Um adolescente de 1,68 metro, nascido em Ipatinga (MG), esboçou uma pequena revolução técnica no futebol na primeira década do século. Ao levantar a bola na altura da cabeça para a condução em meio a adversários, Kerlon criava um movimento disruptivo que raramente se vê na evolução do esporte mais popular do planeta. Era o "drible da foca".
A reação truculenta de adversários — que diga o ex-atleticano Coelho — e, principalmente, a série de lesões que marcou a carreira de Kerlon, abreviaram a vida do movimento que a revelação mineira, com a ajuda de seu pai, criou. O folclore do futebol, porém, nunca vai esquecer o que o atacante propunha com a bola na cabeça.
Kerlon chegou a ser tratado como o número 1 de uma geração promissora das seleções brasileiras de base. Era um grupo de talento, que tinha ainda Marcelo, lateral do Real Madrid, e Renato Augusto, volante da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2018 (e que hoje está de volta ao Corinthians), por exemplo. Agenciado pelo badalado Mino Raiola, empresário de craques como Ibrahimovic e Pogba, o mineiro foi levado à Europa cercado de expectativa. A sequência implacável de lesões e um certo deslumbramento, como admite o "Foquinha", comprometeram sua carreira.
Em entrevista ao UOL Esporte, Kerlon conta como criou o drible famoso na infância, com uma minuciosa estratégia desenvolvida pelo pai, e relembra que se sentia inibido de fazer o movimento nos treinos do Cruzeiro. Hoje, aos 33 anos e morando nos Estados Unidos, o atacante aposentado revela que sonha em ver o truque de volta nos campos, quem sabe através de seu filho. É o legado do "Foquinha".