Era uma cena recorrente. Muitas vezes, Júlio Botelho acordava de madrugada ouvindo uma vaia que invadia o vestiário de sua memória. Então ele acordava com aquele som que encobria o hino nacional e acabava com a tranquilidade de seu sono.
Os pesadelos, e sua causa, estarão no documentário que sua neta, Beatriz, está fazendo. Deve ficar pronto somente no ano que vem e vai contar a trajetória de um dos mais brilhantes pontas-direitas de todos os tempos do futebol brasileiro. "Eu fiz o curso de cinema e sempre me interessei por documentários, por investigar as pessoas. Então, nada mais justo que contar a vida esportiva do meu próprio avô", explica. Beatriz tinha apenas três anos quando Julinho partiu, em 2003.
"Creio que o filme terá em torno de uma hora de duração, mas se dependesse do meu pai viraria uma série da Netflix", brinca Beatriz, referindo-se a Carlos Botelho, o quinto filho de Julinho, o caçula e também um entusiasta inigualável da carreira do ponta que fez sucesso no futebol mundial.
"Meu pai não se conformava de ter sido vaiado por quase cento e sessenta mil torcedores em pleno Maracanã, antes do jogo da seleção brasileira contra a Inglaterra, no dia 13 de maio de 1959", conta Carlos Botelho.
Aquela deve ter sido a maior vaia que um jogador brasileiro já levou na história do futebol.