Quando eu soube que estava seguro
Eu só ouvia o barulho do vento. O zumbido dos motores havia cessado. Com as luzes apagadas, a escuridão era tão desesperadora quanto o silêncio. Ninguém falou nada. As aeromoças iam e vinham pelo corredor. Todo mundo sabia que havia algo errado. Ainda assim, nenhuma palavra foi dita. Eu não queria acreditar que nosso avião estava caindo.
Mas aí veio a sirene. Acho que era um aviso do próprio avião de que estávamos muito perto do chão e iríamos bater. Me restou rezar, pedir a Deus que nos livrasse do pior. Rezei forte para que os motores voltassem, para que as luzes se acendessem.
Da hora da queda, eu não lembro de mais nada.
...
Eu apagava e voltava. É como um pesadelo em que você não consegue acordar. Preso ali, nas ferragens, não sei por quanto tempo eu fiquei pedindo socorro baixinho antes de apagar novamente. Eu não sabia onde eu estava.
Não tenho imagens na memória, somente vozes. Foi o sargento Nelson que ouviu meu pedido de socorro ao ir até ali procurar outra pessoa. Ele chega, pede calma e diz que vai me tirar dali. Perguntou e eu disse meu nome. Acrescentei que era o "arquero", tentando falar espanhol.
Ele me contou depois que foi a cena mais triste que ele viu na vida: um jovem praticamente sem a perna e com uma fratura muito exposta no tornozelo esquerdo. Um buraco gigantesco.
Foram 12 pessoas para me tirar dali e me colocar na caçamba de uma camionete 4x4. A ambulância não chegava até aquele ponto. Eu não lembro, mas dizem que eu pedia água a todo momento. Eu não parei no acampamento do vilarejo para primeiros socorros. Fui direto ao hospital.
Cinco dias depois, acordei do coma e vi a imagem mais linda: meus pais e minha esposa do meu lado, lá na Colômbia. Ali, depois de tudo, eu soube que estava seguro.