uma das grandes referências que teve como treinador, o argentino deu a Filipe a capacidade de estruturar bem um time defensivamente e o entendimento sobre a necessidade de unir e motivar os jogadores em prol do objetivo. De Jorge Jesus, ele ganhou a capacidade de analisar todas as partes do campo e impor um futebol ofensivo, compacto. De Tite, o trato com os jogadores que já o conhecem tão bem. De Mourinho, os treinos dinâmicos e intensos. Da vivência própria em anos vitoriosos, a capacidade de deixar claro o que quer, sem dúvidas. Escutar o que o atleta tem a dizer, mas ainda assim executar no campo a ideia que está em sua cabeça.

Títulos de Filipe Luís em 11 meses

  • Copa Rio sub-17

    Em junho, o Flamengo superou Vasco nos pênaltis em São Januário e conquistou o título da Copa Rio sub-17. Foi o primeiro título dele como treinador.

    Imagem: Bruno Braz/UOL
  • Mundial sub-20

    Em agosto, Filipe Luís foi campeão mundial pelo sub-20 do Flamengo após a a vitória por 2 a 1, de virada, sobre o Olympiacos, da Grécia, no Maracanã.

    Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF
  • Copa do Brasil

    Em nove jogos no time profissional, Filipe Luís garantiu a vaga na final e agora o título da Copa do Brasil para o Flamengo, que superou o Atlético-MG.

    Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF
Gilson Lobo/Gilson Lobo/AGIF Gilson Lobo/Gilson Lobo/AGIF

Gerson: capitão e referência

Importante para o Flamengo antes de sair para jogar na Europa, Gerson retornou como um jogador fundamental. Vivendo o melhor ano da carreira e titular da seleção brasileira, o meio-campista ganhou a faixa de capitão dentro e fora do campo. Adorado pelos mais novos e referência dos mais antigos, o camisa 8 é o nome do time em 2024 e homem de confiança de Filipe Luís.

Por ele, estaria presente em todos os momentos possíveis da temporada. Foi assim que chegou aos 40 jogos consecutivos no ano somando partidas pelo Flamengo e pela seleção. Antes dessa sequência, superou um problema no rim que poderia tê-lo tirado do futebol para sempre. Ele apresentou um quadro de hidronefrose com infecção renal, passou por cirurgia e retornou em alta.

Gerson utilizou a experiência para se transformar no capitão perfeito. No ano passado, se envolveu em episódio de agressão a Varela em um treinamento e não era um dos primeiros capitães. Em 2024, porém, virou o dono da faixa e só a perdeu quando estava fora em recuperação. No Campeonato Carioca, ainda como desfalque, ficou no canto enquanto Arrascaeta levantava a taça de campeão. Agora, são suas mãos que ergueram o título pela primeira vez.

Os golpes na temporada

  • Lesionados

    O principal problema do Flamengo no ano foi com jogadores machucados. Além da série de desfalques de nomes importantes, lesões graves acabaram com o ano de alguns. O principal deles foi o atacante Pedro, que rompeu o ligamento em treino da seleção. Everton Cebolinha e Viña também sofreram e só voltam em 2025.

    Imagem: REUTERS/Sergio Moraes
  • Doping de Gabigol

    Maior ídolo da história recente do Flamengo, Gabigol viveu dois anos complicados. Em 2023, começou a perder espaço e não teve boas atuações. Em 2024, além do pouco espaço com Tite também recebeu em março uma punição de dois anos por tentativa de fraude em antidoping. Ele atua no momento sob liminar.

    Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF
  • Eliminação na Libertadores

    O golpe que culminou na mudança de rota com a demissão de Tite foi na Copa Libertadores. O Flamengo foi eliminado pelo Peñarol nas quartas de final do torneio sem sequer marcar um gol. No jogo de volta, no Uruguai, o time nem finalizou no alvo. As más atuações e o desgaste foram o fim da linha para o treinador.

    Imagem: EITAN ABRAMOVICH/AFP
  • A primeira derrota

    Não foram só flores na trajetória - ainda curta - de Filipe Luís como treinador profissional do Flamengo. Com um time misto e dominando a maior parte do tempo, a equipe perdeu para o Fluminense por 2 a 0 no terceiro jogo sob o comando dele e o comandante sentiu na pele a dor da derrota em um clássico importante.

    Imagem: Alexandre Loureiro/AGIF
NAYRA HALM/ESTADÃO CONTEÚDO NAYRA HALM/ESTADÃO CONTEÚDO

Sem goleiro de Copas

Chegar à final da Copa do Brasil como titular absoluto foi uma chance de o goleiro Rossi reescrever uma história que começou aos trancos e barrancos em 2023. Ainda com Jorge Sampaoli, o argentino era reserva, mas foi acionado na fogueira no segundo jogo da decisão contra o São Paulo. Na ida, Matheus Cunha falhou e perdeu a confiança do então treinador. Aquele seria apenas o segundo jogo de Rossi com a camisa rubro-negra.

O placar acabou 1 a 1 e com questionamentos sobre ele. Agora, porém, o cenário é outro. Fundamental no mata-mata, como diante do Bolívar pela Libertadores e do Corinthians na Copa do Brasil, Rossi deixou para trás o conceito de "goleiro das Copas" implementado por Tite. Com Filipe Luís, já largou como titular absoluto e acabou com as chances de Matheus Cunha, que vinha atuando até as quartas de final.

O ano termina de forma especial para Rossi, que desembarcou no Fla no meio de 2023 e demorou a pegar ritmo. Ele cumpre a profecia do próprio clube, que esperava o goleiro voando em 2024 após um período de adaptação. O argentino será o primeiro a começar e terminar a temporada no gol rubro-negro desde 2019, já que nos últimos anos houve uma alternância grande entre titulares e reservas. Apesar de não ter atuado na Copa do Brasil em todos os momentos, ele nunca teve o status de número um ameaçado.

Ainda no Carioca, Rossi se tornou o goleiro com mais jogos sem ser vazado na carreira. Após a semifinal contra o Fluminense, ele alcançou 960 minutos consecutivos sem sofrer gols, ultrapassando Cantareli, que ficou 959 minutos invicto. A marca chegou a 1.134 minutos.

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A última final

A história entre Gabriel Barbosa e Flamengo pode estar chegando ao fim. Mas essa relação não vai se encerrar sem mais um grande momento do centroavante no time onde se tornou o maior ídolo da história recente. Fundamental nas temporadas de 2019, 2020 e 2022, o atacante viveu um 2024 turbulento antes de fazer o que sabe melhor: decidir campeonatos.

Sem espaço desde o final do ano passado, Gabigol viu a chegada de Tite minar as chances. Sem sequência como titular, viu os problemas extracampo sobressaírem aos gols, que viraram mais escassos. A suspensão por fraude ao exame antidoping foi a primeira pancada. Praticamente um mês fora, o jogador voltou ao Ninho do Urubu aplaudido pelos funcionários e abraçado pelo clube. Foi comemorado a todo momento pela torcida, que acreditou no exagero da punição e o ovacionou no retorno ao Maracanã. Mas o capítulo mais complicado dessa relação veio em seguida.

Em um churrasco em casa, Gabriel apareceu usando a camisa do Corinthians. Foi o suficiente para que a desconfiança se instalasse. Se no final de 2023 a possibilidade de trocar de clubes ficou pairando no ar, mas passou, os rubro-negros criticaram a atitude do jogador que, como consequência, perdeu a camisa 10. Uma negociação com o Palmeiras na janela do meio do ano deixou ainda mais instável um relacionamento já abalado. A transferência não deu certo.

Gabigol sabia que tinha um longo caminho a escalar para recuperar essa relação. Sofreu uma lesão importante na coxa e passou cerca de um mês fora. Nem a ausência de Pedro daria a ele os minutos esperados. Estava claro: com Tite ele quase não jogaria.

Mas veio Filipe Luís. E com ele uma confiança inabalável no poder de decisão do agora camisa 99. A insistência se pagou. No primeiro jogo da final, foram dois gols nascidos dos pés de Gabriel que ajudaram na conquista do título. Segundo o jogador, esta foi sua última final com a camisa do Flamengo, pois ele disse que vai mudar de ares. De qualquer forma, Gabriel Barbosa gravou o nome na história mais uma vez.

Maior finalista e segundo maior campeão

  • 10 finais

    de Copa do Brasil tem o Flamengo na história. O Grêmio, em segundo, tem nove.

  • 5 títulos

    conquistou o Flamengo (1990, 2006, 2013, 2022 e 2024). É o mesmo número do Grêmio. O Cruzeiro lidera, com seis taças.

Gilson Lobo/Gilson Lobo/AGIF Gilson Lobo/Gilson Lobo/AGIF
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