Pode jogar. Mas deve?

Goleiro Bruno, condenado por feminicídio, e o círculo vicioso de suas tentativas de voltar ao futebol

Talyta Vespa Do UOL, em São Paulo Adriano Vizoni/Folhapress

Um homem de 35 anos passou sete anos preso. Ao deixar a prisão em regime semiaberto, procura voltar à profissão que exerceu desde sua adolescência. Você ajudaria esse homem a reencontrar um emprego?

Agora, pense que esse homem é Bruno Fernandes, ex-goleiro do Flamengo que foi condenado a 20 anos e nove meses de prisão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, sequestro e ocultação de cadáver de Eliza Samúdio, a mãe de um de seus filhos.

O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. O mais recente Mapa da Violência, de 2015, aponta que 33,2% dos assassinatos de mulheres são cometidos pelos próprios parceiros ou ex-parceiros. Eliza Samudio, morta em 2010, é uma das vítimas dessa estatística.

Para que ninguém se esqueça: Eliza foi sequestrada, torturada, morta e, ao que indica a principal linha de investigação do caso, esquartejada. Ela deixou um filho, fruto do relacionamento com o goleiro titular do Flamengo, time com a maior torcida do país.

Em 2019, Bruno foi beneficiado com progressão de pena e foi transferido para o regime semiaberto. Legalmente, está apto a retornar ao seio da sociedade. Pelo que diz a lei, o goleiro pode e deve ocupar uma função social. Pode —e deve— trabalhar.

Hoje, Bruno está em sua sexta tentativa de voltar ao futebol.

A partir de agora, o UOL Esporte detalha as minúcias do ciclo vicioso clube contrata-torcida protesta-jogador é demitido que Bruno vive atualmente e traz análises a respeito do limite da lei quando se julga um crime de feminicídio brutal em um país onde ser mulher é lutar para sobreviver dia após dia.

Adriano Vizoni/Folhapress

Menos de 20% dos egressos do sistema carcerário consegue emprego

Aos 35 anos, Bruno está chegando ao limite da carreira de jogador. A posição de goleiro é aquela com maior longevidade no futebol, mas ainda assim quem supera, por exemplo, os 40 anos ainda é exceção. Que ele tenha mais cinco, seis, dez anos de carreira pela frente. Ele deve seguir no futebol?

A maioria dos ex-detentos, aqueles que se mantém à margem da mídia, sofrem para encontrar emprego após deixar a prisão. De acordo com o Depen (Departamento Penitenciário Nacional), apenas 18,9% dos deles trabalham. Segundo o advogado criminalista e mestrando em Desenvolvimento Regional pela UNIALFA Sidney Robson Costa, é dificílimo conseguir um emprego sendo egresso do sistema prisional. Bruno é uma exceção. Desde 2014, mesmo antes de receber a progressão de pena, foi contratado por três clubes e recebeu proposta de outros dois, que não oficializaram a contratação por pressão popular.

Atualmente, o goleiro faz parte do elenco do Rio Branco-AC, que disputa a série D do Brasileirão. Ao anunciá-lo, o clube perdeu seu principal patrocinador e a treinadora do time feminino pediu demissão. Apesar de a lei garantir que Bruno está apto a voltar à vida comum —mesmo sem ter até hoje assumido o assassinado da ex-companheira—, o anúncio de sua chegada gera protestos dentro e fora dos clubes.

Cristiane Mattos/O Tempo/Folhapress Cristiane Mattos/O Tempo/Folhapress

O vai-vem de Bruno

Em fevereiro de 2014, quatro anos após ser preso, Bruno foi contratado pelo Montes Claros —o time mineiro disputava a segunda divisão do campeonato estadual. A possibilidade de retornar aos gramados durou pouco: em novembro do mesmo ano, lhe foi negada judicialmente a permissão para defender a equipe. O jogador nunca recebeu o salário previsto no contrato por questões financeiras envolvendo o clube, mas apareceu no BID da CBF (o sistema que controla os contratos do futebol brasileiro) por quase três anos. O vínculo, que valeria até 2019, foi rompido em 2017.

No mesmo ano, em 2017, o goleiro conseguiu um habeas corpus a partir de uma liminar deferida pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF. Em março, foi anunciado pelo Boa Esporte, clube de Varginha, também em Minas Gerais. Foi quando começaram os primeiros protestos contrários ao retorno ao futebol: pelas redes sociais, o clube mineiro foi alvo de manifestações e críticas. O Boa também perdeu patrocinadores, mas contou com o goleiro em cinco partidas. Em abril, um mês depois de sair, Bruno voltou à prisão após a decisão que o liberou ter sido revogada pela Procuradoria-Geral da República.

O benefício do regime semiaberto veio em julho de 2019 e ele foi anunciado pelo Poços de Caldas, de Minas Gerais, em 27 de agosto. Solto mediante condições como se recolher todos os dias a partir de 20h, só sair de casa depois de 6h, apresentar-se em juízo até o dia 10 de cada mês para prestar contas de suas atividades, sujeitar-se a fiscalização e não frequentar bares e boates, ele não conseguia jogar. Bruno morava em Varginha, a 150km de Poços de Caldas e o novo clube deveria (mas não fazia) bancar os treinos remotos. A autorização para jogar só veio em outubro, quando foi liberado para viajar e disputar um amistoso — foram apenas 45 minutos em campo pelo clube.

Em janeiro de 2020, Bruno rescindiu com o time mineiro e, logo depois, foi anunciado pelo Operário Várzea-Grandense, do Mato Grosso. O time recuou do anúncio logo depois. Em entrevista ao UOL Esporte, concedida em janeiro, André Xela, supervisor de futebol do Operário-MT, revelou que "devido a toda essa repercussão e à perda de alguns patrocínios, tivemos que colocar o pé no chão, fazer uma reunião e rever essa contratação". No dia do anúncio, parte da torcida do Operário realizou um protesto.

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Reprodução/Instagram

Empregado, com protestos. Rio Branco insistirá?

Em julho de 2020, chegou a vez do Rio Branco-AC, que ficou bastante satisfeito ao saber que teria dinheiro o suficiente para bancar Bruno. O goleiro, entretanto, alertou o presidente do clube, Neto Alencar, de que os protestos seguiriam. "Eu disse a ele: 'se a Justiça que condenou foi a mesma que liberou você, a sociedade não pode impedi-lo de trabalhar'", diz Alencar. "Ele me perguntou: 'vai comprar a briga?'. Respondi que dava para brigar. O Bruno ficou assustado quando eu disse que daria e não teria medo de enfrentar nada. A minha visão parte da legalidade e estávamos atrás de um goleiro", disse.

A briga mencionada por Alencar começou no fim do mês, quando o clube perdeu seu principal patrocinador. Logo depois, a técnica do time de futebol feminino, Rose Costa, pediu demissão devido à contratação do goleiro. Disse ao UOL Esporte que "o atleta não é um mero profissional, ele é um exemplo para a sociedade, para os jovens. E como um homem que cometeu um crime bárbaro como esse pode ser exemplo para alguém?".

Um dia depois da apresentação do goleiro, um grupo de mulheres protestou em frente ao estádio. Havia, também, manifestação marcada para o primeiro jogo de Bruno, mas com portões fechados, não pôde ser executada. Representante de comunicação do clube, Jairo Barbosa afirma que as críticas vieram pelas redes sociais, mas no dia a dia "mães levam os filhos para tirarem foto com Bruno" — fato que aconteceu também nos outros times que o contrataram.

"O Rio Branco sabia do risco, mas optou por contratá-lo por ele ter uma carreira consolidada antes do que aconteceu", fala Barbosa. Ele mostra animação ao comentar os poucos resultados com Bruno no time: foram dois jogos e um gol sofrido. "A gente ganhou de 7 a 1 na semana passada, pensa? O que a gente quer é chegar à Copa do Brasil. São R$ 600 mil que ganhamos da CBF caso a gente consiga. Olha que ótimo".

Antes de chegar ao Rio Branco, Barbosa conta que o goleiro foi oferecido pelo próprio empresário a outro time do estado, que recusou a sugestão. "Quando foi oferecido ao Rio Branco, o clube achou ótimo porque ele cabia nas nossas capacidades financeiras e agregaria muito ao futebol. Ah, tem a ressocialização, né, é importante, está dentro da lei. Por que não?".

O UOL Esporte fez essa mesma pergunta —"se está liberado pela lei, por que não?"— a vários especialistas.

Joel Silva/Folhapress

"Nenhum estigma pode ser maior que a lei"

O primeiro foi o advogado Sidney Robson Costa. Segundo ele, o ciclo vicioso do contrata-protestam-demite tem a ver com o estigma. Ele afirma que a ressocialização é necessária e a sociedade não pode julgar um crime para além da lei. "Existe mais preconceito social do que ausência de direito, uma vez que ele alcançou a progressão da pena", afirma.

"O sistema de cumprimento de pena no Brasil é progressivo. O Bruno passa por uma repulsa social. É compreensível devido à gravidade do crime, mas nenhum estigma pode ser maior que a lei. O sistema do cárcere deixa uma mancha na vida do cidadão, então, quando o mercado de trabalho se abre a essa pessoa —o que acontece pouco— e a sociedade repugna isso, é como se desse a ele uma pena alternativa".

Pelo fato de ele ser uma pessoa pública, se saísse da posição de goleiro, de profissional do futebol, para ser gari, por exemplo, talvez a sociedade aceitasse. Porque estaria no subconsciente coletivo, todas as vezes em que Bruno varresse ruas do Rio de Janeiro, que ele estaria pagando pelo que fez. Que está no lugar certo, limpando rua".
Sidney Robson Costa, advogado criminalista e mestrando em desenvolvimento regional pela UNIALFA

O especialista pontua críticas ao sistema penal —sua área de pesquisa. "As falhas no sistema dificultam o processo de ressocialização e devolução do indivíduo à sociedade. Práticas de ressocialização efetivas causam efeitos positivos na autoestima do reeducando, no trato dele com as pessoas. E isso tem total reflexo na reincidência carcerária. Não conseguir um trabalho, não conseguir voltar à sociedade, aumenta muito o índice de reincidência criminal".

Homens denunciados por violência doméstica devem ser acompanhados. Mas Bruno, não

Em abril, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou uma alteração na Lei Maria da Penha. A partir de então, homens denunciados por violência doméstica precisarão passar por acompanhamento psicossocial, além de frequentar grupos de reabilitação. O tratamento pode acontecer individualmente ou em grupo. A alteração foi baseada no programa "Tempo de Despertar", de autoria da promotora de Justiça de São Paulo Gabriela Manssur.

O projeto incentiva os encontros e a reflexão para que seja combatida, de fato, a causa da violência. A medida não interfere em outras determinações que devem ser cumpridas pelos criminosos: eles permanecem proibidos de entrar em contato com a vítima. A medida protetiva acontece paralelamente. Criado em 2014, de lá para cá apresentou resultados significativos: entre os participantes da iniciativa, a taxa de reincidência dos casos de violência doméstica passou de 65% para 2%. Nos dois últimos anos, o índice chegou a 0%.

A lei do feminicídio foi criada em 2015, cinco anos após o assassinato de Eliza. Bruno, então, não tem acompanhamento psicossocial.

Adriano Vizoni/Folhapress

"O que é mais importante? Recomeçar a vida ou jogar futebol?"

O empreendedor social Leonardo Precioso compara a situação de Bruno com a que viveu há 12 anos. Ele foi preso por sequestro em São Paulo, um crime hediondo como o feminicídio. Precioso passou sete anos recluso e, hoje, trabalha com ressocialização de presos. Ao UOL Esporte, diz que o processo de ressocialização de Bruno está atrelado ao espetáculo e ao marketing. E isso, para Leonardo, prejudica o próprio goleiro.

"A gente fica rotulado. O Bruno precisaria se reconstruir primeiro como cidadão. E, de repente, o papel de atleta não volta mais. O que é mais importante? Recomeçar a vida ou jogar futebol?"

Leonardo fala com conhecimento de causa. Também era jogador profissional. Passou pelas categorias de base do São Caetano e defendeu times pequenos do interior do país. Conta que sonha em voltar ao futebol, mas não como Bruno tenta. Ele entende o esporte como um papel importante na reconstrução social de alguém que ficou recluso e quer trabalhar esse lado.

Quando deixei a prisão, o que eu mais queria era voltar para a minha casa, ficar perto de quem amava, tomar um banho no meu chuveiro, dormir na minha cama. Eu queria tudo, menos chamar atenção. Sabia que, em um momento difícil como aquele, holofote só faria mal. O resto é uma conquista lenta, e é preciso respeitar esse processo. É o famoso aceita que dói menos

Leonardo Precioso, que fundou uma ONG para ajudar na ressocialização de egressos do sistema carcerário

Acervo pessoal

Início, fim e recomeço

A história de Léo Precioso

A vida, muitas vezes, não caminha por linhas retas. Quando tudo parecia encaminhado para que Léo Precioso vivesse do futebol e tirasse sua família da realidade em que ela vivia na zona leste de São Paulo, os problemas começaram. Endividado após rodar por clubes do interior e buscar sustento na várzea, Léo entrou para o mundo do crime.

Ele, que sempre quis ser ídolo de alguém, sequestrou uma pessoa, foi preso e virou membro de uma facção criminosa durante os oito anos em que ficou detido. Nesta reportagem, você vai saber como tudo isso aconteceu. E como ele conseguiu sair desse universo para, décadas depois do primeiro sonho com a bola, enfim, virar um ídolo de verdade.

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Ricardo Benichio/Folhapress Ricardo Benichio/Folhapress

"Bruno em posição de idolatria é naturalizar a violência de gênero"

Psicóloga, doutora em saúde pública e mestre em processos psicossociais em saúde, Vanessa Nolasco Ferreira é mais enfática: "Ser número 1 de um time, o líder, o goleiro, em um país que exalta o futebol é ocupar uma posição de idolatria. Ter um feminicida na função de ídolo mostra à sociedade que ele está sendo recompensado". Para ela, o caso de Bruno mostra que o Brasil ainda tem uma sociedade patriarcal em que o gênero masculino tem muitas vantagens sobre o feminino.

"A forma como Bruno é conduzido aos clubes reforça a violência estrutural contra mulheres. Ele consegue contratos que muitos presos que cometeram crimes menores jamais conseguiriam. Por quê? O problema está no sistema penal, na estrutura. Sem políticas de equidade, a gente vai o tempo todo bater na mesma tecla", diz. A psicóloga pontua que alçar alguém que cometeu uma violência de gênero brutal fere a parcela social que luta por equidade.

Todos têm direito a uma ressocialização. Só que esse caso envolve muito mais do que a ressocialização em si. É uma espetacularização. Colocar o Bruno em um clube de futebol, numa posição de idolatria, é naturalizar a violência de gênero. Tem uma família que não pôde viver o luto envolvida. Tem uma criança envolvida".
Vanessa Nolasco Ferreira, doutora em saúde pública e mestre em processos psicossociais em saúde

Vanessa explica, ainda, que a ressocialização de fato só é possível quando o criminoso cria consciência a respeito dos próprios atos violentos, quando existe um tratamento e uma reflexão a respeito do próprio lugar na sociedade. "O futebol no Brasil representa uma idolatria, um sentimento de herói. A ressocialização deve vir de outro campo, o do trabalho, paralelamente a um tratamento psicológico para que não haja reincidência".

"O sistema no Brasil é falho. É preciso combater estruturalmente a desigualdade de gênero. O ciclo da violência —toda mulher sabe do que se trata— começa com insultos, humilhações, provocações e ameaças. Então, se tornam agressões, e tudo isso gira em torno de a figura feminina ser representada como passiva. Dar uma posição de destaque a uma pessoa que protagonizou isso coloca em voga que, no Brasil, os homens podem fazer o que quiserem —e terão legitimidade em algum nível".

Esse caso mostra que você pode subjugar uma mulher e isso não vai pesar na sua vida em termos de imagem. A ressocialização é imprescindível, é necessário que ele passe por um tratamento psicológico intenso. Os clubes não oferecem isso a ele. Como dizer que há ressocialização?

Vanessa Nolasco Ferreira, psicóloga, doutora em saúde pública e mestre em processos psicossociais em saúde

Ricardo Benichio/Folhapress Ricardo Benichio/Folhapress

Quem tem traços psicológicos de Bruno "não gosta de viver no anonimato"

Um laudo psiquiátrico elaborado durante o processo criminal afirma que Bruno Fernandes tem traços de personalidade extremos. O documento aponta egoísmo, necessidade de obter prazer a qualquer custo e um espectro de narcisismo grande. Quem comenta essa avaliação é o psiquiatra e professor de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná, Marcelo Kimati. Integrante da diretoria da Associação Brasileira de Saúde Mental, Kimati relaciona os transtornos de personalidade à necessidade de Bruno de estar sob os holofotes.

"Ele é narcisista, era líder de um grande time de futebol. Uma pessoa com traços psicológicos como os que ele apresenta não gosta de viver no anonimato, ", explica. "Por isso insiste em começar a ressocialização sob os holofotes", fala o especialista. O exemplo para isso é que Bruno, no lugar de tentar criar uma carreira em uma área alternativa, treinava em Minas Gerais à espera de um convite para voltar ao futebol —que foi feito pelo Rio Branco.

"A impossibilidade de aprender com o erro é uma característica clássica do conceito de psicopatia como transtorno de personalidade antissocial. Ele pode até entender que cometer o delito faz com que ele sofra, mas esse é o único motivo que o impede de voltar a cometê-lo. E, não, por empatia, por ter causado dor a outra pessoa", afirma. "Ele fez propaganda de canil havendo a suspeita de que ele deu o corpo da vítima para cachorros comerem. Isso prova que Bruno não se importa com a dor da família que não pôde viver o luto. Fica claro o sinal de que não existe arrependimento".

Ricardo Benichio/Folhapress

"É difícil que Bruno consiga um papel social que não seja o de pária"

Para Kimati, o contexto de épocas interfere nas reações sociais a processos como esse. O feminicídio, por exemplo, se tornou lei apenas em 2015. "É muito difícil que o Bruno consiga um papel social que não seja o de pária. Assim como, hoje, o feminicídio é pauta ampla. Se esse caso tivesse acontecido há 20, 30 anos, a gente não estaria preocupado com a ressocialização dele. Porque o Brasil sempre foi um país que exclui pessoas", afirma.

Em 1992, há 28 anos, o ator Guilherme de Pádua assassinou a tesouradas a atriz Daniela Perez. Ambos formaram par romântico na novela "De Corpo e Alma". Ele nunca voltou a trabalhar como ator e não houve discussão, à época, sobre um retorno. Segundo Kimati, a abrangência das pautas de direitos humanos de 30 anos para cá explicam essa diferença. "Isso era impensável [falar sobre Pádua voltar a atuar]. Falar de ressocialização, hoje, é essencial", diz.

A solução, para o psiquiatra, seria Bruno abrir mão do futebol, algo que, de acordo com o laudo psicológico, ele não seria inclinado a fazer.

O ideal para essa reinserção é uma condição que passa longe da fama: um trabalho sem ser no topo. Entender o preço de um crime como esse, e, então, recomeçar. Do zero".
Marcelo Kimati, psiquiatra e professor de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná

Talyta Vespa/UOL

"Vê-lo em posição de idolatria é matar minha filha novamente"

"A impossibilidade de viver o luto faz com que eu tenha uma ferida aberta, e que eu sinta que vou morrer com ela aberta", emociona-se Sonia de Fátima, mãe de Eliza, Samudio. Em conversa com o UOL, ela diz que revive a dor da perda da filha sempre que seu algoz é anunciado por algum clube.

Sonia pede que a reportagem esclareça que ela não se opõe à ressocialização do goleiro, desde que seja fora de campo. "O Bruno em um papel de ídolo, de exemplo, que é o que faz o esporte, é como um prêmio para ele. É como se ele pudesse acabar com a vida de uma mulher, da mãe do filho dele, e ainda fosse premiado por isso. A sensação é de que tudo bem ser um feminicida. Em sete anos, sua vida está reconstruída. E a da minha filha, quem devolve?"

A mãe de Eliza tem a guarda do neto, Bruninho, que, hoje, tem dez anos. "Tentei evitar, mas ele ama futebol. E joga no gol, acredita? É o que ele ama, fazer o quê? Não posso impedir. Ele, uma criança, sim, tem e deve ter a oportunidade de se tornar um ídolo do esporte. E ele é apaixonado. Ganhou o campeonato estadual daqui no ano passado, tem um monte de medalha", afirma.

Para finalizar, um último pedido: "Vira e mexe, tem gente que diz que eu faço alienação parental com meu neto. Por favor, coloca isso no texto, porque nenhum repórter coloca: minha casa está aberta para qualquer psicólogo ou assistente social que quiser acompanhar a educação que dou ao Bruninho".

Ele é só uma criança querendo viver, mas é como se uma sombra ainda nos atormentasse. Como se a gente não pudesse seguir em frente. Bruninho tem direito de começar a vida no futebol. Bruno tem direito de encontrar um trabalho e recomeçar a própria vida. Mas vê-lo em uma posição de idolatria é matar minha filha novamente

Sonia de Fátima, mãe de Eliza Samudio

A reportagem entrou em contato com a advogada de Bruno para que ela falasse sobre o lado do goleiro a respeito do tema. Ela disse que não tinha interesse em se pronunciar.

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