Um homem de 35 anos passou sete anos preso. Ao deixar a prisão em regime semiaberto, procura voltar à profissão que exerceu desde sua adolescência. Você ajudaria esse homem a reencontrar um emprego?
Agora, pense que esse homem é Bruno Fernandes, ex-goleiro do Flamengo que foi condenado a 20 anos e nove meses de prisão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, sequestro e ocultação de cadáver de Eliza Samúdio, a mãe de um de seus filhos.
O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. O mais recente Mapa da Violência, de 2015, aponta que 33,2% dos assassinatos de mulheres são cometidos pelos próprios parceiros ou ex-parceiros. Eliza Samudio, morta em 2010, é uma das vítimas dessa estatística.
Para que ninguém se esqueça: Eliza foi sequestrada, torturada, morta e, ao que indica a principal linha de investigação do caso, esquartejada. Ela deixou um filho, fruto do relacionamento com o goleiro titular do Flamengo, time com a maior torcida do país.
Em 2019, Bruno foi beneficiado com progressão de pena e foi transferido para o regime semiaberto. Legalmente, está apto a retornar ao seio da sociedade. Pelo que diz a lei, o goleiro pode e deve ocupar uma função social. Pode —e deve— trabalhar.
Hoje, Bruno está em sua sexta tentativa de voltar ao futebol.
A partir de agora, o UOL Esporte detalha as minúcias do ciclo vicioso clube contrata-torcida protesta-jogador é demitido que Bruno vive atualmente e traz análises a respeito do limite da lei quando se julga um crime de feminicídio brutal em um país onde ser mulher é lutar para sobreviver dia após dia.