Quando ele virou Guga

Tenista celebra 20 anos do bi em Roland Garros, que confirmou seu lugar na elite: "O 1º título foi fantasia"

Alexandre Cossenza Colaboração para o UOL, em São Paulo Pool RAT/RIBEIRO / Colaborador /Getty Images

No dia 11 de junho de 2000, Gustavo Kuerten levantou o troféu de Roland Garros pela segunda vez. Uma conquista que veio após vitórias duríssimas sobre Yevgeny Kafelnikov, Juan Carlos Ferrero e Magnus Norman, três dos tenistas mais perigosos no saibro naquela temporada, três rivais que já haviam ocupado ou ainda subiriam aos postos mais altos do mundo. Um feito que hoje o próprio brasileiro chama de seu primeiro Roland Garros real. Calma: não é que tenha se esquecido ou que agora menospreze a conquista histórica de três anos antes.

Em 1997 foi fantasia. Podia ser só o acaso e aquele acaso único da minha carreira. Em 1999, eu fiz quartas de final em Roland Garros, Wimbledon e no US Open. Era: 'Tá chegando'. Ao mesmo tempo, entre o 'tá chegando' e o 'acontece', às vezes tem uma distância enorme."

A conquista no ano 2000 em Paris trouxe legitimidade ao tênis que praticava e colocou Guga em outro patamar Era o último degrau antes do salto para desafiar Andre Agassi e Pete Sampras e, aí, sim, ele também assumir a liderança do ranking. "Ali a minha carreira muda da água para o vinho. Estar satisfeito por ficar entre os melhores, ser dez do mundo, aparecendo no Finals, estar entre esses caras.... Ok, legal, mas agora vem o extra, o último passo que falta, que era ser número um do mundo e que Roland Garros meio que sela, traz o carimbo de que era uma questão de tempo e que isso iria acontecer."

Para comemorar e dar os parabéns ao catarinense de 43 anos, o UOL Esporte preparou este especial, revivendo desde os torneios de aquecimento e a preparação para o slam parisiense até os 11 dramáticos match points no derradeiro duelo com o sueco Magnus Norman.

Pool RAT/RIBEIRO / Colaborador /Getty Images

'Hamburgo e Roma me deram duas mensagens bem claras: Safin e Norman'

Vindo de uma derrota decepcionante em 1999, quando fazia um belíssimo torneio em Paris e acabou eliminado nas quartas de final pelo ucraniano Andrei Medvedev, Gustavo Kuerten voltava a se apresentar como forte candidato ao título no ano 2000. Em sua busca por afirmação, o brasileiro fez uma ótima temporada de saibro na Europa. Após uma derrota precoce na estreia do Masters de Monte Carlo, Guga foi longe no Masters de Roma, onde, esgotado fisicamente, acabou superado na final pelo sueco Magnus Norman, número quatro do mundo.

Na semana seguinte, em Hamburgo, o catarinense não só deu o troco em Norman nas quartas de final como levantou o troféu ao bater o russo Marat Safin em um dramático duelo de cinco sets. O cenário para Roland Garros, portanto, estava bem desenhado. Guga era mais candidato do que nunca, mas sueco e russo seriam adversários de valor.

As campanhas antecedentes foram fundamentais para o brasileiro encontrar uma maneira diferente de enfrentar jogadores de muita potência em seus golpes. A mudança de estratégia se mostraria crucial na segunda semana de Roland Garros.

"O jogo do Safin foi primordial porque eu aprendi duas coisas: a primeira é que sem querer eu encontrei um jeito de jogar com esses caras. De repente, fazendo menos força e me preservando mais, eu tenho mais sucesso do que ficar batendo na bola que nem um maluco. Eu batia porque era lindo ficar batendo na bola. Entrava tudo. Pegava um troglodita que nem o Safin, que bate mais ainda, para ele era um sonho. Então eu aprendi essa faceta técnica que me ajudou enormemente durante o campeonato nessa segunda [semana]", lembro Guga em videoconferência com jornalistas nesta semana.

Trocar mais bolas, variando peso e altura, e confiar no físico para se defender dos ataques, era outra maneira de ser eficiente. Um estilo que lhe permitiria vencer jogando "apenas" 70% de seu máximo. Agora, diante da dor e do cansaço, recorrer a tempos médicos também era parte de uma estratégia que funcionou tanto em Hamburgo quanto daria certo em Roland Garros, diante do espanhol Ferrero na semifinal.

"Também dá para jogar tênis assim. E no final, pode ser o suficiente para chegar ao quinto set. Não preciso me apavorar. Vai levando game a game. Tambem usei o meu tempo médico lá na final de Hamburgo. Não é só para parar o jogo, é porque eu estou caindo aos pedaços! Quem puder me ajudar aqui e eu tiver um pouco mais de tempo para descansar, vai ser ótimo. E se eu tiver que usar isso, como foi contra o Ferrero na semifinal [de Roland Garros], para dar uma acalmada no jogo porque está uma ventania para o lado de lá e eu não aguento mais correr de um lado para o outro, é a minha condição. Eu tinha dor no corpo inteiro."

Clive Brunskill /Allsport Clive Brunskill /Allsport

Biarritz x Floripa: malandragem de Larri fez Guga mudar pico

Parte essencial da preparação para um torneio Grand Slam —os mais valiosos da modalidade—, principalmente para quem vem de 12 jogos em 14 dias, é descansar corpo e mente antes da estreia. Para Guga, um eterno apaixonado por Florianópolis, ficar tanto tempo na Europa, longe de casa, era um sofrimento. Seu técnico, Larri Passos, por outro lado, sabia que no intervalo de uma semana entre a final de Hamburgo e o primeiro dia de Roland Garros, viajar de volta ao Brasil significaria perder dois dias em trânsito e mais algum período precioso com o ajuste ao fuso horário (a França costuma estar cinco horas à frente de Brasília no período de Roland Garros).

O treinador, entanto, planejou uma logística mais simples, aplicada com certa malandragem. Convidou a Hamburgo o amigo Alfio Lagnado, dono da marca de roupas de surfe Hang Loose. Juntos, Larri e o empresário convenceram Guga a descansar em Biarritz, no litoral da França, onde o tenista poderia relaxar e curtir seu passatempo preferido: o surfe.

"Eu fui bastante reticente porque queria sempre voltar para casa. A gente fez uma adaptação no primeiro ano, meio que na marra. O Larri foi me enrolando. Ele chamou um amigo meu, o Alfio, para ir lá me acompanhar no campeonato, depois a gente ia para Biarritz e ficava lá, fazendo de conta que surfava. Mais remava do que surfava porque pega duas ondinhas, três no máximo. Soltava o corpo dentro d'água, fazia alguma atividade física e relaxava a cabeça. "Em 1999, já funcionou super bem. Fez total diferença. No primeiro ano, ele me convenceu dessa forma a suportar isso. Fez sentido na nossa preparação, e a partir daí começamos a fazer todos os anos."

Enquanto estava no litoral, Guga fazia hidroterapia e recuperação muscular. A volta a Paris acontecia sempre na quarta-feira anterior ao torneio. Era quando o brasileiro começava a aquecer as turbinas, retomando os treinos e aumentando gradualmente a intensidade até estar pronto para a estreia.

Antonio RIBEIRO/Gamma-Rapho via Getty Images Antonio RIBEIRO/Gamma-Rapho via Getty Images
Pool RAT/RIBEIRO/Gamma-Rapho via Getty Images

Opinião: o mais difícil e brilhante torneio de Guga em Paris

É possível dizer, sem exagero, que a chave masculina de Roland Garros/2000 foi uma das mais fortes e equilibradas dos últimos 20 anos. Talvez até a mais parelha do período. Além de Guga, antes do torneio eram fortes candidatos ao título Magnus Norman (foto), campeão em Roma; Marat Safin, campeão em Barcelona e vice em Hamburgo; Yevgeny Kafelnikov, campeão de Roland Garros/1996; e o americano Andre Agassi, campeão em Paris no ano anterior e número um do mundo. Ainda corriam por fora Juan Carlos Ferrero, então número 16 do mundo aos 20 anos; os espanhóis Albert Costa, Carlos Moyá e Alex Corretja; o ucraniano Medvedev, algoz de Guga em 1999; e o equatoriano Nicolás Lapentti, então 11º do mundo.

O desenrolar do torneio, com poucas zebras, garantiu que muitos confrontos de peso acontecessem na segunda semana. A campanha de Guga é a maior evidência disso. O brasileiro, quinto do mundo, enfrentaria quatro integrantes do top 20 das oitavas em diante. Além disso, chegaram às quartas Costa, Norman, Safin, Kafelnikov, Corretja e Ferrero. A lista de eliminados nas oitavas também era forte e incluiu nomes como Lleyton Hewitt, Cedric Pioline, Mark Philippoussis e até um jovem Roger Federer, então com 18 anos, que disputava o slam francês pela segunda vez na carreira e tombou diante de Corretja. A única zebra de fato foi o argentino Franco Squillari, número 45 do mundo, que chegou à semi contra Norman.

Por tudo que aconteceu —não só pelas viradas memoráveis e pelo drama dos 11 match points na final— é possível dizer que aquele fortíssimo torneio também foi o mais difícil e mais brilhante de Gustavo Kuerten em Paris.

FFT FFT
RAT ROMUALD/Gamma-Rapho via Getty Images

Superstição e medição contra Kafelnikov: 'O jogo estava perdido'

Nas três vezes que foi campeão em Roland Garros, Gustavo Kuerten precisou passar por Yevgeny Kafelnikov nas quartas de final. Encarar o rival russo era meio superstição, meio vareta de medição. Era contra o "Café no Copo" (como Guga se refere, em tom de brincadeira) que o catarinense adquiria definitivamente a convicção para rumar ao título. Era como pensavam o brasileiro e seu time, meio como um lema:

Para ganhar Roland Garros, o Kafelnikov estava no caminho. E, passando o Kafelnikov, nós vamos ganhar Roland Garros.

Guga

O confronto de 2000 foi o mais duro dos três para Guga. Três anos depois de ser surpreendido pelo brasileiro, Kafelnikov esteve perto de dar o troco. Abriu boa vantagem e ficou a cinco pontos da vitória. No entanto, quando sacava por 4/2 e 40/15 no quarto set, vencendo por 2 sets a 1, o russo desandou a errar. Jogou uma direita na rede, uma esquerda para fora, uma direita longa e uma esquerda na rede. Quatro erros seguidos e a quebra de vantagem desperdiçada. Era a fresta que o brasileiro precisava para abrir de vez a janela e voltar ao jogo.

"Quando eu vi o replay esses dias, o jogo estava perdido", lembrou. "Escapou das mãos dele. São acontecimentos que não têm explicação. Tem 'como' aconteceu', mas não tem como entrar nos porquês, falar por que a bola saiu 0,2cm no fundo, que escapou um lancezinho ali... Era 4/2, 40/15. A partida está feita. Ele ganhou de mim e depois entregou o jogo para mim. Na primeira chance que eu tive, eu embalei o pacote e levei para casa."

Guga venceu quatro games seguidos, incluindo um dramático nono game, no saque do russo, e forçou o quinto set. Quando precisou da "caixa de ferramentas", todas as peças estavam lá e funcionaram à perfeição. O placar final mostrou 6/3, 3/6, 4/6, 6/4 e 6/2. Kafelnikov, o nivelador, estava no passado. Ao derrubar o rival, Guga estava pronto para levantar o troféu. "Ele é o responsável pelos meus três títulos. Ele sempre foi a credencial que eu precisava para ter essa convicção."

Pascal Le Segretain/Sygma via Getty Images Pascal Le Segretain/Sygma via Getty Images

Semifinais: 'Ferrero era a minha figura de 1997. Um garoto jogando um tênis de fantasia'

Com Kafelnikov para trás, o pior parecia estar no passado. No entanto, três dias depois, Guga, então com 23 anos, se viu diante de um cenário que lhe lembrava 1997 às avessas. Do outro lado da rede estava o espanhol Juan Carlos Ferrero, 20 anos, que o brasileiro nunca havia enfrentado no circuito. O garotão, em sua primeira semifinal de slam, entrou em quadra tão à vontade como o brasileiro três anos antes.

Além disso, havia o agravante da questão física. Após as três horas de jogo contra Kafelnikov, outro jogo correndo —laté iteralmente- atrás provocava um desgaste que não estava nos planos do brasileiro.

"Era a minha figura de 1997. Um garoto jogando um tênis na fantasia, dando winner [bolas vencedoras sem resposta do adversário] para tudo que é lado... Paralela, cruzada, paralela, cruzada, e eu correndo. Chega uma hora que está doendo tudo. Se eu pego o Ferrero no ano seguinte na mesma condição, eu perco. Não tenho margem para ganhar dele em 2001 com o que eu tinha para apresentar em 2000, quando eu estava todo dolorido."

Mais uma vez, o catarinense esteve perdendo por 2 sets a 1 com uma quebra de desvantagem no quarto set. E, mais uma vez, usou todos os recursos que aprendeu nas semanas de Roma e Hamburgo. Primeiro, confiou em sua consistência, sem entrar em desespero nem tentar bolas arriscadas demais. Depois, usou a regra a seu favor e pediu tratamento médico no quarto set, antes de Ferrero sacar em 3/2.

A experiência e, de novo, as tais "ferramentas" pesaram. Em sequência, Ferrero errou uma esquerda, uma direita e outra direita. No segundo break point, Guga chamou o espanhol à rede com uma curtinha e ganhou o ponto. "Quando surgia e eu conseguia enxergar aquele detalhezinho, a luz no fim do túnel, já era suficiente porque eu cheguei jogando muito tênis aquele ano. Com o Ferrero, aconteceu isso. Eu estava cada vez mais cansado, mas quando ele me deu uma luz de uma oscilação no quarto set que eu consegui respirar e estar mais à vontade na quadra: 'Meu amigo... Isso não podia dar de presente'."

Depois de devolver a quebra, Guga foi cirúrgico. Primeiro, quebrou Ferrero no décimo game para forçar o quinto set. Depois, fez um ace para salvar um break point logo no game inicial da parcial decisiva. Em seguida, finalmente arrancou para vencer por 7/5, 4/6, 2/6, 6/4 e 6/3 em 3h38min de partida. Faltava uma vitória para o bicampeonato.

Guga x Ferrero

A final: 'do primeiro match point ao último foram 50 e poucos minutos'

Depois de duelos em Roma e Hamburgo, deu Guga x Norman na final em Roland Garros. Era o jogo mais esperado. Uma espécie de tira-teima do saibro. O sueco venceu na Itália, com Guga desgastado fisicamente. Na Alemanha, a dinâmica foi ao contrário.

"Eu tinha certeza que se fosse para ser campeão de Roland Garros, precisava passar por ele. Quando chego na final, vindo de dez sets seguidos, só tinha uma chance: o jogo não podia se estender ou não podia entrar para esse nível de cansaço, de muita força física. Eu já tinha 20 horas de tênis jogado. Ele tinha 10, 12 horas. Eu ficava procurando alguma coisa e relacionei o fato de ele nunca ter ido a uma final de Grand Slam."

Foi o que aconteceu. Norman entrou em quadra nervoso, e o brasileiro dominou os dois primeiros sets. Foi só no terceiro que o sueço conseguiu jogar mais solto, aproveitar as chances e vencer uma parcial. E não só isso: "Aí o Norman apareceu para a final. E foi um Deus nos acuda porque junto com o desafio de jogar contra ele, vinha o pavor de pensar... 'esse jogo não pode ir longe'. Eu já tinha a imagem da derrota em Roma. E aí o jogo sai completamente da minha mão". De fato, Norman também abre 4/2 no quarto set e se coloca em ótima posição para forçar o quinto set.

Os nervos, no entanto, pesaram. "O que veio de surpresa é que ele começou a sentir que tinha chance de ganhar. E aí novamente a minha estratégia começa a funcionar. Ele fica mais nervoso. No 4/2, com uma encolhidinha dele, eu [tenho] uma leitura toda montada na minha cabeça: 'Agora é a hora de avançar. Vai terminar, e é agora.'"

Guga devolve a quebra e toma as rédeas do duelo, mas o grande drama ainda está por vir. Norman saca em 4/5 e 15/40 —match point para o brasileiro— e acerta uma direita na linha. O brasileiro vai até a marca, sinaliza para o árbitro que ela foi fora e anda para a rede para cumprimentar o rival. Na cabeça de Guga, o título estava decidido. O árbitro, contudo, discordou e deu bola boa. Ponto para Norman. Match point salvo.

"Eu lembro que estava caminhando para a a frente para cumprimentar, o juiz começa a descer, e eu começo a suar frio. 'Mas tudo bem, ele vai lá e vai encontrar a marca'. Para mim, ainda a convicção é gigantesca que ele foi em uma marca errada. Tenho certeza absoluta que aquela bola tinha saído senão eu teria esperado ele para olhar a marca, conferir junto, alguma coisa. Quando ele me chama para vira para trás, eu já sei que a bola é boa. Não tem mais o que fazer."

O drama aumentou, com o sueco salvando seguidos match points. Foram dez deles, o que alongou a partida em mais de 40 minutos. No 11º, contudo, Norman errou uma direita, e Guga pôde, enfim, ouvir o árbitro pronunciar "Jeu, set et match, Kuerten: 6/2, 6/3, 2/6 e 7/6(6)". O brasileiro era bicampeão.

Do primeiro match point ao último foram 50 e poucos minutos, mas junto com esse tempero físico tem o coração e a emoção o tempo todo naquele nível máximo. A cada três minutos tinha um match point na mesa. O que não podia acontecer era perder o quarto set. Eu perdia o jogo. Tanto eu quanto Norman sabíamos disso, e por isso que dá para considerar que é um Roland Garros que bateu na trave para ele, mas para mim seria catastrófico. Imagina depois de 11 match points perder o jogo. Ia ser de chorar até hoje e provavelmente não ganharia mais Roland Garros.

Guga, Para constar: do primeiro ao último match point, foram precisamente 43 minutos

Guga x Norman

Ratificação e outro patamar: 'Agora nós vamos voar'

Junto com o segundo troféu de Roland Garros, veio a afirmação: Gustavo Kuerten não era mais um artista de um só sucesso. Com dois slams no currículo, ele mudava de prateleira e alcançava outro patamar na lista dos grandes campeões da história do tênis.

Para ele, repetir o sucesso no saibro parisiense deixava para trás a "fantasia" de 1997 e demonstrava a "realidade do que significa ganhar Roland Garros, conhecendo cada vírgula, cada detalhezinho do torneio." Além disso, reforçava uma convicção: "Eu poderia me considerar, com tranquilidade, um jogador já preparado e naturalmente com chances reais de ganhar Roland Garros ou até mais do que isso, sabendo que eu estava pronto para vencer em qualquer ano que aparecesse."

A campanha do ano 2000 no saibro francês pode até ser considerada um divisor de águas na carreira do brasileiro. "Depois desse título, o dia a dia mudou completamente. Para o Larri e eu, a partir dali, era 'Agora nós vamos voar' porque até então ainda havia algumas dúvidas. Ali, a gente ratificou que o nível do tênis que nós alcançamos era até para ter vitórias em outros pisos, em outros slams, o que seria normal a partir de 2001, 2002, até 2005, que seria uma evolução natural minha. Mas não deu tempo", disse Guga, em referência à gradativa deterioração de seus quadris, que freou sua ascensão no circuito.

O brasileiro pode não ter ido tão longe como imaginava, mas voou por tempo suficiente para ficar na história do Grand Slam francês e da modalidade. Entre os campeões dos últimos 40 anos, ele tem o quinto melhor retrospecto entre os que jogaram ao menos cinco edições do torneio:

Guga e Roland Garros: uma história além dos números

Guga conquistaria a França novamente em 2001, intensificando uma relação de amor com o público parisiense que nasceu em 1997, com os primeiros gritos de "Allez Gugá" que empurravam o então jovem azarão brasileiro que vestia uma chamativa camisa azul e amarela e derrubou gigantes como Thomas Muster, Yevgeny Kafelnikov e Sergi Bruguera. Uma conexão tão forte que levou o catarinense a se ajoelhar e desenhar um coração no saibro da Quadra Philippe Chatrier, a principal arena do complexo.

E se Guga diz que nasceu para o tênis em Roland Garros, também foi lá que colocou um ponto final na carreira. Após lutar contra uma lesão no quadril desde 2002, o brasileiro fez sua última partida justamente na Chatrier, em 2008. Naquele dia, foi presenteado com um troféu simbólico que reproduzia as camadas do piso que compõe as quadras do torneio francês. Guga também já foi convidado para entregar o troféu ao campeão em mais de uma ocasião e, mais tarde, foi eleito embaixador mundial de Roland Garros.

Os números também mostram a marca indelével do catarinense. Com seus três títulos, ele é o terceiro maior campeão do torneio na Era Aberta (a partir de 1968) do tênis. Apenas Rafael Nadal (12) e Bjorn Borg (seis) somam mais conquistas. Guga divide o terceiro posto com Mats Wilander e Ivan Lendl.

Antonio RIBEIRO/Gamma-Rapho via Getty Images Antonio RIBEIRO/Gamma-Rapho via Getty Images

+ Especiais

Antônio Gaudério/Folhapress

Meligeni brigou com a família para ser brasileiro e quase ficou fora de Olimpíada por isso

Ler mais
Fotojump

Marcelo Melo venceu mais que Guga, mas é menos conhecido até que homônimo da Globo

Ler mais
Divulgação

Burnquist perdeu dinheiro ao defender maconha e virar 'presidente do skate'. E não se arrepende

Ler mais
Instagram

Thaisa, do vôlei, expande o cérebro: 'Não preciso do corpo sarado para estar feliz'

Ler mais
Topo