Sete vezes Hamilton

Em uma temporada mais curta, britânico prova mais uma vez seu domínio e conquista o heptacampeonato

Julianne Cerasoli Colaboração para o UOL, em Londres (Inglaterra) Pool/Getty Images

A temporada 2020 está sendo mais curta devido à covid-19, mas Lewis Hamilton esteve mais forte do que nunca para ser campeão pela sétima vez, a quarta seguida. Ele venceu o GP da Turquia neste domingo (15), após largar em sexto lugar.

Neste campeonato, a Mercedes revisitou o tipo de domínio que tinha nos primeiros anos da era híbrida, de 2014 a 2016, antes que uma mudança considerável na aerodinâmica deixasse os carros do time alemão mais nervosos. E antes também que a Ferrari crescesse, muito em função de um motor que explorava os limites do regulamento e cujo rendimento caiu vertiginosamente depois de um acordo sigiloso feito com a Federação Internacional de Automobilismo no começo do ano.

Em 2020, Hamilton precisou de 14 provas para ser campeão com três GPs de antecipação, somando números superiores a todos os outros seis títulos para se juntar a Michael Schumacher como o piloto com mais títulos na história da Fórmula 1. O UOL relembra em que condições o britânico chegou à 14ª etapa nos anos em que conquistou seus seis primeiros títulos mundiais.

Pool/Getty Images

Por que Hamilton foi tão superior em 2020?

Os números mostram que campeonatos de Hamilton costumam ter algo em comum: ele não vai bem nas primeiras provas, e depois engrena em uma sequência que o torna quase imbatível.

Mas 2020 foi diferente nesse sentido. Os carros não mudaram significativamente, e os pneus são os mesmos do ano passado, na primeira vez que isso acontece desde 2009-2010. Assim, o britânico pôde construir em cima de uma vantagem que já tinha conseguido na segunda metade de 2019.

Além disso, Hamilton é muito forte mentalmente. Pode cometer erros, mas encontra maneiras de superá-los, algo que chamou ainda mais a atenção em um ano mentalmente difícil para pilotos e equipes devido à sequência de 14 provas em quatro meses e meio.

Valtteri Bottas, por outro lado, demonstrou sentir essa sequência. Ele foi pouco consistente especialmente nas largadas e não conseguiu ter um bom ritmo e corrida domando os pneus como Hamilton consegue, o que limita suas opções de estratégia. E como o finlandês era o único que tinha chances de chegar perto do inglês após a Ferrari cair de rendimento e a Red Bull ainda não conseguir ser forte o suficiente para desafiar a Mercedes, aí ficou fácil para o mais novo heptacampeão da F1.

Paulo Whitaker/Reuters

2008: briga com Felipe Massa

O título mais brigado de Hamilton foi na luta contra Felipe Massa em 2008. Após as 14 primeiras etapas, ele tinha 78 pontos (o equivalente a pouco menos de 200 na pontuação atual) e estava um ponto na frente de Massa, tendo vencido quatro vezes, feito nove pódios e cinco poles. Aquele campeonato, de 18 provas, somente uma a mais que 2020, também seria decidido na etapa final, mais precisamente na última curva da última volta em Interlagos.

Hamilton iniciou o GP Brasil com sete pontos de vantagem para o brasileiro (94 a 87). Para ser campeão, Massa precisaria vencer o rival e chegar no máximo na sexta colocação. E fez a lição de casa. Em uma prova emocionante, depois de uma chuva que mudou os rumos da corrida, Felipe Massa cruzou a linha de chegada em primeiro lugar e como campeão. Mas a sensação durou poucos segundos, e o título escapou a poucos metros do final da prova, quando Lewis Hamilton ultrapassou o alemão Timo Glock, da Toyota, terminando a prova na quinta colocação e garantindo os quatro pontos necessários para se consagrar campeão pela primeira vez.

"Acho que Ayrton (Senna) estava comigo aquele dia. Foi tudo graças a Deus. Estava chovendo, e houve comoção com outros pilotos derrapando. Só 20 segundos depois de eu cruzar a linha (de chegada), me falaram que eu venci. Eu achava que tinha perdido. Foi horrível", relembrou Hamilton no ano passado no programa "Entrevista com Bial".

Naquele ano, Massa terminou o campeonato com 97 pontos, apenas um ponto a menos que britânico, que aos 23 anos, nove meses e 26 dias, se tornou o piloto mais jovem e o único negro campeão da Fórmula 1.

Mark Thompson/Getty Images

2014: virada na 14ª etapa

O bicampeonato em 2014 também foi bem apertado para Hamilton. Ele ficou atrás de Nico Rosberg (em número de pontos) por quase toda temporada. Só conseguiu a virada depois de 14 etapas. Com a vitória em Singapura, ele ultrapassou o companheiro de equipe, que nem chegou a largar porque teve um problema no cabeamento do volante. Ao final daquela corrida, ele tinha 241 pontos, apenas três de vantagem para Rosberg.

Foi a sétima vitória de Hamilton que, até ali, tinha feito seis poles, conquistado 11 pódios e abandonado três vezes (devido ao motor na Austrália, freios no Canadá e por uma batida causada por Rosberg na Bélgica).

No final, ele acabou vencendo o campeonato na última etapa, em Abu Dhabi, por uma diferença elástica, de 67 pontos, muito em função da pontuação ter sido dobrada naquele ano na etapa final.

Adam Pretty/Bongarts/Getty Images

2015: título com folga

Em 2015, Hamilton garantiu o título com folga e antecipadamente. Após 14 etapas, estava com 277 pontos - 48 à frente do então companheiro na Mercedes, Nico Rosberg. No GP do Japão, Hamilton voltou a vencer após o que seria seu único abandono na temporada, por um problema no motor, em Singapura.

Ele foi campeão no GP dos Estados Unidos - três corridas antes do fim do campeonato. O inglês se aproveitou de um erro de Rosberg e retomou a liderança da prova, após ter largado em segundo e perdido posição durante a prova.

"Foi uma prova dura. Eu estava com dificuldade. Foi uma prova de altos e baixos, mesmo quando eu estava na liderança, não estava me sentindo confortável com o carro, perdia aderência toda hora. Lembro de pensar, quando estava atrás do Safety Car, que o campeonato estava a 10 voltas de distância. Eu chegaria lá? Eu sabia que teria outras corridas para fechar o título, mas queria que fosse agora, eu me sentia tão perto que poderia sentir. Honestamente, eu não posso acreditar com como o campeonato foi incrível para mim. Sou incrivelmente agradecido", disse Hamilton na ocasião.

Anadolu Agency/Getty Images Anadolu Agency/Getty Images

2017: Ferrari como rival

Em 2017, o rival era outro: a Ferrari. A Mercedes começou a temporada com dificuldades com o rendimento após mudanças nas dimensões do carro e outras restrições aerodinâmicas, e a escuderia italiana cresceu.

Sebastian Vettel, da Ferrari, chegou a abrir 25 pontos de vantagem sobre Hamilton após seis etapas. E liderou até o GP da Itália, quando o britânico venceu e assumiu a ponta. Depois de 14 etapas, Hamilton tinha 263 pontos, 28 de vantagem para Vettel. Ele tinha vencido metade das corridas, com nove pódios e oito poles e vivia uma virada no campeonato.

Hamilton venceu novamente na 14ª corrida, em Singapura, aproveitando abandono do alemão por ter batido na largada com Raikkonen e Verstappen. Vettel ainda teria um problema de vela no GP do Japão, que praticamente daria o título a Hamilton, que selou a conquista no México, 18ª etapa de um total de 20.

Clive Mason/Getty Images

2018: campeonato com duas corridas de antecipação

Em 2018, o inglês provou mais uma vez sua superioridade nas pistas e conquistou o quinto campeonato com duas etapas de antecipação, no GP do México.

Naquele ano, ele chegou ao México precisando apenas de um sétimo lugar para ficar com o título, mas garantiu a quarta posição no grid, enquanto Vettel ficou em segundo.

Após 14 corridas, Hamilton tinha 256 pontos. Nesta fase no campeonato, no GP da Itália, ele venceu e aumentou sua vantagem para Vettel de 17 para 30 pontos.

Assim como no ano anterior, a Itália foi onde a Mercedes deixou a Ferrari para trás em termos de desenvolvimento. Até ali, Hamilton tinha seis vitórias, seis poles e 11 pódios, e tinha abandonado o GP da Áustria por um problema de pressão de combustível, o que seria seu último abandono até hoje.

Peter J Fox/Getty Images

2019: Domínio mais uma vez

Assim como em 2020, Hamilton também dominou o campeonato no ano passado. Nas 14 primeiras corridas, marcou 284 pontos, 12 pódios, oito vitórias, quatro poles, e se tornou hexacampeão com duas provas para o fim.

Mas a vantagem que ele construiu para o segundo colocado, que também era Valtteri Bottas, foi bem menor em relação a este ano. No ano passado, Hamilton saiu da 14ª etapa com 63 pontos de vantagem mesmo chegando em terceiro lugar no GP da Itália, uma posição abaixo do companheiro.

Hamilton chegou ao GP dos Estados Unidos precisando terminar a corrida na oitava posição. Mas foi além e garantiu o segundo lugar no pódio, ficando atrás apenas de Valtteri Bottas, seu companheiro de Mercedes.

"O meu pai me falou, quando eu tinha seis ou sete anos, para sempre fazer o meu melhor. Esse é o grande lema da família. Hoje, eu tentei o meu melhor. Como atleta, estou me sentindo pronto e preparado para a próxima corrida", disse Hamilton após a corrida.

Reprodução/vídeo Bruno Fernandes em colaboração para o UOL

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