O árbitro Igor Benevenuto balançou pela primeira vez diante de uma ambulância que transportava uma idosa já morta por complicações da covid-19. Dentro do veículo, o neto desesperado tentava, em vão, reanimar a avó que o criou. Graduado em enfermagem em 2012, Benevenuto trabalhou por sete meses na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Sete Lagoas, em Minas Gerais, e testemunhou muitas mortes, mas aquela o marcou porque atingiu sua memória afetiva.
"Eu me vi na situação dele, porque também fui criado pela minha avó. Ele ficava se culpando, dizendo que não a trouxe a tempo, que a culpa era dele. Foi meio traumatizante."
Conhecido do grande público por apitar partidas do Brasileirão, Benevenuto decidiu encerrar o hiato de seis anos longe da enfermagem no final de março do ano passado, quando o futebol foi paralisado por causa da pandemia. Ele largou o emprego de assessor parlamentar e distribuiu currículos para atuar na linha de frente do combate à covid. Foi contratado como temporário pela UPA de Sete Lagoas.
No combate à doença que já matou quase 250 mil pessoas no Brasil, Benevenuto chorou, se sentiu sozinho e cansado — física e psicologicamente —, aprendeu que, muitas vezes, palavras não bastam para confortar alguém que acaba de perder um ente querido. "Tem que compreender o momento da pessoa. Não adianta arrumar subterfúgios. Deixa desabafar. É muito importante. Foi o que eu fiz: fiquei sentado o tempo todo ao lado daquele rapaz até os familiares chegarem. Isso ficou bem marcado para mim."