Esporte de um homem só

Isaquias Queiroz segue soberano na canoagem e se torna 2º maior medalhista brasileiro da história olímpica

Rodrigo Mattos Do UOL, em Paris Alexandre Loureiro/COB

Emoção, força e persistência em uma vitória "na unha". Isaquias Queiroz tirou forças de onde parecia que não exisitia mais nada e transformou o que ele fez na raia olímpica da canoagem em Paris em um feito histórico.

O lugar mais alto do pódio não veio, mas a medalha de prata na prova de C1 1000 reforça grandeza. Isaquias descobriu que não é, afinal, um super-homem e viveu intensamente seus problemas. E, mesmo assim, diante de derrotas, choro e tristeza que eram desconhecidos anos antes, com uma arrancada espetacular, tornou-se o segundo atleta em número de medalhas olímpicas do Brasil.

O mais impressionante é que ele fez tudo (quase) sozinho. Se a ginástica artística teve um crescimento contínuo e ganhou quatro medalhas olímpicas até formar a mais vencedora atleta olímpica do Brasil, Rebeca Andrade e a vela carrega uma tradição forjada em 19 medalhas, incluídas nela as dez ganhas por Torben Grael e Robert Scheidt, cinco de cada, a canoagem, em termos de pódio, é toda "fundada" por Isaquias.

A prova que deu a prata digeriu a derrota doída das duplas, no dia anterior, e todo um ciclo olímpico conturbado, especialmente no ano anterior à Olimpíada, para recuperar a motivação. A demonstração de resiliência vem da infância em que superou dificuldades até o esforço para galgar postos e alçar o Brasil ao topo da canoagem.

Alexandre Loureiro/COB
Alexandre Loureiro/COB

Eu fico muito feliz de poder chegar na minha quinta medalha, perto desses caras [Torben e Robert]. Em um esporte que não tinha medalha Olímpica e hoje tem cinco medalhas Olímpicas, né? Então, é continuar o trabalho para poder ganhar mais. Não só eu.
Isaquias Queiroz

As medalhas de Isaquias Queiroz

  • Um ouro

    O ouro de Isaquias Queiroz aconteceu em Tóquio-2020, na categoria C1 1000 metros.

    Imagem: Miriam Jeske/COB
  • Três pratas

    Isaquias conquistou a prata em Paris na categoria C1 1000 metros e duas pratas na Rio-2016: na C1 1000 metros e na C2 1000 metros.

    Imagem: Jeff Pachoud/AFP
  • Um bronze

    O bronze de Isaquias também foi conquistado na Rio-2016, na categoria C1 200 metros.

    Imagem: Jeff Pachoud/AFP
REUTERS/Molly Darlington

Na cola de Rebeca

Com o resultado, Isaquias Queiroz igualou os velejadores Robert Scheidt e Torben Grael com cinco medalhas olímpicas. Os três estão no segundo lugar na lista de atletas brasileiros com mais pódios na história dos Jogos, ficando atrás apenas da ginasta Rebeca Andrade, que com o desempenho em Paris se isolou na liderança com seis (dois ouros, três pratas e um bronze).

O canoísta teve a oportunidade de igualar Rebeca ainda na edição deste ano, já que também disputou a categoria C2 500 metros, formando dupla com Jacky Goodman, mas acabou ficando apenas na oitava colocação na final.

Saí de uma modalidade pequena. Hoje o Brasil inteiro sabe o tamanho da canoagem. A gente precisa mostrar resultado para quem acredita e investe. Tenho que sair daqui com medalha para ajudar o Time Brasil
Isaquias Queiroz

Os maiores medalhistas do Brasil

  • Rebeca Andrade (ginástica)

    A ginasta se isolou na liderança com seis medalhas: dois ouros, três pratas e um bronze.

    Imagem: GABRIEL BOUYS/AFP
  • Isaquias Queiroz (canoagem)

    O canoísta agora possui cinco medalhas: um ouro, três pratas e um bronze.

    Imagem: Miriam Jeske/COB
  • Robert Scheidt (vela)

    O velejador também tem cinco medalhas: dois ouros, duas pratas e um bronze.

    Imagem: Flávio Florido/Folhapress
  • Torben Grael (vela)

    Outro velejador que tem cinco medalhas: dois ouros, duas pratas e um bronze.

    Imagem: Rio 2016/André Luiz Mello
  • Serginho (vôlei de quadra)

    O ex-jogador de vôlei de quadra possui quatro medalhas: duas de ouro e duas de prata.

    Imagem: Flávio Florido/UOL
  • Gustavo Borges (natação)

    O ex-nadador é outro que soma quatro medalhas: duas de prata e duas de bronze.

    Imagem: Donald Miralle/Getty Images
Miriam Jeske/COB

Lágrimas e frustração nas duplas

Isaquias não escondeu sua frustração com o desempenho na categoria C2 500m, em que formou dupla com Jacky Godmann. Os brasileiros conseguiram a classificação para a final, mas terminaram na oitava e última colocação, algo que fez Queiroz avaliar o resultado como "horrível".

"Foi um resultado muito horrível em cima do que a gente trabalhou, do que o Lauro (de Souza Júnior, técnico) trabalhou. Do que o Comitê Olímpico investiu na gente", contou o canoísta.

O atleta brasileiro disse que tinha esperança de medalha por conta dos tempos que vinha marcando com Jacky. Mas lembrou que a preparação não foi a ideal porque ele só podia dedicar dois dias para o treino de duplas.

Alexandre Loureiro/COB

Na última tentativa

Isaquias iniciou sua jornada no C1 1000m de Paris de forma tranquila, classificando-se diretamente ao terminar em segundo de sua bateria com o tempo de 3min53s94.

Na fase seguinte, porém, o canoísta deixou todos ressabiados com sua colocação: ficou em 10º, mas ressaltou que "aliviou" para ficar mais descansado para as provas posteriores:

"Então no meio da prova, nos 500m metros, eu e o Martin Fuksa estávamos juntos ainda. E dali para frente eu dei uma aliviada a mais".

Na semifinal, porém, Isaquias reagiu e mostrou força. O medalhista de ouro em Tóquio largou bem, conseguiu se manter na briga pela liderança durante toda a prova e terminou na segunda colocação, com o tempo de 3min44seg80.

Já a finalíssima foi na base da superação. Fazendo valer o apelido de "Tarzan brasileiro", Isaquias largou mal, mas deu uma arrancada impressionante, tirou forças do além, saiu do quinto lugar, garantiu a prata com o tempo de 3min44s33 e deixou a sensação de que se tivesse mais alguns metros, ele buscaria o ouro.

Ganha quem tem a unha maior ali. Eu dei uma subida no final. Eu lembrei o que o Pina falou: 'Isaquias, você é o que tem a melhor subida no final'. Fiquei com medo da onda do Fuksa [adversário tcheco] me pegar. A prova que eu fiz é merecimento de medalha de ouro, mas fico feliz de poder subir no pódio
Isaquias Queiroz

Divulgação / COB

Porta-bandeira do Brasil

Foi uma experiência incrível, primeira vez que tenho a chance de uma abertura. Estar na festa e ser porta-bandeira foi muito especial para mim. Já tenho medalhas de ouro, prata e bronze, agora também posso colocar no currículo que fui o porta-bandeira em uma festa dessas, que vai entrar pra história. Fico muito feliz e grato por ter sido o escolhido
Isaquias Queiroz, sobre ser porta-bandeira em Paris

REUTERS/Yara Nardi

Voltou para a Bahia, desmotivou e engordou

Isaquias Queiroz tirou um ano sabático em 2023. Deixou Lagoa Santa (MG), seu local de treinamento, e voltou para a Bahia. Uma estrutura até chegou a ser montada para que ele mantivesse as atividades em sua terra natal, mas o canoísta não usou muito. O objetivo era descansar a mente.

"Foi um ciclo olímpico diferente. O ano de 2023, para mim, foi um ano de pausa, de relaxar um pouco, descansar a mente. Eu vinha de nove anos em alto nível. Todos os anos estava no pódio, brigando por medalha de ouro, prata, bronze, Jogos Olímpicos... Então foi um momento de dar uma descansada".

Isaquias nega que tenha perdido o foco, mas admitiu que ficou desmotivado e chegou a engordar. Pouco antes das Olimpíadas, ele precisava baixar dois quilos para atingir o peso estipulado.

"O foco, não. Eu acho que foi... Me desmotivei um pouco. Como falei, já venho de nove anos treinando. Eu queria dar uma pausa. Cheguei a engordar um pouquinho. Nosso planejamento era chegar em Paris com 82 quilos. Eu estava com 84", disse.

Molly Darlington/Reuters

Esse ano foi diferente. Em Tóquio também foi diferente. Então, eu fico feliz de poder chegar aqui na medalha. De poder chegar a ser o quarto atleta Olímpico do Brasil, com o maior número de medalhas possível. Rebeca a gente tira de cena, né? Fora da curva. Mas eu fico feliz de poder chegar junto ao Robert Scheidt, ao Torben Grael, baitas referências para nós atletas do Brasil.
Isaquias Queiroz

Divulgação / COB

Ainda tem pique para Los Angeles

Isaquias, você continua até Los Angeles?

Continuo, é gostoso ganhar medalha. Ouro é mais gostoso ainda, mas a prata também tem quase o mesmo sabor.

O futuro de Isaquias Queiroz a Deus pertence, mas ele vai até a próxima edição dos Jogos Olímpicos. O brasileiro terá 34 anos e carregará um currículo invejável. E, se os planos derem certo, não será mais o único da canoagem com chances. A próxima geração já tem, por exemplo, um título mundial sub-23, com Mateus Nunes e Lucas Santos.

"Eu acredito no trabalho que o Lauro está fazendo. E acho que não vai ter só eu [em Los Angeles]. Quem sabe agora vai ter uma disputa melhor ainda comigo, com o Mateus, com o Lucas e com os outros meninos lá no Brasil?"

Os medalhistas brasileiros

  • Larissa Pimenta (bronze)

    A chave é acreditar: Larissa é bronze no judô depois de muita gente (até uma rival) insistir que ela era capaz.

    Imagem: Wander Roberto/COB
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  • Willian Lima (prata)

    Dom e a medalha de prata: Willian sonhava em ganhar a medalha olímpica, e com seu filho na arquibancada. Ele conseguiu.

    Imagem: Wander Roberto/COB
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  • Rayssa Leal (bronze)

    Tchau, Fadinha. Oi, Rayssa: Três anos depois da prata em Tóquio, brasileira volta ao pódio em Paris e consolida rito de passagem.

    Imagem: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP
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  • Equipe de ginástica (bronze)

    Sangue, suor e olho roxo: Pela primeira vez na história, o Brasil ganha medalha por equipes na ginástica artística. E foi difícil...

    Imagem: Ricardo Bufolin/CBG
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  • Caio Bonfim (prata)

    Buzina para o medalhista: Caio conquista prata inédita na marcha atlética, construída com legado familiar e impulso de motoristas.

    Imagem: Alexandre Loureiro/COB
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  • Rebeca Andrade (prata)

    'Paro no auge': Rebeca leva 2ª prata, entra no Olimpo ao lado de Biles, Comaneci e Latynina, e se aposenta do individual geral.

    Imagem: Rodolfo Buhrer/Rodolfo Buhrer/AGIF
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  • Beatriz Souza (ouro)

    Netflix e Ouro: Bia conquista primeiro ouro do Brasil em Paris após destruir favoritas e ver TV.

    Imagem: Alexandre Loureiro/COB
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  • Rebeca Andrade (prata)

    Ninguém acima dela: Rebeca ganha sua quinta medalha olímpica, a prata no solo, e já é recordista em pódios pelo Brasil.

    Imagem: Stephen McCarthy/Sportsfile via Getty Images
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  • Equipe de judô (bronze)

    O peso da redenção: Brasil é bronze por equipes no judô graças aos 57kg de Rafaela Silva.

    Imagem: Miriam Jeske/COB
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  • Bia Ferreira (bronze)

    A décima: Bia Ferreira cai para a mesma algoz de Tóquio, mas fica com o bronze e soma a décima medalha para o Brasil.

    Imagem: Richard Pelham/Getty Images
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  • Rebeca Andrade (ouro)

    O mundo aos seus pés: Rebeca Andrade bate Simone Biles no solo, é ouro e se torna maior atleta olímpica brasileira da história.

    Imagem: Elsa/Getty Images
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  • Gabriel Medina (bronze)

    Bronze para um novo Medina: Renovado após problemas pessoais e travado por mar sem onda, Medina se recupera para conquistar pódio olímpico.

    Imagem: Ben Thouard / POOL / AFP
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  • Tatiana Weston-Webb (prata)

    Ela poderia defender os Estados Unidos, mas fez questão de ser brasileira e ganhou a prata de verde e amarelo

    Imagem: William Lucas/COB
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  • Augusto Akio (bronze)

    Com jeito calmo, dedicação e acupuntura, Augusto Akio chegou ao bronze. Mas não se engane: ele é brasileiro

    Imagem: Luiza Moraes/COB
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  • Edival Pontes (bronze)

    Bronze sub-zero: Edival Pontes, o Netinho, conheceu o taekwondo quando ia jogar videogame; hoje, é bronze na 'categoria ninja'

    Imagem: Albert Gea/REUTERS
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  • Isaquias Queiroz (prata)

    Esporte de um homem só - Isaquias Queiroz segue soberano na canoagem e se torna 2º maior medalhista brasileiro da história olímpica.

    Imagem: Alexandre Loureiro/COB
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  • Alison dos Santos (bronze)

    Piu supera tropeços em Paris, mostra que estava, sim, em forma e conquista seu segundo bronze olímpico.

    Imagem: Michael Kappeler/picture alliance via Getty Images
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  • Duda e Ana Patrícia (ouro)

    Dez anos depois do título nos Jogos Olímpicos da Juventude, Duda e Ana Patrícia são coroadas em Paris

    Imagem: CARL DE SOUZA/AFP
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  • Futebol feminino (prata)

    Prata da esperança - Vice-campeã olímpica, seleção feminina descobre como voltar a ganhar e mostra que o futuro pode ser brilhante.

    Imagem: Alexandre Loureiro/COB
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  • Vôlei feminino (bronze)

    Evidências - Programada para o ouro, seleção de vôlei conquista um bronze que ficou pequeno para o que o time fez em Paris.

    Imagem: REUTERS/Annegret Hilse
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