Como você deve imaginar, há vantagens e desvantagens nos dois modelos. No associativo atual, por exemplo, os clubes pagam menos impostos do que empresas, pois contam com isenções tributárias. O contraponto é que, ao funcionar como empresas, os clubes-empresa passam a dar segurança aos investidores. Afinal, passam a estar submetidos a medidas de controle e transparência dos recursos colocados em caixa.
E é aí que entra a CBF na conversa. A entidade que comanda o futebol está muito interessada justamente em aumentar o volume de dinheiro que circula no futebol. Ao tomar posse como presidente, no início deste ano, Rogério Caboclo incluiu em seu discurso um desejo de "subir o patamar do futebol dentro do PIB nacional". Para isso, apoiaria medidas que "tornem viáveis aos clubes o recebimento de investimento nacional e internacional". Seu objetivo é reduzir a diferença para clubes europeus que são empresas e recebem investimento externo, podem ser comprados ou vender ações em bolsas.
É aqui que entra o caso a que André Sica, o advogado das comissões da CBF e da FPF, se referiu na frase ali em cima: apesar da vontade, a ampla maioria dos clubes do futebol atual não consegue se enquadrar nesse modelo de clube-empresa. São instituições que, mesmo com a possibilidade de virar empresa, não conseguiriam atrair investidores e ofertar ações na Bolsa de Valores — e ainda teriam de pagar mais impostos.
Caboclo disse, em entrevista ao Blog do Rodrigo Mattos, que não defende a obrigação de que os clubes se tornem empresas. "A gente não pode obrigar uma formação jurídica diferente daquela que o clube quer e que o clube reúne condições de ter pela lei. Ou seja, não tem como obrigar que o clube se transforme em empresa. Mas tem como criar condições, de como empresa ou como associação como são formatados hoje, que obtenham investimentos importantes", disse.
A principal discordância da CBF em relação ao projeto do governo está justamente na questão tributária. Pelo projeto do deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ), todos os clubes teriam de deixar de ser associações sem fins lucrativos e se tornar sociedades anônimas ou limitadas. A mudança viria com uma carga de impostos significativa. Atualmente, os clubes são isentos do pagamento de Confins, Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CLSS), PIS e Imposto de Renda (IR).
Vale lembrar que, na última reunião entre clubes e membros da CBF e do governo, ficou praticamente acertado que os clubes não serão obrigados a aderir ao novo modelo. Isso seria opcional.