Canalha, agora, do The Voice

João Carlos Albuquerque surpreendeu o Brasil ao cantar no "The Voice+". E, acredite, ele não queria participar

Beatriz Cesarini Do UOL, em São Paulo UOL

No dia 31 de janeiro de 2021, João Carlos Albuquerque, o "Canalha", retornou à televisão brasileira. Mas não para falar de esporte. Naquele dia, o jornalista de 65 anos de idade, uma das mais famosas vozes da ESPN por anos, apareceu como um dos concorrentes do "The Voice Brasil +".

Daniel, Cláudia Leitte, Mumuzinho e Ludmilla, os técnicos do reality da TV Globo em edição especial para participantes da terceira idade, ficaram boquiabertos. Como a audição é às cegas, os músicos foram os últimos a conhecerem o dono da voz que cantava "Sultans Of Swing", da banda britânica Dire Straits. Três cadeiras foram viradas —ele escolheu Cláudia Leitte como técnica. Canalha tinha passado no teste mais inusitado de sua carreira.

Em conversa com o UOL Esporte, Canalha relembrou a trajetória no The Voice +, comentou sobre a timidez, celebrou a aproximação das filhas Rita e Nina e se emocionou ao falar da amizade com Rodrigo Rodrigues.

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Reprodução/Instagram
João e sua filha Rita, que o acompanhou no Rio de Janeiro

Quer participar do The Voice? "Não. De jeito nenhum"

"Olha, eu nunca decidi ir ao The Voice. Nunca me passou pela cabeça cantar em um programa da Globo. Mas lá, em outubro do ano passado, eu estava em casa e recebi um telefonema do Rio de Janeiro sem identificação. Não atendi. Dali a pouco, chegou uma mensagem do Pedro, um dos produtores do programa: 'Ô, João, tudo bem? Posso te ligar? Sou seu fã'. Então, ele me chamou:

-- Cara, eu assistia aos seus programas, gosto muito de você... Vi você cantando 'These Eyes', do Guess Who, em um vídeo caseiro... Pô, você não quer participar do The Voice?
-- Eu? Não, cara, de jeito nenhum.
-- Por que?
-- Ah, cara, eu não sou cantor... Nunca pensei em participar do The Voice. Não quero, não.
-- Não, João... Mas é legal. Eu posso mostrar seu vídeo para outros produtores e para o diretor do programa?
-- Pode...

No dia seguinte, o Pedro me ligou de novo: 'Mostrei seu vídeo aqui e todo mundo gostou... Você vai se divertir, entra aí'. E não parou? Ele me telefonou mais algumas vezes até que chegou uma hora que eu falei: 'Coloca meu nome aí'. Imaginei que deveria haver dez mil inscritos e meu nome ia desaparecer no meio da galera que realmente queria cantar no programa.

Vou falar uma coisa... Muitas vezes nessa vida eu fiz coisas que eu não queria, ou que nem imaginava fazer, mas a vida me levou. E foi a minha filha Rita que me ajudou. Ela tem 22 anos e nunca tinha ido ao Rio de Janeiro. Todos os candidatos tinham direito a levar um acompanhante. E ela disse: 'Pai, eu vou com você'. Fui convencido.

Só que na primeira ida, eu comecei a ficar arrependido... Avião lotado, ar-condicionado desligado, quase 45 minutos parado na pista do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A covid correndo solta e eu e Rita num avião lotado, quente. Minha filha foi uma força: ela colocou máscaras e comprou duas viseiras. Éramos dois ETs no avião.

Curiosamente, eu conheci o Rio em janeiro de 1978, aos 22 anos. A Rita, em janeiro de 2021, aos 22 anos."

"Estava nervoso na primeira apresentação, com a boca completamente seca"

Reprodução/TV Globo Reprodução/TV Globo

Por que escolheu Claudia Leitte como técnica

Daniel, Cláudia Leitte e Mumuzinho viraram a cadeira para João. Apesar de conhecer o músico sertanejo, porque ambos são de Brotas, no interior de São Paulo, Canalha entendeu que não ficaria justo optar por ele como técnico. Ficou com Cláudia.

"Quando eu tive que escolher um dos três, Claudia, Daniel ou Mumuzinho, eu falei: 'Daniel, acho que eu não posso te escolher, porque vai ter gente achando que é marmelada, dois caras de Brotas, que já se conhecem, cantaram juntos'. Ele, que me chama de Johnny, meu apelido familiar e dos meus amigos de Brotas, olhou para os outros jurados e falou: 'É, o Johnny tem razão'", contou.

"Então eu escolhi a Claudia Leitte, que gostava do Dire Straits. Ela foi a primeira que virou a cadeira também. A Cláudia me passou muita emoção ao virar encantada com a música. Aí achei que deveria escolhê-la e pronto. Mas todos eles são muito legais."

João Carlos cantou Lulu Santos na segunda fase e chegou à etapa "Tops dos Tops", na qual oito competidores de cada equipe se apresentaram em dois domingos e apenas quatro avançaram. O apresentador acabou eliminado. Na despedida do programa, no dia 14 de março, cantou "Pro Dia Nascer Feliz", do Barão Vermelho.

"Você é único no que você faz. Você trouxe algo lindo, seu e é isso: é a sua identidade, que se revela quando você canta", disse Claudia Leitte a João.

Reprodução/TV Globo

Final com Elton John ou Djavan?

Com pretensões modestas e lidando com a ansiedade que o contexto da participação no programa envolvia (gravações, isolamento no hotel, viagens e exames de covid-19 rotineiros), Canalha não fez uma lista de canções para cantar até a final. Mas o jornalista tinha alguns músicos em mente para homenagear.

"Eu tenho umas 500 músicas nas pastas, que eu fui acumulando na minha vida. Eu canto bossa nova, Rita Lee, Marina, Gil, Caetano... Canto muita música internacional, rock, pop, samba, música meio brega... Eu queria muito cantar 'Your Song' [de Elton John], mas não pude, porque já tinham escolhido. Eu fiz 'Pro Dia Nascer Feliz' e gravei 'Crocodile Rock' [também de Elton John], mas depois me deu um branco.... Pensei: 'Pô, se eu passar, o que eu vou cantar na final?'"

"Eu conversei com o Torcuato Mariano [produtor musical do programa]. Uma das músicas que eu talvez topasse cantar seria 'Linha do Equador', do Djavan. Acho linda essa música. Mas também tem outras ligadas a mim, como 'Sultans of Swing'. Canto muito America e muita gente pediu 'Ventura Highway', que eu cantei no programa do Jô. Mas não tinha batido o martelo com nenhuma música. Pensei até em 'Ponto de Interrogação', do Gonzaguinha, que eu toco e acho muito legal", concluiu João.

Palhinha (breve) de "Linha do Equador" e "Ventura Highway"

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Eu, para falar a verdade, não me considero nada. Não me considero nem apresentador, nem entrevistador, nem comentarista, nem repórter, nem cantor, nem escritor, nem professor, nem violonista... Mas eu faço tudo isso. Eu não tenho nenhuma pretensão e acho que o que me ajuda muito é minha espontaneidade. Eu sou assim quando eu vou cantar, quando eu converso com meus amigos, quando eu vou jogar truco, quando eu vou apresentar um programa. Então eu acho que é isso que me ajuda muito."

João Carlos Albuquerque, o Canalha.

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Vida de João é praticamente uma trilha sonora

Música sempre esteve na vida de João. A primeira memória é dos cinco anos de idade, quando cantou "Lobo Bobo", de João Gilberto, aos amigos do pai em um sítio em Brotas. Aos 12, ganhou seu primeiro violão e não largou mais.

"Fiquei fascinado pela música quando tinha 11 anos. Morava em Pederneiras e ouvi dois caras de Jaú, em um clube, tocando Beatles, e o Caetano Veloso cantando Alegria Alegria num festival da Record. Descobri que o planeta era bem maior do que aquele meu mundinho do interior. Com 12 anos, pedi um violão de aniversário para o meu pai e comecei a tocar Roberto Carlos, tentar tirar Beatles? Ai começou."

Quem se acostumou a ver João somente na televisão, principalmente na ESPN, não imagina que ele cantou "na noite", em bares, por anos. "Quando o Lulu Santos explodiu, eu e meus amigos tínhamos uma banda em Brotas, nos anos 90 e nos anos 2000: a Banda do Moleque Doido. Tocamos de tudo, música internacional, samba, bossa nova..."

"A gente até viajava com o conjunto e chegamos a fazer Lulu Santos lá em Uberaba, no antigo Athos Pub. Voltando para São Paulo, o proprietário ligou para a gente propondo um cover do Lulu. Achamos loucura no início, mas, no fim, topamos: viajar em turma, com a banda... um programa delicioso", relembrou.

Relação com Rodrigo Rodrigues: verdadeira adoração

Eu canto sentado com o meu violão. No máximo, em bandas como a do Moleque Doido. Eu cantava em pé, com o microfone de pedestal e meu violão, que é uma espécie de muleta. Não tenho expressão de corpo, palco e nunca fiz nada a respeito disso. Então, entrar em um palco, na TV Globo, em pé e com microfone de mão, com o corpo sem violão, foi muito louco."

João Carlos Albuquerque

Reprodução/TV Globo

"Ganhei o prêmio The Voice Filhas"

João não chegou à final do "The Voice +", mas se considera vencedor de outro reality: o "The Voice Filhas". A participação no reality show da TV Globo trouxe aproximação maior com Rita e Caterina. A primogênita foi ao Rio de Janeiro para acompanhar o pai na competição e a mais nova foi para a casa dele, em São Paulo, para os intervalos das gravações.

"Na primeira vez que eu vim pra São Paulo, para trabalhar na ESPN, em 98, a Rita, minha primeira filha, ainda estava na barriga da mãe. Eram cinco meses de gravidez e já vim para cá. Após dois anos e meio na ESPN, indo para Brotas todos os finais de semana, não resisti e saí da emissora. Eu desisti. Ia para a Austrália, fazer a Olimpíada de Sidney em 2000, ficaria 50 dias fora. Aquilo tudo mexeu demais com a minha cabeça e acabei deixando tudo", relatou o apresentador.

"Em 2003, nasceu Caterina, a Nina, minha outra menina. Eu estava fora da televisão? Quando ela fez dois anos, voltei a trabalhar na ESPN. Então, eu acompanhei muito pouco o crescimento das minhas filhas. Meu contato com elas sempre foi bom, mas nunca foi alto astral, por causa dessa ausência. Eu as via nos finais de semana só."

"Nesses últimos dias, a Rita foi comigo para o Rio e a Nina ficava na torcida. Elas plantaram flores na minha casa, podaram trepadeiras no quintal, uma convivência muito boa, que a gente nunca tinha tido por longos períodos sabe? Nos aproximamos bastante. Sempre amei demais minhas filhas. Acho que ganhei o prêmio "The Voice Filhas'".

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