O futebol de várzea, outro destes ambientes de culto à essência do esporte, mantém suas tradições. Disputado em bairros e campos geralmente sem gramado de muita qualidade, estrutura ou qualquer semelhança ao padrão Fifa, é uma manifestação cultural com muitos adeptos. No já citado Espírito Santo, por exemplo, a várzea tem quase tanta repercussão e às vezes alcança mais público que o futebol profissional, que tem clubes sem expressão nacional. A ideia de resgatar a emoção perdida nos gramados profissionais leva até algumas empresas a investirem mais na várzea.
A marca de cerveja Kaiser, por exemplo, organizou durante quase duas décadas uma competição de futebol amador em São Paulo por onde passaram jogadores como Elias, Ricardo Oliveira, Zé Roberto e Leandro Damião. O torneio foi disputado pela última vez em 2014 - não por acaso, o ano considerado por muitos como auge da "gourmetização" do esporte. A boa notícia para o futebol raiz é que vai voltar em 2019. O formato e o nome são outros: agora é Taça Kaiser e a empresa só patrocina, não mais organiza.
"A competição acontece em Curitiba nos dias 19 e 20 de janeiro entre os campeões da edição deste ano dos torneios amadores regionais patrocinados pela marca, que são a Copa Corujão (MG), a Liga Amadora da Capital (PR), o Campeonato Regional da Liga Blumenauense de Futebol (SC) e a Copa Cidade Master de Santa Cruz do Sul (RS). Investir no futebol amador é aproximar ainda mais a empresa do público", explica Gustavo Hila, gerente de marketing da Kaiser.
A volta do torneio tem a ver com uma campanha de marketing da empresa, que tem o mote "Pela volta do futebol de verdade". "Queremos estimular uma reflexão sobre o que era o futebol de antigamente e estimular a volta da autenticidade, objetividade e simplicidade aos gramados. O futebol hoje passa por um momento de questionamento, não só pelo formato dos campeonatos, mas até a postura dos jogadores dentro de campo", explica o especialista da marca.
Até o tradicional Desafio ao Galo, sucesso até a década de 90, está voltando repaginado.
Essa simplicidade, característica do futebol da várzea, é o que fez com que a modalidade tivesse tantos adeptos no Brasil e fora. "O futebol tem uma raiz muito popular, muito simples, um jogo de regras claras de se entender, material esportivo simples, todos os tipos físicos que podem jogar, culturas, classes sociais... tem uma base muito grande no chão, na origem, no dia a dia das pessoas", diz o sociólogo Maurício Murad.