"Saiu do hospício, tem que respeitar. Lisca Doido é Ceará"
O grito vinha a plenos pulmões de uma torcida enlouquecida que lotava as arquibancadas. No gramado imediatamente abaixo, uma figura balança os braços como quem rege o canto. É o técnico do time, Luiz Carlos de Lorenzi. Naquele dia, o Lisca Doido.
O treinador havia assumido o Ceará na décima rodada do Brasileirão, quando a equipe era lanterna sem nenhuma vitória no torneio. Lisca salvou o time do rebaixamento com direito a vitória sobre o Flamengo dentro do Maracanã.
O que ficou daquele trabalho foi muito mais a cena com a torcida do que o futebol praticado em campo. E isso incomoda Luiz Carlos de Lorenzi. "O Ceará tinha cinco pontos em 36 disputados. Paramos para a Copa do Mundo por 40 dias. Eu trabalhei em cima de uma metodologia nova, reformulação de plantel e, em 26 rodadas, o time saiu da 20ª colocação para a sétima, sem contar as doze primeiras. Segunda melhor defesa - éramos a pior. Isso foi pouco falado".
"O que ficou? A festa com a torcida, a integração, o grito, a música..."
Lisca confessou que já sentiu que o apelido Doido, que o tornou famoso além dos fãs dos times que treinou, já o atrapalhou durante a carreira. Para ele, o futebol é um meio preconceituoso. Não foram poucas as vezes que Lisca ouviu perguntas de diretores de clubes fora do contexto em cima de sua sanidade. "Me sinto subjugado"
A música pode dizer que ele saiu do hospício, mas o que Lisca quer, mesmo, é ser a cada dia mais técnico.