Eu tinha três anos quando saí do orfanato. Não lembro de muita coisa. Só lembro da minha infância a partir dos oito anos. Eu ia para a escola sozinha, mas às vezes via a mãe da coleguinha por ali, e batia aquele sentimento. A gente sempre pensa em ter a nossa mãe.
A minha mãe me contou que meu pai batia muito na gente, ele chegava bêbado, batia nela... Eu sei por partes, mas não sei se é verdade. Dizem que ela decidiu colocar a gente em um orfanato para nos tirar daquele ambiente. A minha família fez o que podia fazer por mim e pelos meus irmãos: colocou na melhor escola, e onde a gente morava tinha pessoas boas.
Foi uma infância boa, mas triste.
Para quem foi abandonada, é bem difícil dar carinho. Hoje em dia, eu tenho contato com a minha mãe. Tento o máximo possível dar carinho para ela, mas é difícil. Não sei o que aconteceu ali, eu não tenho lembrança de nada. Então, não vou julgar.
Eu já perguntei para a minha mãe sobre o passado, perguntei por que eles fizeram isso. Mas ela não é muito ligada nessas coisas. Ela bebe, então ainda tem esses problemas. Eu também evito. O que eu tenho de fazer é tentar ajudá-la, dar um abraço, só isso. Não tento fazer mais nada, sabe? Eu não teria coragem de perguntar se ela sente orgulho de mim. Não tenho coragem.