Para mim, sempre foi muito fácil entender quem eu era, o que eu era, enfim, o gênero com o qual eu me identificava. Eu sempre me senti assim, como um menino. Foi mais simples nesse sentido, porque eu nunca precisei me aceitar. Na verdade, o esporte que acabou me colocando nesse lugar do feminino e essa foi a parte mais difícil.
Eu sempre estive no meio esportivo, e a maioria das modalidades tem essa separação entre masculino e feminino. Esse foi um ponto-chave na minha vida, e fez com que eu não me assumisse antes. Me tornei profissional muito cedo, aos 12 anos, comecei como Caroline e sempre tive a aspiração de viver do tênis de mesa por um bom tempo.
Era um paradoxo, porque eu sabia o gênero com o qual me identificava. Era uma coisa que queria fazer na minha vida pessoal, mas, profissionalmente, eu achava que não podia, justamente por causa da divisão entre categorias de homens e mulheres.
Em meados de 2019, tudo mudou. Assisti a um vídeo na internet e passei a entender melhor sobre o tema. Aos poucos, percebi que era possível que as pessoas passassem a me tratar pelo nome que eu queria, no masculino, e, ao mesmo tempo, pudesse seguir jogando. Foi isso que eu fiz. Meu nome é Luca Kumahara, eu defendo a seleção brasileira, e sou o primeiro atleta transgênero no tênis de mesa.