"Ainda existem lugares em que as pessoas se incomodam com o sucesso das pessoas negras. É como se o negro estivesse ocupando um lugar que eles acham que não deveria ocupar. Mas o mundo está aí para todos, todos nós temos o direito de ir e vir onde quisermos.
Eu sofri racismo duas vezes na minha vida: o primeiro foi na China, e outro foi em Florianópolis, onde eu moro, no final do ano passado. Foi algo que também me deixou mal, eu fiquei sem chão mesmo sabendo que era possível acontecer. Lá em Florianópolis há negros, é claro, mas eu estou morando em Jurerê e naquela área são poucos negros; é bem difícil. Tem mais na época de temporada, no verão, quando todo o mundo viaja para lá para curtir a praia.
E lá tem uma casa de show, um lugar bacana, e o pessoal que organiza não tem nada a ver com o que aconteceu comigo. Mas eu estava com meu irmão e um primo, que também são negros, em um espaço. Eu fui sozinho ao banheiro e eles ficaram esperando.
Quando entrei no banheiro, um rapaz chegou em seguida e começou a dizer 'não adianta você falar que tem dinheiro, porque seu lugar não é aqui'. Não diretamente para mim, mas fingindo que estava falando sozinho. 'Você sabe que seu lugar não é aqui, só tem você desse jeito'. O cara não parecia estar alcoolizado e também não foi nada por eu jogar no Corinthians, porque ainda não estava aqui. Eu era só mais um cara.
Ele começou a dizer esse tipo de coisa, e as outras pessoas me pediam calma. Como eu nunca briguei em lugar nenhum na minha vida, eu não faria isso lá também. Quando ele agiu dessa forma e eu percebi, olhei para a cara dele. Ele olhou para mim sério, juntou as mãos e ficou falando 'o que você quiser; o que você quiser?' Ele estava querendo arrumar uma confusão comigo.
Graças a Deus eu tive tranquilidade suficiente para não fazer nada. Eu estava meio aéreo na hora, e quando contei para meu irmão e meu primo - que são um pouco mais bravos -, eles queriam ir pegar o cara. Mas eu não quis contar quem tinha sido, então continuamos no local como se nada tivesse acontecido e depois viemos embora em paz.
Eu levo meu trabalho muito a sério, então sei que tudo o que eu fizer ali fora vai refletir no futebol. Ninguém vai interpretar que eu sou um ser humano em uma briga de trânsito, ou uma discussão de condomínio. Ninguém interpreta que é o Junior. É sempre o Junior Urso do Corinthians. Então, penso sempre na minha carreira, que não tem manchas e quero manter assim até o fim. Sonhei muito com isso e não quero deixar que um momento assim, coisa de segundos, atrapalhe tudo o que eu construí desde pequeno."
Não é todo mundo que passa por uma situação triste como foi comigo e consegue respirar e ir embora. Não é certo ter violência, mas não vou julgar quem tiver outra atitude. Eu até entenderia porque é difícil controlar