O torcedor de futebol que acaba de chegar à maioridade não conhece a vida sem a Globo como detentora das transmissões dos principais campeonatos no Brasil. Daí o momento histórico agendado para a noite de hoje, com o Fla-Flu decisivo do Campeonato Carioca: será o SBT, em parceria com a FlaTV, a receber aquela que foi costumeiramente a maior audiência da televisão brasileira às quartas, a faixa nobre do futebol.
Após injetar mais de R$ 2 bilhões nos clubes pelos direitos de TV em 2019, a Globo entrou em 2020 disposta a repensar sua política de investimento no setor. A pandemia acelerou a decisão de renegociar alguns contratos em vigor, como aquele com a Fifa pela Copa do Mundo. Em âmbito menor, mais especificamente no Rio de Janeiro, a briga com o Flamengo e a MP 984/20 assinada por Jair Bolsonaro anteciparam uma postura de desprendimento a campeonatos (e contratos) antigos.
A liberdade do clube mandante ao negociar a venda da transmissão dos jogos fará, ainda, a emissora rever cada centavo investido no futebol em uma diretriz que pode ser repetida no Campeonato Brasileiro em caso de novas disputas.
E, ainda que a transmissão na emissora de Silvio Santos seja algo pontual —uma negociação isolada do Flamengo para o jogo decisivo do Estadual do Rio—, acompanhar diversas partidas de futebol longe do grupo que sempre dominou as transmissões pode sinalizar algo que venha a ser rotineiro nos próximos meses e anos. Talvez o jogo da noite de quarta-feira ganhe, mesmo, outras casas. Mas isso não quer dizer também que a Globo esteja pronta para abdicar de todas as brigas.