"Eu estava dentro da Rede Globo, em São Paulo. Grávida de oito semanas e tinha ido em uma pauta, fazer matéria, normal... Me sentia super bem, não tinha sintoma, não tinha enjoo... Era uma grávida ativa, corria sempre no parque.
Lá na emissora, fui ao banheiro e tudo aconteceu: veio uma enxurrada de sangue, tomei um susto enorme e dei um grito. Uma produtora estava comigo. Na época, não tínhamos intimidade. Com tudo o que aconteceu, viramos muito amigas. Ela foi realmente incrível. Percebeu na hora o que estava acontecendo e foi de uma sensibilidade gigante.
Essa produtora trancou a porta do banheiro e falou: 'Olha só, eu estou aqui, já tranquei o banheiro e quando você quiser sair, está tudo bem, ninguém vai te ver'. Eu saí, liguei para minha médica e fui direto para o hospital. Ainda tinha esperança de salvar o meu filho. Não conseguimos.
Quando decidi contar para as pessoas, muitas não sabiam o que falar. A mulher tenta se abrir e ouve coisas erradas. E nem é por mal, é porque a pessoa não sabe mesmo. Só que dói. Lembro de ter escutado coisas que eu não queria ouvir:
—É assim mesmo, é normal.
—Daqui a pouco você engravida de novo — essa é clássica...
—Faz uma viagem— e assim vai.
As pessoas não entendem que não existe substituição. Não é que você perdeu uma coisa e vai lá e compra outra. É uma dor, uma perda, é um luto. E percebi o quanto as mães se sentem sozinhas e não conseguem se abrir e acabar com a dor."