No fim, Jesús Morlán sorriu. "Acabou? Eu gostei. Me senti muito à vontade". Retribuí o sorriso feliz de poder tornar agradáveis aquelas horas do que seria seu último aniversário. Prometi enviar a reportagem quando fosse publicada. Dez dias se passaram e veio a notícia. A vida é mesmo um raio.
Enfim, a reportagem está pronta, mas ele não vai poder lê-la. Entregou em minhas mãos a missão de escrever sua história sem ter ao menos o direito de questioná-la. Não é fácil tomar a decisão de publicar diante de todas as subjetividades e interpretações que o jornalismo e a vida podem gerar.
A ideia sempre foi homenagear a vida e a carreira do maior técnico de canoagem do mundo que garantiu ao Brasil três medalhas nas Olimpíadas do Rio em 2016. Mas se tornou mais que isso. Seria muito egoísmo guardar apenas para mim todas as lições daquela tarde. Seria injusto não dar uma singela contribuição para eternizar sua história.
Esse é o relato da última vez em que conversamos com Jesús. A entrevista aconteceu em 1º de novembro de 2018. O treinador não resistiu ao câncer e morreu no dia 11 do mesmo mês. Dois anos e nove meses depois, Isaquias Queiroz, seu maior pupilo no Brasil, conquistou a medalha de ouro olímpica nas Olimpíadas de Tóquio-2020.