No vestiário do pior time de futebol do mundo, as palavras soam fortes como o calor que castiga o litoral pernambucano, às 16 horas de uma tarde de sábado. O vestiário está abaixo da arquibancada do Estádio dos Aflitos, e os jogadores desviam da água que pinga de uma goteira direto no piso de grama sintética — o que é muito estranho, porque no céu não há sequer uma nuvem de chuva e a umidade do ar é baixa.
A humildade também não tem espaço na atmosfera do vestiário, nesse momento. O que também é incomum porque os jogadores do Íbis — acostumados a conviver com a pecha de perdedores, entrar em campo com um mascote chamado "Derrotinha" e assombrados pelo histórico de 48 derrotas em 55 jogos nos anos 1980 e pelo recorde mundial de maior tempo (3 anos e 11 meses) sem conhecer o sucesso — agora esses jogadores só pensam em vencer.
Eles se reúnem em um círculo, se abraçam, os olhos acesos pela chama da ambição. "Nós não viemos aqui pra empatar", um deles diz, as palavras reverberando em eco no concreto do estádio. "Nós viemos pra ganhar".
Eles têm entre 19 e 35 anos, vestem o uniforme rubro-negro ostentando no escudo o pássaro preto da mitologia egípcia que batiza o time. No meio deles, uma figura se destaca, camiseta polo preta, calça jeans e tênis esportivo, o cabelo preto salpicado de fios brancos e o rosto marcado pelos vincos do tempo. "Vai falar, Ozir?", pergunta o goleiro Lucas Peixe, líder do time.
E então Ozir Ramos Júnior, 64 anos, o presidente do Íbis, um clube fundado pelo avô dele em 1938, no qual ele jogou quando era jovem e que é uma das razões da sua vida desde então, começa a falar.