Os ponteiros da antiga Estação do Norte, atual Estação do Brás, na zona central de São Paulo teimavam em não sair do lugar naquele 10 de abril de 1942. Uma multidão de 10 mil pessoas disputava qualquer centímetro livre na plataforma enquanto aguardava ansiosa pelas 20h. Era o horário marcado para a chegada do trem vindo do Rio de Janeiro que traria Leônidas da Silva.
O Diamante Negro desembarcaria em terras paulistanas para assinar contrato de dois anos com o São Paulo. O clube ainda dava seus primeiros passos e sonhava com um espaço na disputa entre os quase sempre campeões Corinthians e Palmeiras. Leônidas tinha a missão de encerrar um jejum de 11 anos desde a última conquista tricolor do Paulistão.
"É quase impossível descrever o que foi o desembarque do 'Diamante Negro' e, sem incorrermos em exageros, podemos afirmar que pela primeira vez na história do esporte nacional um elemento mereceu uma recepção tão festiva, tão empolgante e tão arrebatadora", publicou o jornal Folha da Manhã, no dia seguinte.
O abraço do torcedor contrastava com a desconfiança de parte da imprensa. Os 200 contos de réis pagos pelo São Paulo eram uma fortuna para a época. Leônidas estreou semanas depois e ganhou o apelido de "o bonde de 200 conto", uma expressão usada para dizer que o time tricolor havia se metido em uma furada.
A desconfiança tinha sua raiz em um passado recente. Leônidas teve fortes atritos com o Flamengo antes de ser vendido ao São Paulo. A forma física também não era das melhores. Já fazia quase um ano que ele não entrava em campo, desde que passou oito meses preso por falsificação do atestado de reservista. Seus 28 anos o faziam ser visto como velho para o futebol da época, e levantavam dúvidas.
O "bonde", entretanto, se mostrou um trem bala. Leônidas chegou para engrandecer o jovem São Paulo. Quando se aposentou, oito anos depois, o gigante tricolor estava consolidado.