Não tem data para acabar

Futebol brasileiro voltar hoje no Maracanã, mas torneios que deveriam acabar em 2020 só devem terminar em 2021

Do UOL Dikran Junior/AGIF

O futebol brasileiro está de volta 93 dias após a interrupção forçada pela pandemia do novo coronavírus. Flamengo e Bangu se enfrentam hoje no Maracanã na retomada do Campeonato Carioca. Primeiro torneio a ser reiniciado, o Estadual do Rio retorna longe de um cenário traçado como ideal. Às pressas, com uma confirmação publicada a menos de 36 horas do apito inicial, a partida reflete o desespero de clubes e entidades, que encaram disputas políticas e esportivas para retomar o esporte e, principalmente, as receitas.

Desde o dia 17 de março, quando o GAS venceu o Atlético Roraima por 3 a 0 e encerrou momentaneamente o Roraimense, último estadual paralisado, o esporte parou no país. A Copa Libertadores, ainda em sua fase grupo, e a Copa do Brasil, em meio à terceira fase, também tiveram seus calendários interrompidos, com desfecho de disputas ainda em modo de indefinição.

Em meio a muitas incertezas, uma coisa parece inevitável. Mesmo com pressa para voltar, com o Brasil ocupando o segundo lugar mundialmente em casos do coronavírus, 2020 só terminará em 2021. Não há datas para encerrar os torneios domésticos até dezembro. Por isso, as emoções em campo devem invadir o começo do próximo ano. Para torcedores, jogadores ou dirigentes, os desdobramentos práticos da crise ainda irão longe.

Dikran Junior/AGIF
Reprodução/TV Globo

Flamengo: treinos escondidos e liderança no retorno

O Campeonato Carioca retornar justamente com um jogo do Flamengo representa bem todo o esforço do clube pela volta. Ao entrar hoje em campo para encarar o Bangu, às 21h, no Maracanã, o Rubro-negro consolida um caminho que contou com articulação política, muitos testes e, sobretudo, a liderança no processo.

O Fla foi o primeiro a voltar aos treinos, ainda que houvesse divergência sobre se os decretos oficiais permitiam isso. As primeiras atividades foram no dia 20 de maio, sem divulgação prévia. Antes de voltar ao Ninho do Urubu, o clube testou 296 pessoas, número que incluiu jogadores, funcionários e pessoas próximas. Após 38 casos darem positivo, o clube refez semanalmente a testagem e não acusou mais nenhum diagnóstico positivo para Covid-19.

Foi decisivo o trabalho nos bastidores dos dirigentes, que se apoiaram também no desejo do presidente Jair Bolsonaro de ver os jogos realizados novamente. Um encontro do presidente Rodolfo Landim com o mandatário da nação foi alvo de críticas, visto que a agenda ocorreu em plena pandemia. O médico Márcio Tannure também virou alvo, visto que a comitiva rubro-negra não usava máscaras e não guardava distanciamento.

Amparado pelos poderes, o Flamengo vê a sua preparação muito mais acelerada em relação a de seus concorrentes. Com grana para se equipar e muita costura política, o Flamengo curte uma vitória que foi muito além das quatro linhas.

Caio Blois / UOL Esporte

Nem todo mundo é a favor no Rio

Enquanto o Flamengo comemora, outros clubes reclamam de briga desleal. Botafogo e Fluminense estão encarando a desvantagem de lutarem sozinhos contra federação, rivais e os órgãos públicos em relação à volta do Campeonato Carioca.

Desde o início da pandemia e a consequente paralisação do futebol, a dupla se mostra radicalmente contra o retorno, o que tem causado muita discussão, embate e desgaste nos arbitrais recentes para debater o assunto.

O posicionamento contrário é tão forte que, mesmo com o principal rival, o Fla, treinando há 30 dias, Bota e Flu sequer retornaram suas atividades nos centros de treinamento — o alvinegro, por exemplo, voltou apenas hoje (18), enquanto o tricolor, nem isso. Os dois clubes entendem que precisam de, no mínimo, 15 dias de preparação para enfrentar uma partida oficial.

A favor destes clubes, até o momento, somente um singelo pedido do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, para que o desejo de que só atuem em julho seja atendido — algo que tem sido solenemente ignorado pelo presidente da Ferj, Rubens Lopes.

Com o impasse, Botafogo e Fluminense pretendem ingressar com uma ação no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RJ) contra a decisão de jogarem dia 22, numa forma também de se resguardar de um possível W.O. - nenhum deles pretende entrar em campo na segunda-feira.

Delmiro Junior/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Flexibilização em meio ao luto no Rio

Apesar da flexibilização, a Covid-19 ainda impõe luto diário no Rio de Janeiro. O estado atingiu a marca de 86.963 infectados e têm 8.138 óbitos confirmados pela doença de acordo com boletim da ontem (17) do governo do estado. Apesar disso, governo e prefeitura da capital aceleram medidas de reabertura de comércio e outras atividades, embasados nas quedas da curva de contágio e mortes, que na última semana foram 29,2% e 17,8% menores em relação ao período entre 31/05 e 07/06. A ocupação dos leitos de UTI no sistema de saúde estadual também vem diminuindo paulatinamente: se já foi de 100%, está atualmente em 64%. Nas enfermarias, a taxa é de 57%.

Dos oito hospitais de campanha prometidos, apenas dois estão em funcionamento: no Parque dos Atletas, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, e justamente no Maracanã. Placas no entorno do estádio falam em alta chance de contágio, mas o prefeito Marcelo Crivella diz que isso não é problema para o retorno do futebol.

"Não tem problema com hospital de campanha. Os jogadores vão entrar por um portão que não tem ligação com o hospital. Se a Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro liberou é porque não tem risco. Eles estarão lá para fiscalizar vestiários e atendimento médico aos jogadores" afirmou.

Na capital, o plano de flexibilização gradual do isolamento social chegou à segunda fase, onde atividades em igrejas e na orla foram retomadas em parte. É possível nadar e mergulhar, mas a permanência na areia está vedada. Shoppings, mercados populares e centros comerciais tiveram a reabertura antecipada.

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E como está no resto do Brasil?

Edson Lopes Jr./UOL Edson Lopes Jr./UOL

Em SP, frustração e nada de treinos. Jogos? Só no fim de julho

Quando a bola rolar na segunda maior cidade do país para o Campeonato Carioca, a principal metrópole brasileira seguirá com jogadores de futebol em casa. Em São Paulo, apesar da expectativa de retorno ainda nesta semana, o governador João Dória só liberou a volta das atividades em 1º de julho — fato que incomodou os clubes.

Diferentemente do que acontece no Rio, os times paulistas dialogam para retomar seus treinos de maneira conjunta. Ainda que o Red Bull Bragantino tenha "furado" o acordo momentaneamente (e sido advertido em reunião da Federação Paulista de Futebol), a ideia é manter a igualdade na disputa que ainda não tem data para ocorrer.

A situação do estado de SP ainda é crítica no combate à pandemia. Epicentro da doença no país, São Paulo já soma 191.517 casos e 11.521 óbitos, segundo o boletim do governo estadual de ontem (17). O índice de ocupação dos leitos de UTIs é de 67% e dos de enfermaria, 51,8% — esses números já foram maiores, superando os 73% de ocupação da UTI. Na capital de São Paulo, esse número já passou dos 90%.

Mantida a previsão de treinos no início de julho, os jogos só ocorrerão no final do mês. Em uma das tantas reuniões entre FPF e clubes, ficou acertado que o mínimo de 20 dias de preparação será respeitado.

Sem treinos agora, o pagamento da última cota da verba de TV também será adiado. Em conversa com a Globo diante da pandemia, os clubes acordaram receber o terço final em duas etapas: cinco dias antes do primeiro jogo da volta e cinco dias antes da final do Paulistão. No total, cada clube grande recebe cerca de R$ 26 milhões pelos direitos do torneio, enquanto os menores ficam com R$ 6 milhões cada.

Divulgação/Lucas Uebel/Grêmio FBPA

No Rio Grande do Sul, primeiros clubes a voltar a treinar recuaram

No Rio Grande do Sul, Grêmio e Internacional foram os primeiros clubes brasileiros a voltar a treinar. Desde então, porém, ainda não fizeram trabalhos com contato. Os dois realizam treinos físicos desde 5 de maio e buscam autorização para iniciar atividades mais complexas.

Pelo menos seis dos outros dez times que disputam o Gauchão continuam sem treinar — primeiramente pela quarentena, depois por problemas financeiros e, mais recentemente, por impacto do aumento de casos do novo coronavírus. Segundo o governo do estado, ontem o Rio Grande do Sul somava 17.128 casos e 387 óbitos - em 31 de março, eram 11.487 casos e 243 óbitos.

O Caxias, campeão do primeiro turno estadual, por exemplo, chegou a voltar aos treinamentos depois de 85 dias, mas parou de novo. No sábado (13), a cidade de Caxias do Sul entrou em status de alto risco de contágio para Covid-19. Assim, os dois clubes da cidade, Caxias e Juventude, fecharam seus locais de treinamento.

O mesmo vale para o Esportivo, da vizinha Bento Gonçalves. O Ypiranga, de Erechim, manteve programação mesmo com sinal de alerta na cidade. Aimoré, Novo Hamburgo, Pelotas, Brasil de Pelotas e São Luiz-RS aguardam data de volta dos jogos oficiais para retomarem treinamentos. O São José-POA fez atividades.

O plano da FGF (Federação Gaúcha de Futebol) é realizar o Gauchão em 22 dias. Um item do protocolo sugerido é manter todos os times em regime de concentração ininterrupta, mas a ideia esbarra nas condições financeiras das equipes do interior.

A ideia mais polêmica, contudo, é sobre onde jogar. Grêmio e Inter chegaram a oferecer CT's em Porto Alegre, Eldorado do Sul e Alvorada para receber os jogos restantes. O plano mais forte, no momento, é dividir o campeonato em duas cidades. Porto Alegre e mais uma. Caxias do Sul era candidata, mas com os novos casos, perdeu força. Pelotas corre por fora.

O Gauchão tem mais três rodadas da fase de classificação pela frente — a primeira delas cheia de clássicos, incluindo Gre-Nal no estádio Beira-Rio. Os oito classificados avançam para mata-mata do returno e se o campeão não for o Caxias, deve haver finalíssima. A FGF deve propor jogo único na decisão. Reunião hoje entre federação e Governo do Estado vai tratar de nova projeção para volta dos jogos.

Alessandra Torres/AGIF Alessandra Torres/AGIF

Mineiro volta com times confinados e uma sede

O Campeonato Mineiro 2020 será disputado a partir de 26 de julho. A ideia da Federação Mineira era que os jogos fossem retomados em 19 de julho, mas a pedido do governo de Minas Gerais, a situação foi alterada — o estado soma 23.347 casos e 537 óbitos segundo boletim de ontem. As partidas ocorrerão em uma sede única. Belo Horizonte é o local predileto, mas requer o aval da prefeitura.

As delegações serão isoladas em hotéis e farão testes antes dos jogos para evitar a proliferação do novo coronavírus. A princípio, o exame sugerido é o PCR. Contudo, há a probabilidade de mudanças no protocolo após avaliação do governo de Minas Gerais. A proposta da FMF será lapidada pelo governo, mas já há aval para a volta do esporte no estado. América-MG, Atlético-MG, Boa Esporte, Cruzeiro e Tombense são os únicos dentre os 12 integrantes do torneio que voltaram aos treinos.

Baiano: pequenos não têm time para mandar a campo

Na Bahia, Bahia e Vitória já voltaram aos treinos, mas a grande maioria dos clubes do interior não têm time para colocar em campo, o que deixa a situação do Campeonato Baiano totalmente indefinida. Apesar disso, a ideia da Federação Bahiana ainda é terminar a competição em campo.

Caso isso aconteça, existe uma expectativa nos bastidores de que o campeonato retorne na segunda quinzena de julho. Hoje, o Estado da Bahia conta com quase 40 mil infectados e 1.222 mortes por coronavírus.

Ceará pode virar sede da Copa do Nordeste

Em tese, o Campeonato Cearense retorna no dia 20 de julho. O Estado passa por etapas para a liberação da economia e das atividades e os jogos de futebol estão incluídos apenas na quarta e última fase, que está programada para daqui um mês.

Caso o Ceará seja escolhido como sede da Copa do Nordeste, a Federação deve solicitar ao Governador que antecipe o futebol para a fase 3 (dia 6 de julho). Com isso, a competição regional seria disputada antes do Estadual. Vale ressaltar que o avanço nas fases só acontece se o Ceará apresentar uma melhora na pandemia. O Estado já registra mais de cinco mil mortes por coronavírus e 85 mil casos registrados.

Goiano não deve voltar; federação pensa em amistosos

Apesar do número relativamente baixo de mortes por coronavírus em Goiás (255), já é quase certo que o Goianão não vai voltar. Os times do interior desmontaram seus elencos e precisariam de dinheiro para remontá-los. A Federação e os clubes trabalham com uma possibilidade concreta de um quadrangular amistoso para o mês de julho entre Goiás, Atlético-GO, Vila Nova e Goiânia, mas ainda dependem de uma liberação da Prefeitura para que os jogos — sem torcida — sejam permitidos. Por enquanto, não se discute a inclusão de outros times nesse torneio, uma vez que suas cidades ainda não têm treinos autorizados. Quanto ao Estadual, ainda não foi discutido como ele ficaria no que diz respeito a campeão, rebaixados e vagas para outras competições.

Alta de casos no Paraná deixa futebol distante

O Campeonato Paranaense segue totalmente indefinido, até por conta do panorama atual em relação aos treinamentos dos clubes e à pandemia, que voltou a piorar. Segundo boletim do governo do estado, são 11.085 casos e 386 óbitos no Paraná. O número de casos confirmados, porém, bateu recorde nesta semana: foram 696 confirmações na segunda-feira — até maio, o estado só tinha registrado um dia com mais de 300 novos casos (27/5 com 318).

O Athletico Paranaense, que tem o CT do Caju localizado na capital, voltou a ser impedido de treinar por conta de um decreto da Prefeitura de Curitiba, que suspendeu diversas atividades, entre elas os treinos esportivos. Já Coritiba e Paraná, a princípio, continuam com os treinos, uma vez que seus CTs estão localizados em municípios da região metropolitana. Porém, há a possibilidade de um decreto do Governo nesta semana que impediria as atividades de todos os clubes do Estado.

Pernambucano: times voltaram a treinar

O Campeonato Pernambucano é mais um que continua sem data para voltar. Clubes e federação querem a retomada da competição, mas dependem da liberação do governo estadual, que está bem cauteloso por conta da situação da pandemia. São mais de quatro mil mortes por coronavírus registradas e algumas cidades ainda estão em situação alarmante, com aumento alto de casos por dia. Com Sport, Náutico e Santa Cruz voltando a treinar na última segunda-feira, o mais provável é que o Estadual só retorne a partir de julho.

Não existem mais datas para o futebol de 2020

Mesmo que todos os clubes voltassem a jogar hoje, ainda assim não haveria como cumprir o calendário do futebol brasileiro de 2020 em 2020. De 18 de junho a 6 de dezembro, existem 50 datas disponíveis para o futebol, com duas partidas por semana. Quando as competições foram paralisadas, faltavam 76 datas para a finalização do calendário da CBF.

Essas datas são separadas em Estaduais (seis), Brasileirão (38), Libertadores e Sul-Americana (11), Copa do Brasil (13), Eliminatórias da Copa de 2022 (oito), amistosos data Fifa (dois) e uma data vaga. A soma dá 79, mas há uma explicação: a final da Libertadores, marcada para o dia 21 de novembro, aconteceria em meio a uma rodada do Brasileirão. Além disso, duas rodadas da fase de grupos da Libertadores ocorreriam de forma simultânea a duelos da Copa do Brasil.

Com apenas 50 datas disponíveis, não haveria como encerrar a disputa dos Estaduais, do Brasileirão, da Libertadores e da Copa Sul-Americana até o fim de 2020. Juntos, os torneios somam 68 datas. Se forem cumpridas como previsto antes da pandemia, o calendário 2020 terminará por volta de 6 de fevereiro, sem pausa para Natal e Ano-Novo.

Essa conta não inclui as oito datas das Eliminatórias, tampouco os dois amistosos previstos da seleção brasileira. Para quem levanta a possibilidade de um time jogar três vezes por semana, vale lembrar que é preciso ter um intervalo de 66 horas entre os jogos, como prevê o Estatuto do Torcedor.

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Qual a situação dos campeonatos?

  • Brasileirão

    Existem conversas para início do torneio no meio de agosto, mas isso ainda é improvável, já que situação dos times ainda está indefinida. Mesmo se esse cronograma for mantido, não existem datas para o final do torneio em 2020 ? clubes já definiram que é necessário jogar 38 rodadas, para não se perder dinheiro.

  • Copa do Brasil

    O torneio em mata-mata também não tem data de disputa, mas é vista como prioridade pela CBF. Para isso, seria realizada em data reservadas para os torneios sul-americanos. Esse detalhe é o que impede, por exemplo, o uso de alguns meios de semana para o Brasileirão e joga o final do torneio para 2021.

  • Estaduais

    Até agora, o único com data certa para início é o Carioca. Outros que já tem data anunciada convivem com incerteza sobre liberação local (como o Mineiro). Mas os problemas são maiores. No Paraná, por exemplo, o estado lida com alta de casos. Em Goiás e na Bahia, com os times que não tem mais jogadores.

  • Libertadores e Sul-Americana

    Com países com fronteiras fechadas e o Brasil como epicentro da pandemia no planeta, os deslocamentos são um problema quase intransponível. A Libertadores tem dois cenários: um é retomada até outubro e final em 2021; outro, mudança de formatos, com menos jogos e sedes em um país, como na Liga dos Campeões.

  • Eliminatórias da Copa do Mundo

    Fifa pensa em cancelar as datas Fifa de 2020. Com isso, as Eliminatórias Sul-Americanas, que deveriam começar em março, seriam adiadas para 2021. Novamente, o problema dos deslocamentos, incluindo entre continentes, é o problema. Com isso, existe uma chance concreta de a seleção brasileira não entrar em campo em 2020.

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Dinheiro das TVs explica porque se contraria a lógica

O desespero pelas verbas de TV explica porque o Brasil contraria a lógica mundial de só permitir a volta do futebol após o controle da curva. Como se sabe, o dinheiro dos direitos de transmissão é o que faz a roda girar no futebol nacional — toda a cadeia foi subitamente comprometida com a paralisação. A Globo, que concentra os principais torneios, temeu pela debandada de anunciantes e brecou possíveis antecipações que sempre salvavam os clubes em crises. Sem certeza de retorno do calendário, sem entradas nos cofres.

Assim, clubes se viram em momento financeiro delicado. Como a maior parte dos patrocinadores cortaram pagamentos já que não havia entrega dos acordos e sem a verba da TV, as agremiações foram obrigadas a cortar salários de jogadores e funcionários. O cenário de aflição levou dirigentes a pressionarem autoridades de forma sistemática ao longo dos últimos meses.

O sangramento foi mútuo. No começo de junho, o UOL noticiou que o Premiere, serviço de pay-per-view esportivo do Grupo Globo, perdeu mais de 400 mil assinantes, com prejuízo mensal mínimo próximo da casa dos R$ 32 milhões. O SporTV, tradicional líder de audiência da TV paga, amargou nos últimos meses uma das piores performances de sua história.

Nem mesmo as reprises de jogos famosos salvaram. Em fevereiro, no último mês cheio pré-pandemia, o canal teve 0,40 ponto e 0,87% de share (participação). Atualmente, perde para a concorrência e se vê longe de uma solução — o Flamengo, mina de ouro da casa, ainda não tem acordo com o Grupo Globo pelos direitos do Carioca.

Outros canais dedicados à programação de esporte viram seus índices de audiência despencar. Em fevereiro, a ESPN Brasil ocupava o 24º lugar da TV paga, com 0,29 ponto de média e 0,64% de share (participação). Em maio, a emissora do grupo Disney amargou a posição de número 69 — com 0,02 ponto. A retomada desses, no entrando, já começou. Em junho, já com a volta gradual no futebol da Europa, o canal mostrou sinais de recuperação, com 0,14 ponto de audiência. O Fox Sports repete as métricas da "irmã" de Grupo Disney. A aposta agora é nos programas de repercussão das rodadas do futebol nacional.

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