Título a muitos pés

Flamengo tricampeão carioca vai muito além dos lampejos de Gabigol e Arrascaeta (e das críticas a Ceni)

Alexandre Araújo e Igor Siqueira Do UOL, no Rio de Janeiro Maga Jr./Estadão Conteúdo

Uma taça levantada por muitas mãos e realmente conquistada a muitos pés. O Campeonato Carioca mostrou um Flamengo que, com novas caras, fugiu daqueles 11 titulares que a torcida conhece de cor. Com o brilho de jovens e ressurgimento de alguns reservas, o time rubro-negro confirmou o favoritismo. Após uma vitória por 3 a 1 sobre o Fluminense, adicionou mais um tricampeonato estadual à galeria.

Com o momento de baixa de Botafogo e Vasco, rebaixados à Série B e em severa crise financeira, o Flamengo teve novamente o Flu como único grande rival na fase de mata-mata. Terminou o primeiro tempo da decisão vencendo com dois gols de Gabigol, mas viu sua superioridade técnica ser desafiada na fase final. O volante João Gomes, um dos destaques da base rubro-negra, entrou no segundo tempo e fez o gol do título, o nono do Flamengo desde 2019.

O gol de João Gomes, seu primeiro como profissional, traduz a diversidade no elenco. Na atual temporada, 38 jogadores diferentes — ou mais que três times — entraram em campo, contando Libertadores, Carioca e Supercopa do Brasil. Dando suporte aos lampejos de Arrascaeta e Gabigol, o Fla dessa vez contou com crias do Ninho como o recém-promovido Max, 20, que fez gol na estreia, e também viu reforços caros como Vitinho e Michael se reabilitarem.

As opções do elenco surgem em um início de temporada em que a diretoria não foi ao mercado em busca de reforços. E não é que isso modere a demanda por títulos. Assim, mais que mais uma peça para a sala de troféus, o título do Carioca dá ao técnico Rogério Ceni um parâmetro do que tem em mãos para desafios ainda maiores. Sendo que o maior desafio talvez seja proteger seu próprio cargo.

Maga Jr./Estadão Conteúdo

O que disseram os campeões

Os jogadores que estão aqui sempre mantêm a vontade, a alegria de jogar no Rio. São vários fatores que fazem a gente estar acima, estar em outro patamar. Nós somos o melhor time do Brasil, mas temos que nos dedicar todos os dias.

Gabigol, atacante do Flamengo

Vale a pena ressaltar a mentalidade da equipe. Nós entramos com a responsabilidade de defender o título e por três anos fizemos isso. Conseguimos lidar com o protagonismo sendo humildes. Tem que ser valorizado isso.

Diego, meia do Flamengo

Grandes profissionais, mesmo os mais velhos, têm uma conduta que fazem os mais jovens se mobilizarem. eu sou bem tranquilo em relação a isso (pressão), gosto das críticas e contrapontos e sei que fazem parte, fazem você refletir.

Rogério Ceni, técnico do Flamengo

Alexandre Vidal / Flamengo

Reaproveitados

Desacreditado no início da temporada, após um 2020 muito abaixo do esperado, o atacante Michael decidiu se apresentar para os treinos antes do combinado, produziu em campo e ganhou espaço. Outro nessa prateleira é Vitinho, mas com mais tempo de casa. Autor do gol do título da Taça Guanabara, ele foi uma espécie de "12º jogador" no elenco. Já que ele ainda é reserva, acrescentemos também nesta lista o centroavante Pedro. Um dos artilheiros do campeonato, com seis gols em sete jogos, adicionou novos ingredientes na briga pela titularidade.

Marcelo Cortes / Flamengo

Projetados

Houve ainda aqueles que se apresentaram à torcida, como o meia Max, que fez o gol da vitória do Fla na estreia pelo Estadual (veja abaixo) e foi integrado ao elenco principal. O atacante Muniz (foto) --um rosto nem tão desconhecido assim--, desandou a fazer gols e chegou a ser artilheiro da competição nas primeiras quatro rodadas, com cinco. Eles se juntam à relação de atletas que, aos poucos, já haviam ganhando espaço no grupo e têm sido chamados por Ceni a campo com frequência, como o lateral direito Matheuzinho e o volante João Gomes, autor do gol do título.

Veja os gols de Flamengo 3 x 1 Fluminense

O que disseram sobre os campeões

O Flamengo levanta mais uma taça só para não perder o hábito. Rogério Ceni sorria à beira do gramado. A Nação apenas repetia o velho "eu já sabia"

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Juca Kfouri

O Flamengo foi superior por praticamente todo o jogo. Venceu por 3 a 1 sem correr grandes sustos e ganhou pela sexta vez o tricampeonato carioca. Pelo elenco que tem, uma obrigação? Talvez.

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Mauro Cezar Pereira

Não tem jeito, amigos. Parte da torcida flamenguista pode resmungar, fazer campanha contra, criticar? Rogério Ceni segue calando muitas bocas.

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Milton Neves

Thiago Ribeiro/AGIF

Quer saber tudo sobre o título? Flamengo Agora

Quer saber o que disseram os jogadores, os dirigentes e o técnico do Flamengo sobre a conquista do Carioca? E como os comentaristas da TV e os influencers rubro-negros viram a conquista? Vá até o Flamengo Agora, em que o UOL Esporte reúne tudo o que foi dito sobre o clube.

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Maga Jr./Estadão Conteúdo

Técnico e equilibrista

Em pouco mais de cinco meses no Flamengo, Rogério Ceni vive uma situação inusitada: chega ao terceiro título — já havia conquistado o Campeonato Brasileiro e a Supercopa do Brasil —, mas ainda está longe de ser uma unanimidade para a arquibancada virtual rubro-negra. É uma situação também estranha a Ceni. Como goleiro, foi um dos grandes ídolos da história do São Paulo. Como técnico do Fortaleza, também foi aclamado.

Em que pese o sarrafo elevado por Jorge Jesus, Ceni procura se equilibrar na constante corda bamba imposta pelos rubro-negros, que se habituaram a fazer ponderações sobre o técnico após qualquer mero elogio. Ao que tudo indica, ainda tem a confiança da cúpula para dar continuidade ao trabalho. Ajuda o fato de ter resgatado alguns atletas do elenco e ajudar na transição de jogadores da base.

O treinador chegou ao Ninho para estancar a crise gerada pelos resultados sob a batuta do catalão Domenec Torrent, mais um técnico que despertou pouca simpatia da torcida. Ele ainda tenta colocar suas digitais na equipe com consistência. A sacada de Willian Arão como zagueiro e Diego como volante foi uma dessas tentativas, que deu certo na reta final rumo ao título brasileiro, mas que agora volta a ser questionada. Afinal, sempre medido pelo alto patamar alcançado sob a orientação de Jorge Jesus, o time ainda esbarra em alguns problemas de execução. A coesão defensiva é a maior delas.

Thiago Ribeiro/AGIF Thiago Ribeiro/AGIF

Quando só fazer gols não é o suficiente

O Flamengo também teve seus percalços na caminhada. O sistema defensivo causou dor de cabeça para Ceni, naquela procura constante de treinadores por equilíbrio entre os setores. O ataque seguiu produzindo — com 34 gols em 16 partidas. Mas a defesa levou 13 gols e só ficou sem ser vazada em seis jogos.

Pode não parecer muito, mas é preciso lembrar que, em boa parte da fase de classificação (agora ganhando o nome de Taça Guanabara), o nível de exigência não é dos mais elevados. E também não dá para ignorar o que se passa com o Fla na Libertadores — já foram nove gols sofridos em cinco jogos, o que contribui muito mais para os questionamentos ao técnico.

Sem Rodrigo Caio, que conviveu com um incômodo no músculo adutor da coxa direita, foram feitos testes e novas duplas foram rascunhadas. E a solução não foi encontrada, comprovando a importância do beque revelado pelo São Paulo. Dando voltas, até mesmo Arão, o novo zagueiro da praça, foi deslocado para o meio-campo, para ser volante novamente por um curto período.

O treinador, também criticado por não reconhecer facilmente seus supostos erros, não esconde neste caso que se preocupa com o modo do Fla se defender e que o título carioca não vai apagar essas dúvidas tão cedo. O tempo, agora, corre para que soluções possam ser encontradas visando aos demais compromissos que aparecerão ao longo da temporada.

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